quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

CHUVA DE REPENTES...


Admiro o caju e a castanha
Nascem os dois pendurados num só cacho
Bem unidos, um em cima, o outro embaixo,
Porém tendo um do outro a forma estranha,
Dela extrai-se o azeite, o sumo, a banha,
Dele o suco pra o vinho e pra o licor,
Quando ambos maduros mudam a cor,
Ele fica amarelo e ela escura,
Mas o gosto dos dois não se mistura,
Quanto é grande o poder do criador!
* * *
José Lucas de Barros, quando da morte do poeta Chico Motta, glosando o mote:
A viola, em silêncio, está chorando,
Com saudade da voz do violeiro.
Chico Motta viveu de cantoria,
Imitando as graúnas sertanejas,
Nos ardores de inúmeras pelejas
Que aprendeu a enfrentar com galhardia;
Seu programa, nem bem raiava o dia,
Acordava o sertão alvissareiro,
Mas, depois do seu verso derradeiro,
Que inda está, nas quebradas, ecoando,
A viola, em silêncio, está chorando,
Com saudade da voz do violeiro.
* * *

Zé de Cazuza glosando o mote:
Diante da providência
A ciência é mentirosa.
Vê-se as flores naturais,
Perfumando o ambiente,
Parecendo indiferente,
Doutras artificiais,
Umas cheirando demais,
E outras sem ser cheirosas,
Quando o homem faz as rosas
Fica faltando a essência,
Diante da providência
A ciência é mentirosa.
* * *
Geraldo Amâncio glosando o mote:
A seca pintou de preto
As cores do meu Sertão
Um sertanejo não quer
Secar as tripas e os ossos
Pra viajar vende os troços
Cadeira, prato e colher
Chorando abraça a mulher
Dizendo não chore não
Quando acabar sequidão
Volto correndo eu prometo
A seca pintou de preto
As cores do meu Sertão.
* * *
Paulo Barja glosando o mote:
A seca d´alma é tão dura
Quanto a seca do sertão.
No galope cavalgamos
criando nossa poesia
porém, nesse dia-a-dia
é nossa dor que cantamos;
muitas vezes trabalhamos
sem ganhar nenhum tostão,
enquanto muito ladrão
aumenta a própria fartura
- A seca d´alma é tão dura
Quanto a seca do sertão.
O transporte anda pra trás,
teatro é abandonado
e o Banhado é vitimado
por crimes ambientais.
Já ninguém aguenta mais:
vão aprovar a extração
de areia em votação
no meio da noite escura?
- A seca d´alma é tão dura
Quanto a seca do sertão.
Não dá pra aceitar de novo
essa velha ladainha:
distribuem a farinha
mas privatizam o ovo!
Há quem se lembre do povo
só na hora da eleição,
mas nossa reclamação
tanto bate até que fura:
- A seca d´alma é tão dura
Quanto a seca do sertão.

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