quarta-feira, 12 de outubro de 2011

ZÉ DA LUZ...

AS ASTÚCIAS DE ZÉ DA LUZ
Em nosso Brasil de outrora
E no sul de Pernambuco
Houve um senhor de engenho
Um tal coronel Nabuco
Ruim, malvado e perverso
Era o rei do trabuco

Entre os senhores de engenho
Segundo afirma o ditado
É bem difícil haver um
Pra não ser muito malvado
Diz um rifão velho que
O melhor morreu queimado

Este Nabuco era um
Dum gênio bem pervertido
Para dar surra no povo
Tinha um negro bandido
Dava tudo pra pegar
Quem tivesse um apelido
Certa vez um homem disse
O meu apelido é gato
O coronel gritou há!
Este apelido é de fato
Tenho muita precisão
De você pra pegar rato
Aqui não lhe falta nada
Quero que limpe o telhado
E chamou logo a esposa
Com um gesto agalhofado
Filomena vem ver Gato
Como é tão engraçado
Disse o pobre ao coronel:
Mas eu não sei pegar rato
Disse o coronel: Não sabe?
Pois aqui ou você pega
Ou apanha de ficar chato
Olhe aqui na minha casa
Tem muito rato catita
Porém você me fará
Uma limpeza bonita
Agora sim, quero ver
Gato fazer sua fita
Assim que anoiteceu
Logo o coronel chamou
Pelo vigia o tal negro
Este ao homem ordenou
Dizendo ou Gato suba
Que a hora já chegou
Disse ele ao coronel:
Só botando uma escada
Pois a casa é muito alta
E a parede é caiada
Oh… e você não é o gato
Porque não sobe sem nada?
Eu bem sei que você sobe
Mas gosta de uma escora
Mandou botar a escada
Gato subiu sem demora
Em seguida o coronel
Tirou a escada fora
O pobre agarrou-se aos caibros
E lá trepado ficou
Fazendo o papel de gato
Com dez minutos cansou
E já se desagarrando
Desesperado grito soltou
Seu coronel me acuda
Estou com os braços cansados
Disse o coronel eu quero
Os ratos todos pegados
Inda não pegou nenhum
Como estar com seus miados
Gato não podendo mais
Lá de cima se arrojou
Caiu sobre um sofá
O vigia o encorou
O pobre saiu aos pulos
Nunca mais ali passou
Doutra feita o coronel
Fez com um pobre outra obra
Pois este pediu serviço
Sem conhecer da manobra
Foi dizer que se chamava
Manuel Engole Cobra
O coronel disse bravo:
Você daqui eu não tanjo
Um rapaz assim só pode
Ser mandado por um anjo
Pra quem tem um nome desse
O que quiser eu arranjo
Naquele dia o negro
Tinha pegado na planta
De capim, uma serpente
Das que chamam salamanta
O coronel disse ao homem
Vou buscar a sua janta
Dizendo isto saiu
Como gênio de Lusbel
O negro ficou dizendo
Se prepare Manuel
Que você vai engolir
A cobra do coronel
Eu não! — bradou o coitado
Disse o negro: Não discuta
Nisso chega o coronel
Com a monstra absoluta
Vamos seu engole cobra
Engula logo esta bruta

O pobre pediu por tudo
Pra sair daquele apuro
O coronel atendeu
Mas mandou negro dar duro
Dar-lhe uma surra e depois
Um banho de mel de furo
Depois disso o coronel
Descansava no terraço
Chegou pedindo serviço
Um moço sem embaraço
De maleta e bem trajado
Com uma capa no braço
O coronel disse a ele:
Sua presença seduz
Como chama-se? Donde vem?
Que por aqui se introduz
Moro entre o céu e a terra
Me chamo José da Luz
Muito bem tenho serviço
Vou precisar do senhor
Mulher vem ver Zé da Luz
O homem qu’eu dou valor
Ele dará luz aqui
Quando encrencar-se o motor
O engenho de Nabuco
Era muito adiantado
E José na parte elétrica
Era perito afamado
Disse consigo: Eu ajeito
Esse coronel safado
O coronel deu a ele
Um quarto independente
Um aparelho possante
José fez secretamente
O qual da atmosfera
Capturava corrente
Uma noite no engenho
Lá faltou a energia
O coronel deu um grito
Chamando pelo vigia
Elpídio chama da Luz
Pra ver se ele alumia
Com pouco chegou da Luz
Sem alterar seu normal
Trazendo um molho de fios
Ligou na rede geral
Rapidamente acendeu
Uma luz especial
Todos ali admiraram
Aquele acontecido
Disse o coronel por isso
Ele tem tal apelido
Por aqui bem disfarçado
Com seu motor escondido
Zé da Luz foi pra seu quarto
Fazendo certo ar de riso
O coronel tinha uma
Filha igual um paraíso
Esta disse: É Zé da Luz
O rapaz que eu preciso
Pois um moço igual a ele
Grande ciência conduz
Ainda mais me fascina
Aqueles olhos azuis
Vou ver se ele me ensina
A arte de dar a luz
Quando todos foi dormir
Irene cheia de amor
Foi para o quarto do moço
Disse: José, por favor
Me ensine a dar a luz
Seja de que jeito for
José com todo respeito
Disse à Irene: Pois não
Começou a ensinar-lhe
Com grande satisfação
Ela mais ia aumentando
Por Zé da Luz a paixão
José guardou seu invento
E consertou o motor
Do coronel, esse viu
Do moço inda mais valor
Deu-lhe um lugar competente
De mecânico ajustador
Três meses depois Irene
Apareceu enjoada
De vez em quando engulhando
Um tanto desfigurada
Disse a mãe: Esta menina
Parece que está chumbada
O coronel disse mesmo:
Meninas agora supus
Que estás ficando com o bucho
Da forma de um cuscuz
Que é isto… ora papai
São lições de Zé da Luz
Nisso o coronel mandou
Chamar José de repente
José chegou ele disse:
Vais morrer barbaramente
Por faltar-me com respeito
Cabra cretino indecente
José disse: Coronel
S’eu vou você também vai
Se eu sair deste mundo
Deste mundo você sai
Fica sua filha órfã
E o seu neto sem pai
José arriou o negro
Veloz gritou: Coronel
Quer morrer ou possuir
Um genro amigo e fiel
Se não quer ver meu punhal
Entrar até o anel
Nisto o coronel partiu
Para estrangular José
José fez uma manobra
Ligeiro passou-lhe o pé
O velho caiu de bruços
Imitando um jacaré
José botou-lhe o punhal
O velho igual a raposa
Gritou: Da Luz, não me mate
Escute aqui lá cousa
Podes fazer dar a luz
Até mesmo minha esposa
Humilhou-se o valentão
Resolveu ficar fiel
Uniu José com a filha
Findou-se a fúria cruel
Irene deu luz bastante
Naufragou-se num instante
O farol do coronel.

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