quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O INCENDIO DE PASSINHO...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL...




               Eu nasci em maio de 1955...minha mãe no 

resguardo, recebe a visita de uma mãe que 

havia parido há alguns dias, o bebe no braço, 

e a irmã tomando conta da bolsa do enxoval 

da criança...na mesma semana, esta visita foi 

feita ao avô daquele bebe, que era dono de 

uma fábrica de fogos... nisso há uma explosão 

e a fábrica voa pelos ares... a senhora morreu 

na hora, a ajudante escapou, e o bebe foi 

jogado á metros e ficou espetado numa cerca 

de varas, porém ferido e vivo...mamãe 

escutou 

um grande estrondo e foi informada do 

sinistro, e relembrou da recente visita... o 

dono da fabrica, avo do bebe e sogro da 

falecida, foi torado ao meio e o tronco 

colocado num carro de trem, e morreu na 

viagem pra natal.


Mamãe, consternada, pediu para amamentar a 

criança e o fez... num peito eu mamava, no 

outro o Djair todo ferido... durante alguns 

meses, apontava na pele da criança, estilhaços 

de madeira e arame, que eram delicadamente 

puxados...

                DJAIR cresceu e brincou muito 

comigo, hoje é um senhor casado em Recife.


Nasci na fartura...inclusive de leite... mamãe 

amamentava os filhos e os filhos das amigas 

sem leite... tenho muitos irmãos de leite, 

como 

Djair. Dai, esta paixão profunda por tudo, 

este 

desprendimento, este amor a solidariedade... 

este sentimento interior e solitário de não se 

ser nada... A grandeza está na ação, nos 

gestos, e em que a gente tornou a nossa vida... 

há dois anos, fui ao Guinza com salete, a 

mocinha que escapou, que era irmã da que 

morreu e tia do menino... entre uma taça e 

outra de vinho, ela relembrou todos os 

detalhes, e falou que a explosão começou no 

exato momento, em que ela pôs a sombrinha 

num local.


O que causava admiração á época, era como 

seu passinho, somente com o tronco, ainda 

passou umas horas vivo, dizendo que tratasse 

dos outros ,que ele estava bem.


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