quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A POESIA DO POVO...


Lourival Pereira cantando com Expedito Sobrinho
Lourival Pereira

Eu cheguei um dia na beira do cais
Admirei muito o seu movimento
Navios fazendo descarregamentos
Pacotes maneiros, pesos desiguais
De dez toneladas, de vinte e de mais
E a um marinheiro peguei perguntar
De onde é que vem pra descarregar
Ele disse: da Bélgica, Egito e Hungria
Da Síria, da Pérsia, da Angola e Turquia
Trazendo isso tudo pra beira do mar
Expedito Sobrinho
Perguntei o nome da mercadoria
Ele disse aqui a gente traz de tudo
Mostarda estrangeira que o grão é miúdo
Petróleo, amianto e tapeçaria
Pedras preciosas que o povo aprecia
Brilhante ametista pra fazer colar
Ouro português pra quem quer comprar
Pedra opala e amazonita
Berilo, ouro branco, prata e tantalita
Pra fazer negócio na beira do mar
* * *
Anastácio Mendes Dantas cantando oito pés a quadrão com Zé Limeira
Anastácio  Mendes Dantas
Eu sou um cantador novo
Que agrada bem ao povo.
Com saudades me comovo,
Sinto mesmo uma aflição.
A flor que rola no chão
Deixa o aroma somente,
Na hora do sol poente,
Lá vão meus oito a quadrão.
Zé Limeira
Tu sois protestante e crente,
Água, riacho e vertente,
Quando a chuva desce quente
Enrolada num trovão,
Se alarma todo sertão,
Cururu desce nos eito,
Eu vou falá com o prefeito
No oito pés a quadrão.

Anastácio Mendes Dantas
A natureza é incrível,
Faz a terra no seu nível
Girar de modo impossível
Causando admiração…
O relâmpago, o trovão,
Arquivam-se pelo espaço,
Ligados pelo mormaço,
La vão meus oito a quadrão.
Zé Limeira
Sou um nego do cangaço,
Brigo de perna e de braço,
Com a ingrizia que eu faço
Assombro qualquer cristão…
Eu vou cantá no Japão
Lá dos Estados Unidos,
Dá quarenta e três gemidos
Nos oito pés a quadrão.
* * *
Antônio Patativa cantando com José Francisco sobre o mote:
Tome, prove, beba, ingula,
Desaroie, destampe e tape.
 
José Francisco
Antônio tu há de errá
Vamos na reta carreira.
Na regra de bebedeira
Tu tens de atrapaiá.
Já cantei em Maranguape.
Quem dá o traço é o lapi.
Negro no relho é quem pula,
Tome, prove, beba, ingula.
Desaroie, destampe e tape.

Antônio Patativa
Zé Francisco eu também digo
Nasci para ser poeta.
Minha palavra é bem reta,
Todo homem é meu amigo.
Eu entro em todo perigo.
Embora que não escape.
Mas eu bebo “acarape”.
Comigo você não bula.
Tome, prove, beba, ingula,
Desaroie, destampe e tape.
* * *
Manuel Feitosa cantando com João Messias
Manuel Feitosa

Meu nome é Manuel Feitosa
De Itaporanga sou filho,
No verso e também na prosa
Sou que nem vapor no trilho:
Zangado eu descarrilho
Galopo rapidamente
Corro de traz prá diante
Rimo de diante prá traz
Sou qui nem roda valente
Começo e não findo mais.
João Messias
Sou o rei das cantorias
Como eu outro não há
Eu me chamo João Messias
Sou filho de Propriá
Nas armas sou bom guerreiro
Triunfo pela razão,
Açoito como tufão
Brigo como cavalheiro
Percorri todo o sertão
Durante o mês de janeiro.
* * *
Zequinha Rangel cantando com Fernando Emídio sobre a vida do Beato Binu
Fernando Emídio
Como é que vive Binu
Aqui nessa região
Com sua pele encardida
Em cada pé um rachão
O nome de Deus na boca
Com uma imagem na mão
Zequinha Rangel
Faz a sua romaria
Rezando em nome da fé
Com um rosário no pescoço
E batina cobrindo o pé
Quem vê pensa que é vigário
Mas Deus sabe que não é
Fernando Emídio
Não pede mais aguardente
Pra não perder sua fé
Não vive de porta em porta
Mas só come se lhe der
Não gosta de travesti
Nem é chegado a mulher
Zequinha Rangel
Um ser humano que a vida
Lhe obrigou ser andarilho
Ficou sem pai, matou a mãe
Não se casou nem tem filho
Mas nem por isso
Sua vida perdeu o brilho
Fernando Emídio
Seu rosto ficou tristonho
Seu semblante está estranho
Não lava nem a batina
Não gosta de tomar banho
É pequeno mas a fé
Só Deus conhece o tamanho
Zequinha Rangel
Implorando a salvação
Vive ele todo dia
Beija os pés do Sr. Morto
Se ajoelha próximo à pia
Nem se salva de uma vez
Nem finda sua agonia
Fernando Emídio
Na caminhada diária
Binu, coitado não falha
Até a roupa que usa
Cinzenta da cor de palha
Quem vê de longe não sabe
Se é batina ou se é mortalha
Zequinha Rangel
Na igreja ele atrapalha
Alguns católicos romanos
Do passado não se lembra
Pro futuro não faz planos
Nessa sua peregrinação
Vem uns vinte e cinco anos
Fernando Emídio
Não vive de aventura
Nem corre atrás de troféu
Vive sujo maltrajado
Pé descalço sem chapéu
Uma mão prendendo a santa
A outra erguida pro céu
Zequinha Rangel
Binu diz que vê até
Jesus nas nuvens presente
Um diz que ele é santo
Outro diz que é inocente
Já eu acho que ele é
Pecador igual a gente.

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