quinta-feira, 21 de maio de 2015

SOBRE ESTUDAR Á NOITE, APÓS TRABALHO DURO...



Curso noturno
               Durante o almoço no trabalho os dois operários Manoel e Joaquim discutem... - Joaquim, faz cinco anos que estou inscrito num curso noturno. Não estais interessado em fazer um? - Não sei, não. - Não??? Por exemplo: - Tu sabes quem foi Graham Bell? - Não! - Foi o inventor o telefone em 1876! - Se freqüentasses o curso noturno saberias. No dia seguinte a mesma cena. - Tu sabes quem foi Alexandre Dumas? - Não! - Foi o autor dos "Três Mosqueteiros". - Se viesses ao curso noturno saberias. No dia seguinte, de novo... - E sabes quem foi Miguel de Cervantes? - Não! - Foi o autor de "D. Quixote". Irritadoo Joaquim pergunta: - E tu sabes quem é o Manolo Sánchez? - Não! - Pois é o cara que dorme com tua mulher! - Se deixasses o curso noturno... saberias.








 CURSO NOTURNO

Cansaço e caderno encardido
na luz errada, fio à mostra.
Dorida sala de aula.
Paredes cansadas de palavrão
Bancos melados ouvem
o professor ofegante
que idealiza salários
e um Brasil melhor
no guarda pó amargurado.
Lá fora, a rua é fragor
e antes das dez já deu vontade de trepar.

O pai ferroviário não desconfia
enquanto a mãe
passa a roupa da formatura
desde o primeiro ano.
O texto é difícil.
O tédio desaprende a atenção
e desprepara o saber.
As guerras púnicas são bocejo.

A fome fermentada em azia,
coadjuva o esforço de vir a ser.
Disputas perdidas de antemão
relegam a vida a planos secundários.
Resta o sonho do impossível
e a idealização do turno da manhã
com professores e louras alegres.
Tudo é Natal no turno da manhã.

Um sono e três assaltos
matemática entre fumaça
de ônibus humilhados
e geografia pelos trens da Central.
O desdentado grosseiro coça o saco.
Artistas abundam e desbundam
na capa dos cadernos.
Ninguém fala de Brahms
nem canta hinos a Manuel Bandeira.
O viado da turma já está ferido de morte.

Metade confia na vida e tudo é mérito.
A filha do pastor com medo da menstruação.
A caspa insulta alguns paletós.
Há gosto de sebo no pão dormido
e o espinhento toca bronha com dois dedos
disfarçando pelo bolso furado da calça.

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