Regresso ao lar - Álvaro de Campos
Há quanto tempo não escrevo um soneto
Mas não importa: escrevo este agora.
Sonetos são infância, e, nesta hora,
A minha infância é só um ponto preto,
Que num imóbil e fútil trajecto
Do comboio que sou me deita fora.
E o soneto é como alguém, que mora
Há dois dias em tudo que projecto.
Graças a Deus, ainda sei que há
Catorze linhas a cumprir iguais
Para a gente saber onde é que está…
Mas onde a gente está, ou eu, não sei…
Não quero saber mais de nada mais
E berdamerda para o que saberei.
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