PRUQUÊ FALO E ISCREVO QUI NEM
MATUTO...
Literatura de Cordel
Autor: Bob Motta
N A T A L – R N
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Tem gente, aí recramando,
do meu jeito de falá;
e da linguage matuta,
qui eu uso, ao decramá.
Aiguns diz qui é invenção,
qui o matuto meu irmão,
“errado” num fala mais;
quem pensa assim, dêsse jeito,
tá cum um grave defeito,
“disinfóimado demais”.
Meus irmão, meu “MATUTÊS”,
tá nais raíz duis povão,
nuis linguajá dais caatinga,
do matuto do sertão.
Qui herdô duis antepassado,
nais iscola duis roçado,
ixponho a todos vocêis;
e a fala, é, dona fulana,
da linguage “CAMONIANA”,
do Século dizesseis.
Derna duis “iscanchavó”,
já dizia Ludrugero,
qui uis colonizadô,
prá nossas brenha, truvéro.
A linguage qui lhes falo,
eu ixprico, sem abalo,
vem duis professô duis bons;
“CAMONIANA”, criança,
qué dizê qui vem de herança,
do Mestre Luiz de Camões.
Luiz de Camões, meus pôvo,
eu digo a todos vocêis,
nêsse meu verso matuto,
foi um vate portuguêis.
Vate qué dizê poeta,
numa linguage cumpreta,
mêia rim de intendê, de fato;
vem de um tempo munto longe.
Camões é o mêrmo CAMONGE,
Dais prosa e causo, do mato.
Você, tão “inteligente”,
qui nem matuto, in meu verso,
vô infóimá de uma coisa,
de dento dêsse universo.
O professô Clementino,
Câmara, seu minino,
um inlustre potiguá;
pesquisô, foi pionêro,
no Nordeste brasilêro,
disso qui eu vô lhe falá.
Foi in mil e novecentos;
o ano, foi trinta e dois.
In cada povoação,
a isso êle se dispôis.
Seu istudo foi cumpreto,
mais de trêis mil dialeto,
foi o qui êle incontrô;
pois cada povoação,
sigundo sua tradição,
uma linguage, criô.
Verbête, isso nem se fala!
Era tanta da palavra,
qui num tinha nuis iscrito,
do mestre, da sua lavra.
Cum meu véio chapéu de côro,
foi cavando êsse tisôro,
qui eu cheguei à cuncrusão;
qui eu tenho orgúio, in verdade,
da minha Universidade,
dais caatinga do sertão.
Na Facurdade do Mato,
eu aprindí, s’á minina,
o qui ninhuma ôta iscola,
dais cidade, nuis insina.
Aprindí sua linguage,
ais mintira, ais pabulage,
uis custume, ais tradição;
aprindí sê bom sujeito,
e a guardá dento do peito,
ais boa rescordação.
Preséivá, é necessáro,
mais uma vêiz, digo de nôvo.
Ais raíz, ais tradição,
é indentidade de um pôvo.
É essa, minha posição;
arresposto ao sabichão,
num fico in riba do muro;
o meu recado tá dado;
“quem num preséiva o passado,
num pode tê bom futuro”...
Autor: Roberto Coutinho da Motta
Pseudônimo Literário: Bob Motta
Da Academia de Trovas do RN.
Da Academia de Cordel do Vale do Paraíba.
Da União Bras. de Trovadores-UBT-RN.
Do Inst. Hist. e Geog. do RN.
Da Com. Norte-Riog. de Folclore.
Da União dos Cordelistas do RN-UNICODERN.
Da Ass. dos Poetas Populares do RN-AEPP.
Do Inst. Hist. e Geog. do Cariry-PB.
E-mail: bobmottapoeta@yahoo.com.br
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