terça-feira, 10 de agosto de 2010

O MEU AVÔ....LUCIANE TREVEJO...


Eu já fui pedreiro, leiteiro, maquinista de trem,

Tocador de sanfona, cozinheiro.

Já vi tanto saci pererê e mula sem cabeça por essas estradas, minha filha,

Que não sei nem como eu to aqui te contando tudo isso.

Já fui jogador profissional de baralho,

De futebol,

De bola ao cesto,

Já fui salva vidas,

Já trabalhei em circo, já persegui lampião,

Mas como ele era um bom sujeito,

E melhor ainda de mira, eu sempre fiz questao de ir

Pro lado oposto que ele estivesse.

Já fui comerciante

Baterista

Policial

Cacereiro

Já vi fastasmas que levantavam a gente e até a cama junto

Já fiz necrópsia e quase perdi esse dedinho aqui ó,

Por contaminação de cadáver.

Ele entortou,

Mas tá aí ainda…tenho mais sorte que o presidente.

Eu já fui criança e esperei a vida inteira meu pai voltar

E me trazer o sapato novo que ele me prometeu quando foi embora.

Até hoje não vi sapato, nem vi meu pai voltar.

Tive uma boa e doce madrasta

Que cuidou sozinha dos filhos dela

E também dos filhos de meu pai como se fossem dela.

Conheci o amor de uma mulher e caminhei com ela

Pela vida inteira

Porque junto com as brigas e o genio difícil,


Ela me deu o melhor que a vida pode oferecer

E porque depois que o tempo passou,

Eu ainda olhava pra ela e não via a mae, a avó, a bisavó,

E sim, a mulher por quem um dia me apaixonei.

Fui pescador, carregava nas costas os peixes todos

Que eu conseguia levar

Pra poder vendê-los na cidade e fazendo isso,

Estudei minhas filhas, não deixei nada faltar nem a elas e nem aos meus netos.

Dividi com quem pedisse o meu prato de comida

E na minha mesa, nunca faltou o arroz, o feijao,

A carne e a farinha.

Bebi, matei e morri .

Encontrei o perdão em deus e todas as noites, enquanto eu pude,

Me ajoelhei e agradeci a sua misericordia.

Nunca roubei e nunca desrespeitei familia alheia.

Nem a minha.

Eu andei por esse mundo afora, desmatei sertoes

Me afundei em mangues,

Mas foi em bariri, que plantei as minhas fulôres.

E quando eu fui embora,

Elas estavam todas lá, ao meu redor, segurando minha mão

Perfumando meus ultimos suspiros

Guardando nas mãos a minha última lágrima,

E aquela que não chegou a cair ,

( a não ser dentro de mim mesmo …)

Me ajudando a partir calmamente.

E por tudo isso,

Creio que viver tenha valido a pena.

Em memória do meu avô
(O homem que mais admirei nessa vida) ,
E que partiu nos meus braços…..

Um comentário:

  1. OUTRO TEXTO MEU POR AQUI!
    E ESSE, EU TENHO UM XODÓ ENORME...
    É PRA MEU VOINHO QUE TANTO AMEI E AMO...
    O SR PODIA BEM COLOCAR A FOTINHO DELE AI , NE?
    ABRAÇOS

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