domingo, 25 de março de 2012

UM COMENTÁRIO DO JORNALISTA PERNAMBUCANO LUIZ BERTO FILHO...

UM CABRA QUE EU ADMIRAVA MUITO

Por ocasião do velório do grande cineasta francês Roger Vadim, que morreu em fevereiro de 2000, aconteceu um fato curioso.

Um cidadão anônimo aproximou-se do seu caixão, durante o velório em Paris, e ficou um tempo enorme em pé, olhando o falecido, prestando-lhe uma comovente e silenciosa homenagem. Quando estava se retirando, este cidadão foi abordado por um jornalista, que estava cobrindo o funeral, e perguntou qual a ligação que ele tinha com Vadim, se era parente ou se era amigo.

E o anônimo respondeu assim.

- Não sou absolutamente nada dele. Apenas um fã ardoroso. Um sujeito que comeu Brigitte Bardot, Catherine Deneuve e Jane Fonda merece toda minha admiração e respeito.

E foi embora tão silenciosamente quanto chegou.

Brigitte Bardot, Catherine Deneuve e Jane Fonda

Cuida-se aqui de três das mais encantadoras mulheres da história do cinema mundial. A seu tempo, foram criaturas belíssimas e que cativaram plateias do mundo inteiro. Todas elas foram dirigidas por Vadim e, também, foram esposas dele. Com duas delas, Catherine e Jane Fonda, Vadim teve filhos.

Eu me lembrava sempre de Vadim quando pensava na história de vida de Chico Anysio. E vice-versa. Ambos tinham paixão por mulher. Preferencialmente mulher bela e talentosa.

Um dos meus prazeres é rever os filmes nacionais dos anos 50, as chamadas chanchadas, nas quais pontificavam as mais belas mulheres daquele tempo, as vedetes e coristas que incendiavam a imaginação e a lidido dos brasileiros com suas coxas roliças, seus lindos rostos e suas bundas colossais.

Chico Anysio, que trabalhou em vários destes filmes, danou a bimba em muitas delas e passou uma vida inteira cercando, prestigiando, amando, namorando, honrando, cortejando e querendo bem ao bicho fêmeo. E esta foi uma das características que, ao lado da sua genialidade e do seu talento, me fizeram um apaixonado admirador do seu trabalho e de sua figura humana. Uma grande e singular figura humana.

Nancy Wanderley, belíssima e talentosa atriz, comediante e vedete dos anos 50, contracenando com Ankito; Nancy (já falecida) foi a primeira esposa de Chico Anysio; é mãe do também ator Lug de Paulo, o “Seu Boneco”

Chico Anysio era tão macho (sem ser nunca machão ou machista…) e tão apreciador de fêmeas, que chegou a encarar a então mais poderosa mulher da economia brasileira, aquela que confiscou as nossas poupanças, Zélia Cardoso de Mello, com quem se casou e teve dois filhos. Na verdade, Zélia deu a única filha mulher de Chico, Vitória.

Pode ser que tenha acontecido, mas não me lembro de ter lido em lugar algum que ele tenha tido sérias desavenças ou brigas irreconciliáveis com todas as mulheres que amou e com as quais viveu ou conviveu. Mulheres talentosas e belas, como Rose Rondelli, Regina Chaves ou Alcione Mazzeo. O que sei é que se dava bem com todas elas e que foi um excelente pai dos filhos que elas lhe deram. Enquanto escrevo, escuto a televisão dando notícias das ex-esposas que estão chegando pro velório.

Alcione Mazzeo, ex-esposa de Chico Anysio e mãe de um dos seus filhos, o também artista Bruno Mazzeo

Num mundo que está cada mais agressivamente heterofóbico e que caminha, apressadamente, pra tornar a viadagem e a baitolagem compulsórias, eu louvo, aplaudo, exalto e admiro Chico Anysio, que foi casado (com mulheres!!!) seis vezes e teve oito filhos. Cababom!

A outra faceta de Chico Anysio que eu admirava muito era o seu lado “nepotista”, mandando buscar e dando emprego pros familiares e contracenando com filhos e irmãos. Todos ganhando e faturando honestamente, às custas do suor e do talento. Um “nepotismo” que era extensivo aos humoristas e artistas de fora da família, que ele apadrinhava, acoitava e aos quais dava oportunidade e trabalho. O time dos novos e antigos humoristas do Ceará que o diga.

Existem quase trezentas diferentes maneiras da gente se lembrar de Chico Anysio. Cada um dos personagens que ele criou tem uma centelha de sua genialidade e de sua encantação como ser humano. Escolhi uma delas pra registrar minha tristeza com a sua partida. Ele e Arnaud Rodrigues, dois cabras da bixiga lixa que não estão mais neste mundo dos vivos, nos tempos de Baiano e os Novos Caetanos, cantando Folia de Reis.

Charge de Miguel, Jornal do Commercio

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