domingo, 31 de maio de 2015
A SOLIDÃO DE NIESCH...
“Querido amigo, Se não tenho falado com quase ninguém, isto não é um “silêncio arrogante” mas, ao contrário, um silêncio bastante humilde, de um sofredor envergonhado em revelar o quanto sofre. Um animal rasteja para seu esconderijo quando está doente, e assim também faz la bête philosophe. Quão raramente uma voz amiga chega até mim! Estou agora só, absurdamente só. E no curso de minha guerra subversiva contra todo o homem que até agora tem sido respeitado e amado, eu mesmo me tornei sem perceber uma espécie de esconderijo, algo oculto, que você não poderá mais achar mesmo se for até lá procurá-lo, mas é claro que ninguém o faz. Confidencio que não é impossível que eu seja o principal filósofo desta era, e mesmo um pouco mais que isso, algo decisivo e fatal permanecendo entre dois milênios. Alguém nesta singular posição é constantemente obrigado a pagar com uma crescente, ainda mais glacial e aguda solidão. Nossos amados alemães! Não obstante eu esteja agora em meu quadragésimo quinto ano e tenha publicado cerca de quinze livros, eles não apresentaram nem ao menos uma crítica minimamente decente de meus livros. Recorrem agora a expressões como “excêntrico”, “patológico”, “mentalmente perturbado”. E por anos nenhuma palavra de conforto, nem um pingo de sentimento humano, nem um alento de amor.”
Friedrich Nietzsche. Nice, 12 de Fevereiro de 1888: carta a Reinhart von Seydlitz.
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