domingo, 11 de agosto de 2013

DE QUANDO UM RECÉM NASCIDO SEGURA O DEDO DO PAI, E O TORNA SEU PRISIONEIRO PRO RESTO DA VIDA...

Foto: Quando um recém-nascido segura o dedo do pai, o torna prisioneiro pro resto da vida.                   
          (Bernardo Celestino Pimentel)


“Se por um instante Deus se esquecesse que sou uma marionete de pano e me presenteasse com um pouco de vida, possivelmente eu não diria tudo o que eu penso, mas certamente pensaria em tudo que digo. Daría mais valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo o que elas significam. Dormiría pouco, sonharia mais, entendendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaría quando os demais se detêm, despertaria quando os demais adormecem. Escutaria quando os demais falam, e como desfrutaria um bom sorvete de chocolate. Se Deus me obsequiasse com um pouco de vida, me vestiria de forma simples, me atiraria de bruços ao sol, desnudando não apenas meu corpo, mas toda a minha alma. Meu Deus, se eu tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre o gelo e esperaria que saisse o sol. Pintaria sobre as estrela, como um sonho de Van Gogh, um poema de Benedetti, e uma canção de Serrat. Seria a serenata que eu ofereceria à lua. Regaria com minhas lágrimas as rosas, para sentir a dor de seus espinhos e o beijo vermelho de suas pétalas. Meu Deus, se eu tivesse um pouco de vida não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas que quero, que as quero. Convenceria a cada mulher ou homem que eles são meus favoritos e viveria apaixonado pelo amor. Aos homens lhes provaria o quanto estão equivocados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se apaixonar. A um menino lhe daria asas, mas deixaria que ele mesmo aprendesse a voar. Aos velhos lhes ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas sim com o esquecimento. Tantas coisas aprendi com vocês, os homens... Aprendi que todo mundo quer viver no topo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa. Aprendi que quando um recém nascido aperta com seu pequeno punho, pela primeira vez, o dedo de seu pai, o tem preso para o resto da vida. Aprendi que um homem só tem o direito de olhar a um outro abaixo, quando precisa ajudá-lo a levantar-se. São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas que pouco me servirão porque, quando me guardarem dentro dessa maleta, infelizmente, estarei morrendo. Sempre diz o que sentes e faz o que pensas. Se eu soubesse que hoje fosse a última vez que iria te ver dormir, te abraçaria fortemente e rezaria ao Senhor para poder ser o guardião de tua alma. Se eu soubesse que esta seria a última vez que te veria sair pela porta, te daria um abraço, um beijo e te chamaria de novo para dar-te mais. Se eu soubesse que estes são os últimos minutos que te vejo, diría ”te amo”, e não assumiria, tolamente, que tu já sabias. Sempre tem um amanhã, e a vida nos dá sempre outra oportunidade para fazer as coisas bem. Mas se eu estiver enganado, e o dia de hoje for tudo o que nos resta, gostaria de dizer-te o quanto te quero, que nunca te esquecerei. O amanhã não está garantido para ninguém, jovem ou velho. Hoje pode ser a última vez que verás aos que tu amas. Por isso, não esperes mais, faz agora, e se o amanhã nunca chegar, seguramente lamentarás o dia que não tiveste tempo para um sorriso, um abraço, um beijo, e que estiveste muito ocupado para lhes conceder um último desejo. Mantém aos que tu amas perto de ti, diz-lhes no ouvido o tanto que os necessitas, queira-os e trata-os bem, arranja tempo para dizer-lhes “sinto muito”, “perdoa-me”, “por favor”, “obrigado” e todas as palavras de amor que conheces. Ninguém se lembrará de ti pelos teus pensamentos secretos. Pede ao Senhor força e abedoria para poder expressá-los. Demonstra a teus amigos o quanto eles são importantes para ti”
Gabriel Garcia Marques

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