terça-feira, 18 de setembro de 2012

ZÉ LIMEIRA...O POETA DO ABSURDO.



Quem vem lá é Zé Limeira,
Cantô de força vulcânica,
Prodologicadamente
Cantô sem nenhuma pânica,
Só não pode apreciá-lo
Pessoa semvergonhânica.
*
Meu nome é José Limeira,
Cantô que não é pilhérico,
Mais já sofreu d’alguns males,
Foi atacado de histérico,
Chame logo a junta médica,
Faça o exame cadavérico.
*
Esse é Lourisvá Batista,
Que é Batista Lourisvá,
É filho da cobra preta,
Neto da cobra corá,
Tanto faz daqui pra ali ,
Como dali pra acolá
*
Às tantas da madrugada,
O vaqueiro do Prefeito
Corre alegre e satisfeito
Atrás da vaca deitada,
Deitada e bem apojada
Com a rabada pelo chão…
A desgraça de Sansão
Foi trair Pedro Primeiro…
O aboio do vaqueiro
Nas quebradas do Sertão
*
Frei Henrique de Coimbra,
Sacerdote sem preguiça,
Rezou a Primeira Missa
Na beira duma cacimba.
Um índio passou-lhe a pimba,
Ele não quis aceitá
E agora veve a berrá
Detrás dum pau de jureme…
O bom pescador não teme
As profundezas do mar
Frei Henrique descansou
Nas encosta da Bahia,
Depois fez a travissia
Pra chegá onde chegou,
Pegou a índia, champrou,
Ela não pôde falá,
Assou carne de jabá,
Misturou com queroseme…
O bom pescador não teme
As profundezas do má
A noite vinha saindo
Pru dentro da ventania,
Vi o rastro da cutia
Na minha rede dormindo,
A tremela foi caindo,
Gritei pelo meu ganzá,
Anum preto, anumará,
Só gosto de nega feme…
O bom pescador não teme
As profundezas do má
*
Minha mãe era católica
E meu pai era católico,
Ele romano apostólico,
Ela romana apostólica,
Tivero um dia uma cólica
Que chamam dor de barriga,
Vomitaro uma lumbriga
Do tamanho dum farol,
Tomaro Capivarol,
Diz a tradição antiga
*
Minha avó, mãe de meu pai,
Veia feme sertaneja,
Cantou no coro da Igreja,
O Major Dutra não cai,
Na beira do Paraguai
Vovó pegou uma briga,
Trouve mamãe na barriga,
Eu vim dentro da laringe,
Quage me dava uma impinge,
Diz a tradição antiga
*
Não sei onde fica esse tá de oceano,
Nem sei que pagode vem sê esse má…
Eu sei onde fica Teixeira e Tauá,
Que tem meus moleques vestido de pano…
A minha patroa é quem traça meus prano,
Cem culha de milho inda quero prantá,
Farinha, lugume, feijão e jabá,
Com mói de pimenta daquela bem braba,
Valei-me São Pedro, Limeira se acaba,
Cantando galope na beira do má.
*
O navi navega só
Como a muié nos espeio
Pru dentro do mar vermeio
Que sai lá no Moxotó
O poeta vive só.
A lua tem mais calô,
O jardim logo murchô,
Quage morri da patada…
Nos olhos da minha amada
Brilham estrelas de amor
*
Peço licença aos prugilos
Dos Quelés da juvenia
Dos tofus dos audiacos
Da Baixa da silencia
Do Genuino da Bribria
Do grau da grodofobia
*
Eu sou corisco pastando
No vergel da vantania
Oceano disdobrado
No véu da pilogamia
No dia trinta de maio
Pelei trinta papagaio
Santo Deus, Ave-Maria.
*
Heleno, que bicho é esse
Que tem fala de homem macho?
Parece um tatu quadrado
Cum cinturão no espinacho
É uma coisa tão pouca
Mas ninguém sabe se a boca
Fala pro riba ou pro baixo
*
Lá na Serra do Teixeira
Nasci, sendo bem criado
Na Alemanha os japonês
Já sabe lê um bucado
Conheço esse mundo inteiro
Fica tudo no estrangeiro
Do Teixeira do outro lado
*
Eu me chamo Zé Limeira
Cantadô que tem ciúme
Brisa que sopra da serra
Fera que chega do cume
Brigada só de peixeira
Mijo de moça sorteira
Faca de primeiro gume
*
Os Hemisférios do prado
As palaganas do mundo
Os prugis da Galiléla
Quelés do meditabundo
Filosomia Regente
Deus primeiro sem segundo
*
Canto repente no Norte
Arranco feijão no Sul
Toco fogo no paul
Não tenho medo da morte
Uma mulata bem forte
Uma novilha parida
Uma sala bem comprida
Um cangote, duas perna
Poço, cacimba e cisterna
Tenho saudade da vida
*
Viajou Nossa Senhora
Naquele passado dia,
Perto duma travissia
Descansou sem ter demora.
Cortou de pau uma tora
Debruçada sobre o vento.
Ali, naquele momento,
São José sartou do jegue,
Jesus passou-lhe um esbregue.
Diz o Novo Testamento.
*
Gritou Dom Pedro Primeiro
No tempo da monarquia:
Jesus, filho de Maria.
Trovão do mês de janeiro,
São Pedro sendo o porteiro
Da capela de Belém.
Thomé comendo xerém
Com sarapaté de figo.
Se eu não me casar contigo.
Não caso com mais ninguém.

Um comentário:

  1. Minha homenagem ao grande Zé Limeira:

    Foi num porto da Bahia
    Que Dom João chegou bem cedo
    Dava pra contar no dedo
    A bagagem que trazia
    Uma dúzia de bacia
    Dois fardos de algodão
    Gasolina de avião
    Do café trouxe a semente
    Duas bíblias uma de crente
    Outra do rei Salomão

    Cristo enforcou Jesus
    Na beira do rio Jordão
    Na noite de São João
    Num galho de cipó-cruz
    Comeu pirão com cuzcuz
    No meio da cabroeira
    Na noite de sexta-feira
    Cantou prosa e rezou missa
    José e Maria castiça
    Diria assim Zé Limeira

    No tempo da ditadura
    Eu rezei pro pai eterno
    Fez sol mas deu bom inverno
    Plantei fava e rapadura
    Veja só que formosura
    A “muié” de Barbosinha
    Se ela tivesse sozinha
    E o cachorro amarrado
    Eu levava ela prum lado
    E uma cuia de farinha

    O pai da aviação
    Por nome Drumon Andrade
    Sem dó e nem piedade
    Se atracou com Lampião
    Na bainha um facão
    Na matula um castiçal
    Gritou pra São Nicolau
    Acuda-me nessa hora
    Disse isso e foi-se embora
    Deixando um cartão postal

    Por causa da Ditadura
    O Brasil foi descoberto
    Um navio chegou perto
    Da curva da ferradura
    Dom Pedro fez a leitura
    Na borda da ribanceira
    Cabral trouxe uma cadeira
    Sem dó e sem ter clemência
    Proclamou a independência
    Diria assim Zé Limeira

    No dia em que eu falecer
    Peço pro povo velante
    A noite toquem um berrante
    Botem pinga pra beber
    Espero comparecer
    Virgulino Lampião
    Patativa e Gonzagão
    O dono da Coca-Cola
    Mais Pelé o Rei da bola
    E o pai da aviação

    (Zé Roberto)

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