Carlos Nejar
Nejar nasceu em Porto Alegre em 1939. É poeta, tradutor e crítico literário. Membro da Academia Brasileira de Letras – ABL e da Academia Brasileira de Filosofia.
Sua poesia distingue-se pela riqueza vocabular. E pelo uso de aliterações que dão musicalidade a seus versos.
Fechemos a semana com Nejar em Contra a Esperança:
“É preciso esperar contra a esperança.
Esperar, amar, criar
contra a esperança
e depois desesperar a esperança
mas esperar,
enquanto um fio de água, um remo,
peixes
existem e sobrevivem
no meio dos litígios;
enquanto bater a máquina de coser
e o dia dali sair
como um colete novo.
Esperar, amar, criar
contra a esperança
e depois desesperar a esperança
mas esperar,
enquanto um fio de água, um remo,
peixes
existem e sobrevivem
no meio dos litígios;
enquanto bater a máquina de coser
e o dia dali sair
como um colete novo.
É preciso esperar
por um pouco de vento,
um toque de manhãs.
E não se espera muito.
Só um curto-circuito
na lembrança. Os cabelos,
ninhos de andorinhas
e chuvas. A esperança,
cachorro
a correr sobre o campo
e uma pequena lebre
que a noite em vão esconde.
por um pouco de vento,
um toque de manhãs.
E não se espera muito.
Só um curto-circuito
na lembrança. Os cabelos,
ninhos de andorinhas
e chuvas. A esperança,
cachorro
a correr sobre o campo
e uma pequena lebre
que a noite em vão esconde.
O universo é um telhado
com sua calha tão baixo
e as estrelas, enxame
de abelhas na ponta.
com sua calha tão baixo
e as estrelas, enxame
de abelhas na ponta.
É preciso esperar contra a esperança
e ser a mão pousada
no leme de sua lança.
e ser a mão pousada
no leme de sua lança.
E o peito da esperança
é não chegar;
seu rosto é sempre mais.
É preciso desesperar
a esperança
como um balde no mar.
é não chegar;
seu rosto é sempre mais.
É preciso desesperar
a esperança
como um balde no mar.
Um balde a mais
na esperança.
na esperança.
Um balde a mais
contra a esperança
e sobre nós.”
contra a esperança
e sobre nós.”
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