terça-feira, 20 de abril de 2010

A Morte de Tancredo Neves...

21 de Abril, morte de Tancredo
Tancredo de Almeida Neves – (1910-1985)

21 de abril de 1985, domingo. O porta-voz Antônio Brito já havia falado a senha bem antes de a Fafá de Belém aparecer no Fantástico, da Rede Globo, cantando o Hino Nacional numa versão inimaginável nos tempos da ditadura militar. Muitos “gorilas” tiveram arrepios quando a viram com uma versão “popular” do canto do nosso Hino, mas o Brasil estava em pé.
A senha combinada com Brito, por todos os jornalistas que cobriam a agonia do Presidente Tancredo Neves, era: “A saúde do Presidente Tancredo Neves apresenta um quadro irreversível”. Quando ele dissesse isso, significava que o Presidente já havia morrido e as redações poderiam se mobilizar para o momento da notícia oficial.
É bom ter em conta que isso foi há 24 anos. Eu trabalhava na Redação de O Globo, na Editoria de Esportes, mas, devido às minhas características de jornalista eclético, sempre era chamado para reforçar outras editorias. Ainda trabalhávamos com máquinas de escrever. A Redação de O Globo somente seria informatizada no início do ano seguinte: 1986. E estamos falando da maior empresa de comunicação do País.
Portanto, não havia toda essa tecnologia de nossos dias, com informações em tempo real. Lembro-me que as notícias internacionais chegavam por telex, por inúmeras agências. Recebíamos aquele amontoado de telegramas na Editoria de Esportes e o Renato (Renato Maurício Prado) determinava: “Pastor, 20 linhas com essa matéria”. Tínhamos que ler todo aquele material em espanhol e traduzir em 20 linhas. Que escola!
Quando o Brito deu a senha, toda a redação foi mobilizada. Eu fui reforçar a Editoria de Política porque sairia uma edição especial com a morte de Tancredo Neves, o primeiro presidente civil do Brasil, depois de 20 anos de ditadura. E não governou. As versões sobre a morte dele são as mais diversas. Falou-se até em envenenamento quando foi internado com uma crise de diverticulite, que levou a uma quadro de infecção generalizada.
Por força das articulações políticas da época, Tancredo tinha como vice-presidente um político muito próximo dos militares: José Sarney. E acabou sendo Sarney, este mesmo que hoje preside o Senado, que governou (governou?) o Brasil nos cinco anos seguintes. Eles haviam derrotado Paulo Maluf no colégio eleitoral.
As eleições para Presidente da República eram indiretas, feitas pelo Congresso Nacional. Somente na sucessão, então, de Sarney é que o povo pôde ir às urnas para escolher seu dirigente máximo, em 1989, quando elegeu-se Fernando Collor de Mello, que hoje também é senador, depois de ser cassado como Presidente, há pouco menos de 20 anos.
Quando Tancredo morreu, o tempo parou. Lembro-me que fiquei até de madrugada na Redação e não tinha como me comunicar com minha mulher. Não havia essa facilidade de hoje para se possuir telefones. O estresse causado por essa demorada na minha chegada (minha mulher já estava querendo visitar o Departamento Médico Legal à minha procura…) levou-me a decidir que voltaria para o Espírito Santo, decisão consumada no ano seguinte.
Nos dias seguintes, o velório de Tancredo parou o Brasil. Era como se cada um de nós tivesse perdido o irmão mais querido. Eu mesmo fiquei em frente à televisão por dois dias inteiros, pois tive folga no jornal nos dias seguintes, para compensar o final de semana trabalhado.
Muito mais poderia ser contado do que vimos naqueles dias e horas de agonia cívica nacional, mas estas são minhas lembranças mais imediatas do 21 de abril que, como cidadãos, preferíamos que não tivesse existido. O de 1985.
*José Caldas da Costa é jornalista, escritor, licenciado em Geografia
Milton Nascimento
Composição: Wagner Tiso / Milton Nascimento

Quero falar de uma coisa
Adivinha onde ela anda
Deve estar dentro do peito
Ou caminha pelo ar
Pode estar aqui do lado
Bem mais perto que pensamos
A folha da juventude
É o nome certo desse amor

Já podaram seus momentos
Desviaram seu destino
Seu sorriso de menino
Quantas vezes se escondeu
Mas renova-se a esperança
Nova aurora, cada dia
E há que se cuidar do broto
Pra que a vida nos dê
Flor flor o o e fruto

Coração de estudante
Há que se cuidar da vida
Há que se cuidar do mundo
Tomar conta da amizade
Alegria e muito sonho
Espalhados no caminho
Verdes, planta e sentimento
Folhas, coração,
Juventude e fé.


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