quinta-feira, 30 de julho de 2015

A POESIA DE ANNA LIMA PIMENTEL...

AUSENTE – Anna Lima
A’s boas amigas do Açù
Saudades brancas, em flores,
Cheias de pallido enleio,
Eu tenho nas minhas dores,
Eu sinto-as dentro em meu seio.
São rosas e eu sei que as rosas,
D’alvas corollas arminhos,
Têm sobre as folhas cheirosas
Uma grinalda de espinhos.
Não importa que o meu canto
Queira ao longe se evolar…
Eu tenho um doce recanto
Para esconde-lo e guardar.
De uma amiga tenho o seio,
O regaço de uma irmã,
Tenho da lyra o gorjeio,
Tenho os cantos da manhã.
Longe do berço querido,
Onde a luz primeira eu vi,
Do meu lar estremecido,
Minha mãe, longe de ti…
Eu tenho a alma envolvida,
Nas roupagens da saudade,
Qual açucena querida
Nos beijos mornos da tarde.
Consulto a crença adorada
Que sonhei quando menina…
A crença é muda e gelada
E a minha dôr não termina.
Mas Ah! da esperança o lyrio
Volta mais tarde e murmura:
– Nem sempre é longo o martyrio,
As maguas e as desventuras.
Natal – 1899

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