domingo, 22 de agosto de 2010

VERSOS DO POVO...

José Lucas de Barros glosando o mote:

Afinei pela prima da viola
O poema que fiz pra minha prima.

Adocei a toada sertaneja,
Imitando a ternura dos gorjeios;
Busquei longe a alegria dos recreios
Embalados na terra benfazeja;
Com as bênçãos do Deus de minha igreja,
Recebi lá do céu a melhor rima
E, com todos os brios da auto-estima
De um canário liberto da gaiola,
Afinei pela prima da viola
O poema que fiz pra minha prima.

* * *

Sebastião Dias e Raimundo Caetano glosando o mote:

Todo dia eu medito com saudade
Minha infância vivida no sertão.

Sebastião Dias

Hoje eu posso dizer que eu sou feliz,
todo dia eu me lembro, quando acordo,
do sertão que vivi e eu recordo,
o jumento, a cangalha e os barris,
uma canga, a correia e seus canzis,
quatro deles prendendo o barbatão,
o azeite oleando o meu cocão,
eis os números da minha identidade.
Todo dia eu medito com saudade
minha infância vivida no sertão.

Raimundo Caetano

Não me esqueço da árdua trajetória,
todo dia saindo pra o trabalho,
com a roupa molhada de orvalho,
com a mão estirada à palmatória,
esse é um pedaço da história,
que eu não posso prender na minha mão,
mas se eu for remexer meu coração,
inda dá pra salvar mais da metade
Todo dia eu medito com saudade
minha infância vivida no sertão.

* * *

Hélio Pedro glosando o mote:

Mesmo sendo cabra macho
Lampião quis fazer renda.

Já tentei mas eu não acho
razão pra justificar
pra um homem desmunhecar,
mesmo sendo cabra macho.
Eu lutei, mas não encaixo,
a menos que seja lenda,
ou o fato então se prenda
a alguma brincadeira.
junto co´a mulher rendeira
Lampião quis fazer renda.


* * *

Geraldo Amâncio glosando o mote:

Sou casado e vivo bem,
mas gosto dum pé quebrado

Ramalho me disse agora,
o namoro não me atrasa
que eu tenho mulher em casa,
mas não esqueço a de fora
só é feliz quem namora;
quem me chama amancebado
aí fico revoltado,
igual a Saddam Russein
Sou casado e vivo bem,
mas gosto dum pé quebrado

Apesar de ser marido,
mas gosto da namorada,
que é por mim apaixonada
nosso amor é escondido
tudo tem acontecido
eu permaneço calado
tenho segredo guardado
ela não conta a ninguém
Sou casado e vivo bem,
mas gosto dum pé quebrado

Ela tem sido fiel
cumprindo as juras na hora,
eu lhe espero sem demora,
que ela cumpre o seu papel,
tanto faz ser num bordel
como já tenho esperado,
lá na sua ou no mercado
quando eu espero, ela vem
Sou casado e vivo bem,
mas gosto dum pé quebrado

Eu tenho a paixão febril
pode falar se quiseres
não tem quem conte as mulheres
que sobram nesse Brasil
o Salomão tinha mil
naquele tempo passado
ele era um Rei folgado
se eu pudesse tinha cem
Sou casado e vivo bem,
mas gosto dum pé quebrado

* * *

Hugo Araujo glosando o mote:

Durmo com o rosto colado
Naquele retrato dela

A danada era bonita
Parecia uma flor
Lhe ofereci meu amor
Ela fez pouco de mim
Eu agora estou assim
Debruçado na janela
Só vivo pensando nela
Sonhando com o rebolado
Durmo com o rosto colado
Naquele retrato dela.

* * *

Carlos Magnata Cordeiro glosando o mote:

Tentar já vale a metade
Do troféu que vem no fim.

Água, terra, mão e tempo
Cana de açúcar, garapa
Bãe de rio, nêga chulapa
Rede, cafuné de vento.
Só depois vem o momento
Da doçura do alfenim.
Duvido quem ache ruim…
Mas bom mesmo é a saudade!
Tentar já vale a metade
Do troféu que vem no fim.

* * *

UM FOLHETO DE JOSÉ DE SOUZA DANTAS

Desafio de José de Souza Dantas e Virgolino

Dantas

Virgolino me convida
para o grande Desafio,
querendo mostrar seu brio
durante toda investida;
quem inicia a partida
está disposto a lutar,
mas comigo vai topar
uma parada ferrenha,
por mais arte que ele tenha
não chega a me superar.

O seu nome é Virgolino,
Mas não é o Lampião ,
cangaceiro, valentão,
chefe de bando assassino,
que no sertão nordestino
enfrentou muito combate;
mas Virgolino é um vate
que provoca um Desafio,
e esse seu poderio
no verso não me abate.

Foi logo me escolhendo
para enfrentar essa briga,
disse que não tem fadiga,
é um lutador tremendo;
todo mundo está torcendo
por essa competição
e assistir à atração
no decorrer da porfia,
vendo quem mais digladia
para ser um campeão.

Virgolino é professor,
um poeta de destaque,
no verso fez um ataque
como desafiador,
eu lhe enfrento sem temor,
sabendo que é valente,
mas não passa em minha frente,
no duelo eu lhe domino
provando pra Virgolino
que não vence o meu Repente.

Virgolino

Como eu já esperava
Dantas veio ao desafio,
eu escapei por um fio,
quase me atrapalhava.
Porém forte eu estava
e como a sorte me abona
voltei com vigor à tona,
soltei o verbo e a rima,
de baixo passei pra cima
e fiz Dantas ir à lona.

Dantas

Minha força impulsiona
pra vencer o Desafio,
bato, rebato e não chio,
minha arte funciona,
meu contendor vai à lona,
ao nocaute e desanima,
se arrepende e se lastima
não poder mais relutar,
Virgolino vai chiar
e dou a volta por cima.

Virgolino

Contando de um a dez,
no dois Dantas levantou,
pra mim sério perguntou:
“O que achas que tu és?”
e olhando de revestrés
puxou o som da viola
como craque faz com a bola
fez firulas com o verso,
rebati com verso reverso,
acertei Dantas bem na cachola.

Dantas

Virgolino se atola
no começo da passada,
entra numa encruzilhada,
se desmantela e se enrola,
derrapa e pisa na bola
vai logo se esmorecendo,
não sabe o que está fazendo,
levanta e leva um tropeço,
apanha desde o começo,
cai e finda se rendendo.

Virgolino

Com fôlego de sete gatos,
Dantas não se entregou,
achou força e voltou
chamando às vias de fatos,
dizendo ter poderes natos
pra massacrar qualquer um.
Porém em momento algum
eu entrego a rapadura,
dou revide à altura,
não temo cantador nenhum.

Dantas

Não tenho medo nenhum
de Virgolino, que jura
enfrentar parada dura
e superar qualquer um,
diz ser fora do comum,
fica arrotando vantagem
contando mais pabulagem,
querendo me dominar,
mal começa a pelejar,
se esfria e perde a coragem.

Virgolino

O desafio continua,
a luta não se extingue,
chamo Dantas para o ringue
em casa ou mesmo na rua,
minha verdade é nua e crua,
não vou correr da parada,
meu verso é como facada
que esfola o contendor,
que o deixa sentindo dor
de tanto levar pancada.

Dantas

Virgolino não viu nada,
fica no ringue ciscando,
pensa estar me intimidando,
mas não suporta pancada,
pula, roda, faz zoada,
se gaba e se inquieta,
com a cara de pateta,
surpreso, fica em suspense,
se esforça, mas não vence
a força deste poeta.

Virgolino

Vem amanhecendo o dia,
o cansaço está chegando,
Dantas , mais jovem, cantando
sem enfado, com energia,
prova-se imbatível na poesia,
vi chegada a minha hora
de dar adeus e ir embora,
recolher-me ao meu ninho,
sair dessa de fininho,
levar paulada? Tô fora!

Dantas

Num duelo se arvora,
se exalta e se aquece,
se agita e se aborrece,
mas toda torcida adora,
pula, vibra, comemora
o desfecho da contenda,
acalorada e tremenda,
onde tem um ganhador,
e cada espectador
nos brinda com a Comenda.

Virgolino

Entrego o troféu a Dantas,
com certeza, merecido,
de cordel grande entendido,
suas poesias são tantas,
nem ele saberá quantas
boas obras escreveu,
afinal, Dantas bebeu
a água limpa da cultura
de Pombal, terra madura,
onde estudou e aprendeu.

Dantas

Virgolino recebeu
um prêmio pela porfia,
essa mesma cortesia
de pronto me concedeu,
a Comenda se ergueu,
o leitor está contente,
satisfeito certamente,
pelos frutos desse embate,
e espera que cada vate
volte à luta brevemente.

IVAN KLASS emite sua nota:

Eu parabenizo a meta
Que os dois poetas têm,
Se ZÉ DANTAS vale cem
Por sua margem correta.
VIRGOLINO, este poeta,
Não muda de endereço.
Aqui, com o meu apreço,
Eu forço a língua que fale,
Que, se cem, ZÉ DANTAS vale,
VIRGOLINO, o mesmo preço !

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