O mistério das coisas - Alberto Caeiro
O mistério das coisas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.
Porque o único sentido oculto das coisas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.
Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: —
As coisas não têm significação: têm existência.
As coisas são o único sentido oculto das coisas.
Alberto Caeiro (Lisboa, Portugal, 1889 - Lisboa, Portugal, 1916) - É um dos mais populares heterônimos de Fernando Pessoa (Lisboa, Portugal, 13 de junho de 1888 - Lisboa, 30 de novembro de 1935). Poeta ligado à natureza, escreveu o Pastor Amoroso e O Guardador de Rebanhos. Disse uma vez Fernando Pessoa que "Caeiro era de estatura média, e embora realmente frágil (morreu tuberculoso), não parecia tão frágil como era [...] louro sem cor, olhos azuis". Nesta semana, somente poemas deste grande personagem da literatura
Nenhum comentário:
Postar um comentário