domingo, 12 de julho de 2015

A VIDA COMO ELA É...



Serjão Pinheiro compartilhou a foto de Spotted UFRN 2.0.
Estava na UFRN quando fui abordado por um garoto. Seu nome é Emanuel. Me pediu um trocado para comer pois já estava cansado de distribuir tanto papel nos ônibus pedindo dinheiro e estava "passeando" pelo Campus já pela décima vez, segundo ele. Aparentando seus 13 pra 14 anos, convidei Emanuel para me acompanhar pelo Campus. Ele topou e fomos comer algo.
Fiz algumas perguntas sobre onde estavam seus pais e o que eles faziam da vida. Um pouco tímido, disse que a mãe está atrás de emprego e enquanto ela não encontra, ele tenta ajudar em casa como pode. Ao perguntar se estudava, ele me disse que parou no quinto ano e não tem muito tempo para ir à aula. Disse que gostava "daquela matéria que fala dos países". Perguntei se ele pensava em estudar para entrar numa universidade. Sua resposta foi pesada pra mim. Me disse que não sabia o que era isso mas já tinha ouvido falar esse nome. Fiquei sem muito o que dizer.
Tentei explicar de um jeito legal que ele estava dentro de uma. Que na universidade a gente estuda ainda mais e que é de lá de dentro que sai o médico, o advogado e até o professor que dá aula sobre os países. Logo ele se interessou pela conversa e abriu um sorriso. "Moço, e como faz pra estudar aqui?", me perguntou com um ar de ânimo e curiosidade. Respirei fundo e tentei explicar de uma forma bem simples.
Demos um rolé de Circular e fui mostrando os prédios e explicando as várias profissões que se poderia aprender numa Universidade. Expliquei mais da minha área, que faço engenharia, e tentei falar da matemática. Ele é muito bom em contas mas disse que gosta mesmo é de saber de geografia. Falou pra mim das serras do interior, falou da diferença entre zona norte e zona sul, enfim, me deu uma aula bem didática.
Aos poucos ele foi me contando da sua vida, bem simples e batalhadora. Falou dos seus pais, do bairro que morava e das dificuldades de sair na rua todos os dias pra arrumar alguma coisa pra dentro de casa. Na idade dele eu tava brincando na rua e vendo desenho. Me bateu uma angústia ao pensar nisso. Sabe aquela sensação de impotência? De não poder fazer nada por alguém assim? Eu só queria chorar sem que ele me visse.
É complicado lidar com situações assim. Quantos mais como Emanuel existem em Natal? No estado? No país? Às vezes a gente se preocupa tanto com problemas bobos e corriqueiros que deixamos de lado a dificuldade que alguém na situação dele passa.
Me despedi dele no Via Direta e fui embora. Ele disse que ia voltar para os ônibus até anoitecer, pois nas noites tem mais movimento. O coração ainda aperta só de me lembrar. Só queria ter capacidade de ajudar ainda mais ou que alguém olhasse para crianças nessa situação.
Espero muito, no futuro, poder assistir uma aula com o Prof. Emanuel.

Nenhum comentário:

Postar um comentário