Tablados
Chico Buarque
Na minha lembrança a moça arrebatava o chão
Do meu coração, tablado solto no sem-fim
Sim, roçava a franja nos desejos do salão
Não pintava a boca só pra mim
Lembro da encarnada moça na iluminação
Encarnada num tablado de encarnado igual
A boca pintada de sangrado coração
Sendo a rosa e o fogo, o bem e o mal
Pra sempre minha onde seu corpo for
Descansar, distrair
Para sempre moça quando o meu amor
Precisar e pedir
Na minha cabeça, moça, a íntima sessão
Sem saia encarnada, nada, num passado assim
Mal iluminado, sua própria encarnação ,fundos da memória,camarim...
Fundos de memória, camarim
Tango de Nancy
Chico Buarque
Se o amor me consumiu até a espinha
Dos meus beijos que falar
Dos desejos de queimar
E dos beijos que apagaram os desejos que eu tinha
Quem sou eu para falar de amor
Se de tanto me entregar nunca fui minha
O amor jamais foi meu
O amor me conheceu
Se esfregou na minha vida
E me deixou assim
Homens, eu nem fiz a soma
De quantos rolaram no meu camarim
Bocas chegavam a Roma passando por mim
Ela de braços abertos
Fazendo promessas
Meus deuses, enfim!
Eles gozando depressa
E cheirando a gim
Eles querendo na hora
Por dentro, por fora
Por cima e por trás
Juro por Deus, de pés juntos
Que nunca mais
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