A atmosfera turístico-festiva que marcou a passagem de Barack Obama pelo Brasil constrata com o cenário belicoso que se arma contra ele nos EUA.
Em notícia destacada na primeira página, o ‘The New York Times’, diário americano mais influente no mundo, esboçou o drama de Obama.
O texto anota que, ao autorizar a participação dos EUA na coalizão que bombardeia a Líbia, Obama tornou-se, ele próprio, alvo.
É atacado à direito e à esquerda. Dissemia-se a impressão de que tornou-se complicado para Obama manter o foco na crise econômica doméstica.
A notícia realça o esforço de Obama para injetar aparência de normalidade numa cena anormal. Ele tenta minimizar o papel dos EUA na Líbia.
No discurso feito no Rio, diz o texto, Obama citou apenas superfialmente a nova encrenca militar dos EUA no mundo muçulmano.
Congressistas republicanos, adversários de Obama, insinuam que ele demorou demais a agir em defesa dos rebeldes que se opõe ao ditador Muammar Gaddafi.
Pior: além de demorar, dizem os republicanos, Obama não explicou adequadamente os objetivos da ação milutar. Revelou-se um líder fraco. Em casa e no exterior.
O jornal reproduz declarações do senador republicano Lindsey Graham, da Carolina do Sul, à emissora de TV Fox.
Graham disse que não sabe o que levou Obama a autorizar a ação militar na Líbia. E declarou-se preocupado com o fato de os EUA ocuparem "o banco de trás", em vez de exercer o "papel de líder".
Integrantes do partido Democrata, ao qual Obama é filiado, saíram em defesa do presidente. Mas também expressaram preocupação.
Receiam que Obama pode ter extrapolado os limites de sua autoridade ao não submeter o bombardeio da Líbia à deliberação do Congresso.
Os ataques aéreos contra as forças de Gaddafi contrastam com a intenção da Casa Branca de reduzir a presença americana no Afeganistão.
Num instante em que o Oriente Médio arde, a investida na Líbia introduz no cenário dos EUA uma novidade de consequências imprevisíveis.
No terceiro ano de sua presidência, recorda o jornal, Obama insinuava a intenção de se concentrar na busca de soluções para desemprego e a crise econômica doméstica.
De olho na reeleição e à margem das manobras da oposição no Congresso, tenta reconquistar eleitorado independente e morderado.
O ataque à Líbia entra nessa equação como um complicador. Sobretudo porque Obama chegou à Casa Branca cavalgando um sentimento anti-belicista.
As pesquisas detectam o crescimento da aversão do americano à opção pelas armas. E Obama tornou-se administrador de três conflitos.
Dois herdados –Iraque e Afeganistão— e um terceiro, o da Líbia, recém-nascido sob seu comando.
Enquanto Obama cumpria sua agenda no Rio, última escala da passagem pelo Brasil, a Casa Branca esforçava-se para se contrapor às críticas.
O jornal reproduz parte do discurso pronunciado por Obama no Theatro Municipal do Rio.
Escreve que, em 20 minutos de fala, Obama celebrou os levantes que reivindicam democracia no norte da África e no Oriente Médio.
Destaca o trecho em que Obama disse que o futuro do mundo árabe será definido pelo seu povo.
Menciona o pedaço do discurso em que Obama declarou: embora não se saiba para onde os movimentos vão levar, não se deve temer a mudança.
O diabo é que a decisão de Obama de enfiar os EUA dentro da coalizão militar anti-Gaddafi contradiz o discurso que esgrime desde a campanha eleitoral.
Defendia a busca de soluções multilaterais para os conflitos. Ao avalizar o ataque, diz o jornal, Obama leva à berlinda sua própria doutrina.
Açula, de resto, os ânimos dos adversários liberais. A despeito das críticas, Obama mantém intacta a agenda que o mantém longe de Washington.
Nesta segunda (21), chega ao Chile. Depois, vai a El Salvador. E as bombas continuam caindo sob Gaddafi
Escrito por Josias de Souza.
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