sexta-feira, 31 de julho de 2015

RELEMBRANDO O QUE APRENDI COM MINHA MÃE...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL...

O MELRO

CECÍLIA POST PARTO...O PRIMEIRO E ÚNICO


O MELRO E UM PÁSSARO PRETO DO BICO ALARANJADO... FOI MOTIVO DE UMA POESIA DO POETA GUERRA JUNQUEIRO, O PORTUGUÊS...

ESTA POESIA FOI O MEU CATECISMO NA INFÂNCIA...

tinha loucura por criar passarinhos...tantos ganhava com mamãe soltava na calada da madrugada e a sua justificativa ao meu questionamento era: prender a asa é encarcerar o espírito, trecho da citada poesia...vide abaixo.


após um vôo, o MELRO surpreende os filhotes preso na gaiola pela abade, que tinha descoberto o ninho.


O MELRO, ao ver aproximar o abade, despertou da atonia...lançando se furioso contra a grade do cárcere. torcia-a, para partir os ferros da prisão, crispando as unhas convulsivamente, com a fúria de um leão...

Batalha inútil, desespero ardente...quebrou , depenou as asas e alucinado, exangue, os olhos como brasa, herói febril a gotejar em sangue, PARTIU NUM VÔO LOUCO,

TRAZENDO, DENTRO EM POUCO, PRESO NO BICO, um ramo de veneno.

E BELO E TRÁGICO E SERENO, DISSE: MEUS FILHOS, A EXISTÊNCIA É BOA SÓ QUANDO É LIVRE...
A LIBERDADE E A LEI, PRENDE  A ASA, MAS A ALMA VOA... OH FILHOS! VOEMOS PELO AZUL, COMEI...

E mais sublime do que CRISTO, quando morreu na cruz, maior do que catâo, MATOU OS QUATRO FILHOS, trespassando quatro vezes o próprio coração...

Soltou, fitando o abade, uma pungente gargalhada de lágrima, de dor, e partiu pelo espaço heroicamente, indo cair, já morto, de repente num carcavao com silveiras em flor.


E O VELHO ABADE, lívido de espanto, exclamou afinal: TUDO O QUE EXISTE É IMACULADO E SANTO... HÁ EM TODA MISÉRIA O MESMO PRANTO E EM TODO CORAÇÃO HA UM GRITO IGUAL.

DEUS SEMEOU DE Almas o UNIVERSO,TUDO O QUE RI E CANTA E CHORA, TUDO FOI FEITO COM O MESMO LODO, PURIFICADO COM A MESMA AURORA,

O' MISTÉRIO SAGRADO DA EXISTENCA, SÓ HOJE TE ADIVINHO, AO VER QUE A ALMA TEM A MESMA ESSENCIA , QUER GUARDE UM BERÇO OU UM NINHO.

SÓ HOJE SEI QUE TODA CRIATURA, DESDE A MAIS BELA ATE A MAIS IMPURA, OU NUMA POMBA OU NUMA FERA BRAVA, DEUS HABITA, DEUS SONHA, DEUS MURMURA.. AH, DEUS É BEM MAIOR DO QUE EU JULGAVA.

E, ARREMESSANDO A BÍBLIA, O VELHO ABADE MURMUROU: HÁ MAIS FÉ E HÁ MAIS VERDADE, HÁ MAIS DEUS COM CERTEZA NOS CARDOS DE UM ROCHEDO NO QUE NESSA BÍBLIA ANTIGA, O' NATUREZA, A ÚNICA BÍBLIA VERDADEIRA ES TU.


UMA CRÔNICA PARA A MINHA SAUDADE...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL... AGORA, EU TENHO OITO DIAS, ACORDEI COM UMA EXPLOSÃO...ERA O INCENDIO DA FÁBRICA DE FOGOS DE SEU PASSINHO...MINHA MÃE AMAMENTA O LACTENTE QUE FICOU SEM MÃE, DJAIR... EU MAMAVA NUM PEITO , ELE NO OUTRO... APRENDI A DIVIDIR...SER IRMÃO..NUNCA SER UM SÓ...FICAR NO LUGAR DO OUTRO...SER IGUAL... DEPOIS, CAMINHEI NUMA RUA, QUE TINHA UM COLÉGIO, QUE RATIFICAVA O QUE O MEU BERÇO DIZIA :EXISTE DEUS... CONCLUSÃO INEVITÁVEL DO HOMEM INTELIGENTE... DEUS É A LUZ...PREMISSA LÓGICA, AGOSTINIANA ...IRREDUTÍVEL, INEXORÁVEL... INCOGNOSCIVEL... DEPOIS, UMA VIDA DE INTELIGENCIA...CLARA, TRANSPARENTE... DEGUSTANDO TODAS AS ANTÍTESES... COMPREENDENDO TODAS AS DIFERENÇAS... SEM SAIR DA DIREÇÃO... CAMINHANDO NO MESMO VETOR... O MEU CAMINHO É DE LUZ... CONTO DE 8 DE MAIO DE 1955 ATÉ HOJE, 8 DE MAIO DE 2014...59 ANOS... ENTRE UMA DATA E OUTRA, TODOS OS DIAS FORAM MEUS... JÁ ERA FELIZ, MAS NINGUÉM TINHA MORRIDO... ESTOU SENTADO NUMA MESA DE 150 ANOS, ONDE REPOUSA SILENCIOSA A MINHA HISTÓRIA... TENHO A SALA DE JANTAR QUE MEU AVÔ , PROFESSOR CELESTINO PIMENTEL, IMPORTOU DA INGLATERRA, QUANDO ERA VIVO, PARA TRADUZIR O SEU INGLÊS... BEBO E SORVO O PASSADO... SOU UM PARASITA DAS MEMÓRIAS... GOSTO DO ONTEM... ENLOUQUECÍ... ACARICIO CADA MEMÓRIA... ADORO O MEU BERÇO... ESCUTO O QUE DIZEM AS PORCELANAS QUE GUARDAM SUSURROS, CONTIDOS NA POESIA DA MINHA AVÓ, ANA LIMA, O DOCE SABIÁ DA MATA, COMO DIRIA AUTA DE SOUZA... BEBO A INTLIGENCIA DO DR. NESTOR LIMA... ME CURO COM OS REMÉDIOS DO DR. LUIZ ANTONIO... SOU REVIGORADO QUANDO CRUZO A RUA, E VEJO O POVO COMUM NA SUA LABUTA, O GRANDE PONTO, A RUA DA CONCEIÇÃO, REZO DEFRONTE O ATHENEU, CHORO TODAS A SAUDADES... AS VEZES, DEIXO CAIR UM POUCO DA MINHA DOR, NA ESTÁTUA DE PADRE JOÃO MARIA... EU SEI COM QUANTAS ESTANTES TIO NESTOR CRIOU O INSTITUTO HISTÓRICO, E COM QUANTOS TOSTÕES TIO LUIZ ANTONIO CRIOU A LIGA... VOU ATÉ A PONTE DE TODOS, ENXERGO NEWTON NAVARRO COM ARSENIO PIMENTEL, COMEMEMORANDO A SUA ÚLTIMA SERENATA,NUMA BARCAÇA QUE NAVEGA PARA TRÁS...SOU ASSIM...MENINO...TOLO...PRIMÁRIO...FELIZ... NÃO SOU NINGUÉM... MAS NÃO CONHEÇO NINGUÉM COMO EU...

quinta-feira, 30 de julho de 2015

O CORPÚSCULO DE BARR...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL


 

             Carlos Dionísio foi um colega de turma muito humano e humilde, mas se perdia no excesso de bebidas...coincidentemente tinha o Nome de Baco, o rei do vinho...bebeu até os seus últimos dias, o que lhe levou á uma morte precoce...
               Dionísio tanto tinha de sério como de engraçado...
               Certa vez,na aula de fisiologia,o professor pediu uma voluntária para raspar a mucosa da boca e levar as células para o microscópio,para nos mostrar o corpúsculo de BARR, que é uma mancha que só se visualiza nas células femininas...ela surge quando há os dois cromossomos X, na célula...portanto só existe nas células femininas...
               Estávamos todos olhando o microscópio, procurando ver o Corpúsculo de Barr da colega...Nisto chega Carlos Dionísio,ressacado como sempre,atrasado...foi entrando,e o professor disse,olhe no microscópio e diga o que você esta vendo...

               Dionísio com muito sono, passou a mão nos olhos,olhou e falou:Nesta lamina só tem é espermatozóide...a risadagem foi geral, com a tirada dele, e a cara feia da colega.

A POESIA DE ANNA LIMA PIMENTEL...

AUSENTE – Anna Lima
A’s boas amigas do Açù
Saudades brancas, em flores,
Cheias de pallido enleio,
Eu tenho nas minhas dores,
Eu sinto-as dentro em meu seio.
São rosas e eu sei que as rosas,
D’alvas corollas arminhos,
Têm sobre as folhas cheirosas
Uma grinalda de espinhos.
Não importa que o meu canto
Queira ao longe se evolar…
Eu tenho um doce recanto
Para esconde-lo e guardar.
De uma amiga tenho o seio,
O regaço de uma irmã,
Tenho da lyra o gorjeio,
Tenho os cantos da manhã.
Longe do berço querido,
Onde a luz primeira eu vi,
Do meu lar estremecido,
Minha mãe, longe de ti…
Eu tenho a alma envolvida,
Nas roupagens da saudade,
Qual açucena querida
Nos beijos mornos da tarde.
Consulto a crença adorada
Que sonhei quando menina…
A crença é muda e gelada
E a minha dôr não termina.
Mas Ah! da esperança o lyrio
Volta mais tarde e murmura:
– Nem sempre é longo o martyrio,
As maguas e as desventuras.
Natal – 1899

quarta-feira, 29 de julho de 2015

SÓ PRA CHATEAR...




Só Pra Chatear
 UMA  COMPOSIÇÃO DE :
HERMÍNIO BELLO DE CARVALHO E JOÃO DE AQUINO


Eu mandei fazer um terno 
Só pra chatear 
COM UMA gola amarela 
Só pra chatear 
Mandei bordar na lapela 
Só pra chatear 
O nome que não era dela 
Só pra chatear 
Comprei um par de sapatos brancos 
Mas sei que ela só gosta de marrom 
Só pra chatear 
Só pra chatear 
Cada pé de sapato tem um tom 
Comprei um bangalô, pra chatear, lá na favela 
Mas vou morar na Lapa ao lado dela 
Só pra chatear

POETAS DO BRASIL: FERREIRA GULLAR

– Ferreira Gullar
ferreira-gullar
O poeta Ferreira Gullar nasceu em São Luís, Maranhão, em 1930. Foi morar no Rio em 1951. Lá, publicou o poema Luta Corporal, aproximando-se dos poetas concretistas, Décio Pignatari e Haroldo de Campos.
Nos anos 60, Gullar engajou-se politicamente e dedicou-se a temas sociais. Filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro. Viveu o exílio, entre 1971 e 1977, na Rússia, Chile e Argentina.
Recebeu o prêmio literário Jabuti em 2007 e o premio Camões em 2010.
Fechemos a semana com o poema Sem Vagas.
“O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerilha seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”.
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço.
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.”




Traduzir-se

UM POEMA DE FERREIRA GULLAR....Fagner
  


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -

será arte?

segunda-feira, 27 de julho de 2015

UMA PÉROLA DE CHICO BUARQUE POUCO CONHECIDA: TABLADOS...




          TABLADOS
CHICO BUARQUE E EDÚ LOBO...

Na minha lembrança a moça arrebatava o chão 
Do meu coração, tablado solto no sem-fim 
Sim, roçava a franja nos desejos do salão 
Não pintava a boca só pra mim 

Lembro da encarnada moça na iluminação 
Encarnada num tablado de encarnado igual 
A boca pintada de sangrado coração 
Sendo a rosa e o fogo, o bem e o mal 

Pra sempre minha onde seu corpo for 
Descansar, distrair 
Para sempre moça quando o meu amor 
Precisar e pedir 

Na minha cabeça, moça, a íntima sessão 
Sem saia encarnada, nada, num passado assim 
Mal iluminado, sua própria encarnação 
Fundos de memória, cama
rim

domingo, 26 de julho de 2015

POBRE GOSTA DE LUXO, QUEM GOSTA DE POBRE É INTELECTUAL...UMA CRÔNICA DE BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.



               Nunca tinha compreendido o que Joãozinho trinta queria dizer com esta máxima...Pobre gosta de luxo, quem gosta de pobreza é intelectual...até que:

               Morava no Parque das mangueiras...estávamos assistindo televisão, quando entra na sala do apartamento a lavadeira,por sinal bem contrariada...
               Reclamava que a empregada tinha colocado roupa dela, na trouxa de roupa...

               era um absurdo ela lavar roupa DE UMA EMPREGADA DOMÉSTICA...e fez a sua apologia:                eu estou aqui para lavar as roupas do Dr Bernardo, dos filhos dele, e da senhora,minha mulher...

               Depois de muito reclamar , Gracinha pediu a palavra e sentenciou:Pode cobrar a mais que eu pago um extra...a lavadeira respondeu:

               mas eu não lavo...não lavo roupa de empregada...

             Olhei para gracinha e falei:Olha aí o que queria dizer Joãozinho trinta:
              Pobre gosta de luxo,quem gosta de pobreza é intelectual...

sábado, 25 de julho de 2015

CONFISSÕES DA ALMA...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL.



Quando vim a ter juízo, tinha enlouquecido...

quando encontrei a luz

ja estava cego,e a boca torta,pelo uso da dor...

fui um personagem constante da angústia,

quando voltei, fui.

grande e misteriosa somente a vida...do tamanho das tentações...

o que excedeu da inteligencia serviu para explicar nada...

tudo confuso, agitado e surdo.

sou um rei das minhas dúvidas...

sou um súdito das minhas paixões...

da rosa que brotei somente lágrimas...

tempo frio com palmas...

dificil é comviver com a criança, que me rosna as mágoas...

sou de ferro e bronze,com alma de palha.
caminham na vida os muito que fui,
nas trevas,nos claros da ausencia de luz.
A MINHA FEBRE É DE SONHOS,enquanto resisto.

CORDEL...

* * *
Oliveira de Panelas




Uma coisa se eu pudesse

Transformava sem sobrosso

A garganta de Alcione

Botava em Ney Matogrosso

Nem que fosse necessário

transplante de pescoço.


* * *


Leandro Gomes de Barros

Meus versos inda são do tempo


Que as coisas eram de graça:


Pano medido por vara,


Terra medida por braça,

E um cabelo da barba

Era uma letra na praça.

* * *

Raimundo Cassiano

Eu entrei no hospital

Já quase no fim do dia

Ali falei ao doutor

Na mesa de cirurgia

Mexam no meu coração

Mas me deixem a poesia!

* * *

Severino Feitosa

Admiro a mocidade


Não querer envelhecer

Velho ninguém quer ficar

Novo ninguém quer morrer

Sem ser velho não se vive

Bom é ser velho e viver.

* * *


Mocinha de Passira

A gemedeira é um gênero

Da nossa dualidade.

Eu vou gemer com prazer,

Você geme é com saudade,

Pois tá perto da velhice

Ai, ai, ui, ui

Só lembra da mocidade.

* * *

Ugolino do Sabugi

As obras da Natureza

São de tanta perfeição,

Que a nossa imaginação

Não pinta tanta grandeza!

Para imitar a beleza

Das nuvens com suas cores,


Se desmanchando em louvores

De um manto adamascado,

O artista, com cuidado,

Da arte, aplica os primores.

* * *

Cego Aderaldo




Todo passarinho canta

quando vem rompendo a aurora

só a pobre mãe-da-lua

quando canta, logo chora…

assim eu faço também,

quando meu bem vai embora.

* * *




Minervina Ferreira

Se quer partir vá , sujeito

Eu fico no nosso abrigo

Só uma coisa eu lhe digo

Se voltar eu não aceito

Cada um tem o direito

De buscar sua melhora

Mas se surgir a piora

Procure um outro lugar

Não pense que eu vou chorar

Porque você foi embora.

TIM TIM POR TIMTIM...

O grande Poeta pernambucano Dedé Monteiro
Dedé Monteiro “elogiando” a empresa telefônica TIM:

Não sei por que diabo foi
Que, em vez de pagar tão caro,
Eu já não mudei pra “CLARO”,
Pra “NEXTEL”,” VIVO” ou “OI”.
Jesus do céu me perdoe,
Já que eu agi tão errado.
Mas a TIM tem mais pecado
Que Judas, Nero e Caim.
A TIM, tim tim por tim tim,
Não vale um tostão furado.
Quem tiver algum segredo
Pr’um amigo em São José,
Acho que se for a pé
Consegue chegar mais cedo.
Hoje eu fiz calo no dedo,
Terminei triste e cansado,
Sem poder dar um recado
Tão importante pra mim.
A TIM, tim tim por tim tim,
Não vale um tostão furado.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

COTIDIANO NÚMERO DOIS...VINICIUS DE MORAES




Cotidiano n°2
Vinicius de Moraes
  
exibições
25.340
Há dias que eu não sei o que me passa 
Eu abro o meu Neruda e apago o sol 
Misturo poesia com cachaça 
E acabo discutindo futebol

Mas não tem nada, não 
Tenho o meu violão

Acordo de manhã, pão sem manteiga 
E muito, muito sangue no jornal 
Aí a criançada toda chega 
E eu chego a achar Herodes natural

Mas não tem nada, não 
Tenho o meu violão

Depois faço a loteca com a patroa 
Quem sabe nosso dia vai chegar 
E rio porque rico ri à toa 
Também não custa nada imaginar

Mas não tem nada, não 
Tenho o meu violão

Aos sábados em casa tomo um porre 
E sonho soluções fenomenais 
Mas quando o sono vem e a noite morre 
O dia conta histórias sempre iguais

Mas não tem nada, não 
Tenho o meu violão

Às vezes quero crer mas não consigo 
É tudo uma total insensatez 
Aí pergunto a Deus: escute, amigo 
Se foi pra desfazer, por que é que fez?

Mas não tem nada, não 
Tenho o meu violão


AJUDADNDO A CARREGAR A CRUZ DOS OUTROS...POR BERNARDO CELESTINOM PIMENTEL



               Ontem pela manhã, ao sair da gosto de Pão da jaguararí, após tomar um lauto café,um rapaz muito gentil, com as feições dos meus filhos, suplicante, de uns 17 anos, me abordou,pedindo até desculpas por ter fome:Doutor um pão com manteiga é um e noventa,me dê um, pra eu tomar café...se o senhor não acreditar que eu compro, compre o senhor mesmo e me dê...É claro que eu dei o dinheiro,mas fiquei passado de pena...ainda hoje estou sofrendo...Jamais me acostumo com a injustiça do mundo...com a injustiça social,criada pelo próprio homem...tenho cinquenta e cinco anos,mas não perdí a capacidade de escutar os pobres...não perdí a capacidade de sofrer diante de certas cenas...é por isto que eu tenho tanto ódio de quem desvia dinheiro público...quero que Deus me leve, um dia antes,daquele dia que eu ficar indiferente a dor dos pobres...é a minha lei...é a minha questão.
Quem merece mais a nossa atenção, a nossa compreensão, a nossa ternura e o nosso respeito são os pobres... é esta a reflexão permanente da minha solidão, neste dialogo permanente que eu tenho com Deus.
A maior felicidade que tenho na vida é ter passado para os meus filhos o sentimento da caridade,que só poderia vir de Deus...Brena hoje é defensora pública em Mossoró,com certeza é uma prenda da vida ao lado dos pobres...a caridade é o outro lado do executivo e engenheiro Breno augusto...e Bruno Marcelo, meu médico, é a certeza de que:Depois de mim eu estarei presente...como minha mãe, que se perpetuou na vida até hoje,regulando os meus gestos e a minha consciência.Ainda hoje a escuto me tratando como em criança, e me saudando:BENADO TELETINO,BICHO DANADO... GOSTA DE TUDO O QUE EU GOSTO... era a sua síntese, para referir-se a afinidade que tínhamos por Deus, pela música, pelas letras, pela poesia, e pela caridade...para lembrar o nosso respeito aos dedos, e o nosso descaso com os anéis.
O ano passado,os alunos do curso de medicina que estavam no ambulatório do Hospital Onofre Lopes viram uma cena inusitada, numa consutlta médica atual...atendia a um Garí da Urbana, qua há anos tinha uma supuração perianal, e procurava uma solução...ao apertar a minha mão o senhor segurou-a e caiu num pranto...eu perguntei, por que tanto choro?ele respondeu , é a felicidade de estar diante do senhor...fiz tudo para fingir para os doutorandos que não estava chorando também...A ALMA ficou em prantos, e os olhos e a fala denunciaram...não consegui disfarçar...Em seguida, continuei segurando-lhe a mão, apertei-a fortemente,lhe passando pelo tato, a confiança, e a certeza que a minha inteligencia estava a sua disposição.Na sexta póxima,operei-o...problema resolvido.
Eu sou do povo como o Sol é do Luar... não de aparencias, MAS,INTRINSECAMENTE.

A POESIA DE ANA LIMA PIMENTEL...


MEU SONHO

Na leda infância descuidosa e mansa,
Como o risonho alborescer de um dia,
Era o meu sonho róseo de criança:
– A ventura e a alegria.

Depois, quando te vi, astro formoso,
Do céu do meu viver, boiando à flor,
Tive o meu sonho, ardente e esplendoroso:
– A esperança e o amor.

E agora, que deixaste-me e partiste,
Nesta deserta e fria soledade,
Eu tenho um sonho, sempre negro e triste;
– A dúvida e a saudade.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

UMA PARÁBOLA DE GANDHI...

Quando Gandhi estudava Direito na Universidade de Londres tinha um professor chamado Peters, que não gostava dele, mas Gandhi não baixava a cabeça.
🌹Um dia o prof. estava comendo no refeitório e sentaram-se juntos.
🌹O prof. disse:
🌹- Sr. Gandhi, você sabe que um porco e um pássaro não comem juntos?
🌹Ok, Prof..... Já estou voando...... e foi para outra mesa.
🌹O prof. aborrecido resolve vingar-se no exame seguinte, mas ele responde, brilhantemente, todas as perguntas.
🌹Então resolve fazer a seguinte pergunta:
🌹- Sr. Gandhi,
indo o Sr. por uma rua e encontrando uma bolsa, abre-a e encontra a Sabedoria e um pacote com muito dinheiro.
🌹Com qual deles ficava?
🌹Gandhi respondeu....
🌹- Claro que com o dinheiro, Prof.!
🌹- Ah! Pois eu no seu lugar Gandhi, ficaria com a sabedoria.
🌹- Tem razão prof, cada um ficaria com o que não tem!
🌹O prof. furioso escreveu na prova "IDIOTA" e lhe entregou.
🌹Gandhi recebeu a prova, leu e voltou:
E disse...
🌹- Prof. o Sr. assinou a prova, mas não deu a nota!

POETAS DO BRASIL...


UM OLHAR – Anderson Braga Horta

Aves da arribação, que passais tristes
e buscais o calor de novos lares…
aves de arribação, acaso vistes
as asas de um amor cortando os ares?
Se da esperança a voz sumida ouvistes,
as lágrimas de luz brotando aos pares
de ocultos arquipélagos sentistes,
nos vôos rente ao dorso azul dos ares,
dizei-me onde é que estão, porque são minhas!
… No entanto elas se foram, tênues linhas
já prestes no horizonte a mergulhar.
Não responderam… Nem sequer me olharam…
Mas, diz o coração – que naufragaram
na profundeza de um celeste olhar.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

A MÚSICA DO NOVACRUZENSE GILVAN FELIPE...ALÕ DEUS, A FRASQUEIRA LHE AGRADECE...

A POESIA DE CECÍLIA MEIRELES...

As valsas
Como se desfazem as valsas
por longos pianos aéreos
que a noite envolve em suas chuvas!
Que ternura nas nossas pálpebras,
pelo exílio suave dos gestos
e dos perfis de antigas músicas!
Os marfins opacos recordam,
com uma graça desiludida,
a aura da morta formosura.
Gente de sonho, sem memória,
entrelaçada, conduzida
por salões de esperança e dúvida.
E eram tão leves, nessas valsas!
E levavam lágrimas entre
seus colares e suas luvas!
E falavam de suas mágoas,
valsando, e delicadamente,
com a voz presa e as pestanas úmidas!
Ah, tão longe, tão longe, as salas...
Levados os lustres e as vidas,
o amor triste, a humilde loucura...
Ficaram apenas as valsas,
girando cegas e sozinhas,
sem os habitantes da música!
Cecília Meireles
in Retrato Natural

RESPOSTAS EM CIMA DA BUCHA...




UMA ENTREVISTA EM FOLHETO

Entrevista concedida pelo cordelista Antonio Barreto ao jornalista Cazzo Fontoura e respondida em versos

1- Quem é Antonio Barreto?

Se quiser me conhecer
Nem precisa perguntar !
Baiano lá do sertão
Santa Bárbara é o meu lugar
Sou substantivo próprio
Masculino, singular.

Quer saber da minha origem
Agora vou lhe dizer:
Vim do bico da cegonha
E nasci para aprender
Sou do signo de câncer
Sou sensível pra valer.


Sou o aboio dos vaqueiros
Pelos ventos da alegria
Nessa estrada empoeirada
Seja noite ou luz do dia
Sou o berro das manadas
O Cordel e a cantoria.

2- Quando o cordel tocou a veia de Antonio Barreto?

O cordel entrou em mim
E ferrou meu coração
Quando ainda era menino
Nas caatingas do sertão
Ouvindo o berro do gado
E atravessando a nado
As águas da solidão;

Reisado, bumba-meu-boi
Vaquejada, cantoria
Pau-de-sebo, quebra-pote
Forró e muita folia:
Foi assim o meu cenário
Nas cores do imaginário
Que eu jamais esqueceria.

3- A Literatura de Cordel tem técnica ou faz-se verso de cordel livremente?

Na Europa, o Cordel
Era sempre feito em prosa;
No Brasil, é feito em verso
Essa arte grandiosa.
Ritmado a rigor
De uma forma harmoniosa.

Além de escrito em verso
Temos que atentar à rima
De preferência soante
Pra tornar-se obra-prima
Pois a boa melodia
Nos encanta, nos anima…

Na poesia canônica
Faz-se verso livremente
Entretanto no Cordel
A regra é bem diferente
Rima e ritmo se completam
Mais-que-adequadamente

4- A discussão antiga: o Cordel é atemporal?

O cordel flui pelas águas
Do rio da simplicidade
Sua nascente vem do campo
Ao abraço com a cidade
Galopando por caminhos
De lonjuras e espinhos
Clamando por liberdade.

O cordel ao mesmo tempo
É vovô e é menino
É passado e é presente
Um mistério cristalino
O futuro rindo à toa
A nuvem que sempre voa
Sem parada e sem destino.

Ele não possui idade
É tão velho quanto o mundo
É tão jovem quanto o sol
Que renasce num segundo
Ou quem sabe vem da Grécia
Com magia e peripécia
No seu versejar profundo.

5- Guimarães Rosa é universal; James Joyce é universal. A poesia de cordel é Universal?

Guimarães e James Joyce
Sempre foram universais
Mas também há outro vate
Que possui muito cartaz:
Me refiro a Patativa
Poeta de voz altiva
Que em Sorbonne é um ás.

E o Cordel não corre atrás
De estrelismo e troféus
Nossa arte popular
A transitar pelos céus
Sem inveja do arco-íris
Do trono Zeus ou Íris
Longe do banco dos réus.

Temos a convicção
Que a Cultura Popular
É amada e muito aceita
No Brasil e além-mar:
Nas pesquisas de Cantel
Luyten, Kurran: o cordel
Pôde universalizar.

6- Tem função social a Literatura de Cordel?

Haja função social
Nos folhetos de cordel
Uma vez que o cordelista
Desempenha o seu papel
De denunciar o sistema
Alertando o estratagema
Dos políticos de cartel.

Além disso os cordelistas
Desta nova geração
Têm se preocupado muito
Com os rumos da Educação
Levando o cordel à Escola
Dando um grande show de bola
Promovendo a inclusão.

Nós também denunciamos
A injustiça, a violência,
Desigualdade, racismo,
A ganância, a prepotência…
Somos antenas da raça
E mostramos a desgraça
Que todos pedem clemência.

7- Paulo Coelho tem cadeira na Academia Brasileira de Letras. O cordelista tem onde sentar na Academia?

Admiro o Paulo Coelho
Mas preciso contestar:
Penso que ele precisa
Sua cadeira ofertar
A Leandro ou Silvino
Patativa ou Minelvino
E depois se aposentar !

Cadeira em Academia
O cordelista não tem.
Pois ali é um ambiente
Que ao Cordel não lhe convém
Nosso lema é a grandeza,
Simplicidade e beleza
Sem jamais dizer amém !

Deixemos que a Academia
Siga a sua tradição
Usando o mesmo critério
Político de exclusão.
Mas quem sabe um belo dia
Para a nossa alegria
Ela dê voz ao sertão !

8- Há relação entre a Literatura de Cordel e a música?

Claro que há relação
Da música com o cordel
Perceba que o menestrel
Toca em ritmo de baião,
Na rabeca, violão,
Na sanfona, na viola;
No pandeiro a gente embola
O verso metrificado.
E se for de pé quebrado:
O casamento não rola !

9- Há quem diga que o livro estará em extinção no futuro. E o folheto do cordel sobreviverá?

Eu sei que o livro sobreviverá
Ainda que o progresso se agigante
É mais fácil extinguir um elefante,
Político, raposa, tamanduá,
Caráter, vergonha, onça, gambá
O dinheiro, a justiça, a lealdade,
A ética, a fé, a dignidade…
Mas o Cordel que é fonte de cultura
Afirmo que ele sempre perdura
Nos dias de hoje e na eternidade !

10- Barreto, você respondeu em sextilha, septilha, décima, martelo… E o galope à beira-mar onde é que fica?

Eu sou sertanejo, estrela que brilha
Ninguém me humilha porque sou valente.
Eu brigo de faca, de murro, de dente…
Sou mais que a serpente, dragão armadilha
Também sou de paz e desejo partilha
Fogueira queimando sem nunca apagar
Estou sempre rindo, mas posso chorar…
Detesto avareza, ciúme, mentira,
Eu bato de frente no medo, na ira
E aprendo os segredos das águas do mar.

11- Barreto, faça uma brincadeira à la Zé Limeira – o Poeta do Absurdo!

Eu brinco de Zé Limeira
No espetáculo da loucura
Meu sorvete é rapadura
Os meus olhos são fogueira
Freud inventou a peixeira
Lampião a anestesia
Jesus Cristo se escondia
No quintal de Zé Raimundo
Me separo desse mundo
Mas não deixo a poesia.

12- Agora, Barreto, suas considerações finais em Quadra, afinal ela é o gênero que, através dos colonizadores ibéricos, introduziu o cordel no nordeste brasileiro!

Obrigado, amigo CAZZO
Pela bela entrevista
Que fizeste no momento
Com esse simples cordelista.

Eu espero que o leitor
Aprecie nosso trabalho
E perceba que o Cordel
Necessita de agasalho,

Apoio, divulgação
Nesse novo limiar
Porque ele é o ouro
Da Cultura Popular !

Aqui, todo meu apreço
Bordado de gratidão
Do Barreto, aprendiz,
Que veio lá do sertão…