quarta-feira, 29 de julho de 2015

POETAS DO BRASIL: FERREIRA GULLAR

– Ferreira Gullar
ferreira-gullar
O poeta Ferreira Gullar nasceu em São Luís, Maranhão, em 1930. Foi morar no Rio em 1951. Lá, publicou o poema Luta Corporal, aproximando-se dos poetas concretistas, Décio Pignatari e Haroldo de Campos.
Nos anos 60, Gullar engajou-se politicamente e dedicou-se a temas sociais. Filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro. Viveu o exílio, entre 1971 e 1977, na Rússia, Chile e Argentina.
Recebeu o prêmio literário Jabuti em 2007 e o premio Camões em 2010.
Fechemos a semana com o poema Sem Vagas.
“O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerilha seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”.
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço.
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.”




Traduzir-se

UM POEMA DE FERREIRA GULLAR....Fagner
  


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -

será arte?

Um comentário: