quinta-feira, 1 de março de 2012

SOBRE FLATULENCIA...

O CABRA QUE ENRICOU SOLTANDO PUM

Não sei se li no jornal
ou se foi numa revista
a sensacional notícia
sobre um incrível artista.
Tentarei reproduzi-la
em narração cordelista.

O fato ocorreu na França…
Existia um cidadão
(foi no século dezenove)
que por sua atuação
conquistou a preferência
das plateias da nação.

Na Paris daquele tempo
de astros era grande o rol,
havendo entre eles um
chamado José Pujol.
Por meio de flatulências,
tornou-se artista de escol.

Seu dom extraordinário
ou estranha habilidade,
em vez de causar vergonha,
deu-lhe a oportunidade
de faturar bom dinheiro
e virar celebridade.

O público ia ao delírio
nos teatros de Paris.
No Moulin-Rouge, inclusive,
o povo pedia bis…
Era um espetáculo inédito
na história do país.

No palco, o incomum artista
o locutor anuncia.
Sua aparição inunda
a plateia de alegria.
E a insólita apresentação
entre aplausos se inicia.

Esse tipo de atração
não era desconhecido.
Na Irlanda medieval
já havia acontecido
de artistas flatulentos
haverem se exibido.

Também em outros países,
conforme atestam zunzuns
registrados por cronistas,
esses shows eram comuns.
No Japão mesmo já houve
até concursos de puns.

[ 2 ]

Pujol, ainda moleque,
de maneira casual,
descobriu que tinha o dom
pouco convencional
de controlar os seus puns.
Isso era fenomenal!

Os músculos do abdômen
e os do ânus também
ele dominava como
não o fez nunca ninguém.
Sentiu que, usando esses dotes,
poderia se dar bem.

Viu que por via retal
retinha e após expelia
até dois litros de água,
parecendo uma magia,
e assim, controlando o ar,
reproduzir sons podia.

Passou logo a imitar
com bastante perfeição,
desde músicas populares
até latidos de cão,
incluindo outros ruídos
como tiros de canhão.

[ 3 ]

Pujol permaneceria
em completo anonimato,
se um dia alguém do teatro
não visse, no instante exato,
arte, muito embora excêntrica,
nos puns desse artista nato.

Então buscou convencer
o autor daquela arte rara
de que, indiscutivelmente,
haveria público para
pagar pra vê-lo atuando…
Pujol aceitou de cara!

Largou uma padaria
para investir na carreira
artística, então estreando
num teatro de terceira
categoria em Marselha,
onde atuou sem canseira.

É bom salientar que
colocar em prática a ideia
não foi tarefa tão fácil.
Por ocasião da estreia
somente familiares
e amigos era a plateia.

[ 4 ]

Mas passou em pouco tempo
para um teatro maior.
Após umas temporadas
viu compensado o suor
derramado: enfim galgara
uma posição melhor.

Foi direto pra Paris,
ali ficando famoso.
Lá ganhou muito dinheiro
como artista talentoso,
embora sua arte fosse
de gosto bem duvidoso.

Charges sobre ele saíam
com frequência nos jornais,
pelas apresentações
sempre sensacionais,
fazendo seu patrimônio
aumentar cada vez mais.

Sua fama se espalhou,
pois ninguém até então
havia feito sucesso
ou ganhado projeção
com instrumento de sopro
como o do tal cidadão.

[ 5 ]

Aos seus shows compareciam
importantes personagens,
como Leopoldo II,
rei belga, que, com alguns pajens,
viajou pra vê-lo, incógnito,
sem coroa e homenagens.

Rapidamente, Pujol
ficou rico de verdade,
dando-se até mesmo ao luxo
de construir por vaidade
um teatro só pra ele
se apresentar na cidade.

Vale acrescentar ainda,
pra informação do leitor,
que as emissões de gases
não tinham qualquer fedor.
Pujol sempre fora esperto,
sabia se dar valor.

Por isso lavava o cólon,
precavido e consciente,
todos os dias, com água
perfumada, certamente
com especiais substâncias
da química mais eficiente…

[ 6 ]

No entanto, a próspera carreira
terminou com a eclosão
da Primeira Grande Guerra
que chegou de supetão,
ao cenário mundial
trazendo destruição.

Após ver voltarem dois
filhos inválidos da guerra,
Pujol desiste dos palcos,
a carreira artística encerra
e volta para Marselha,
sua inesquecível terra.

Parecido com o francês,
Bom Jardim já teve um
camarada que apostava
soltar dezenas de pum,
jamais perdendo uma aposta,
pois não falhava em nenhum.

A quantidade de puns
em cada aposta era 100.
Um após o outro, audíveis,
que se ouvissem muito bem.
E o autor das flatulências
não perdia pra ninguém.

[ 7 ]

Muitas vezes, de propósito,
uma dúvida era criada,
quase no centésimo pum,
e era a contagem parada,
recomeçando do zero…
Para ele isso era nada!

Não fazia o peidorreiro,
portanto, a menor questão,
certo de que poderia
repetir a operação,
aceitando as artimanhas
sem nenhuma objeção.

Apesar de inusitados,
estes são fatos reais
protagonizados por
artistas especiais
que até hoje são notícia
em revistas e jornais.

Pra versejar, o poeta
deve estar sempre disposto.
Eis a razão deste assunto
para o cordel ser transposto.
Porém, no fim, reconheço
não ser de muito bom gosto.


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