O MEU LIVRO
Meu nome é Chico Braúna
Eu sou pobre de nascença
Deserdado de fortuna
Mas rico de consciença
Nas letras num tive estudo
Sou nafabeto de tudo
De pai, de mãe, de parente
Mas tenho grande prazê
Pruquê aprendi a lê
Duma forma deferente
ABC nem beabá
No meu livro não se encerra
O meu livro é naturá
É o má, o céu e a terra
Com a sua imensidade
Livro cheio de verdade
Da beleza e de primô
Tudo incadernado, iscrito
Pelo pudê infinito
Do nosso Pai Criadô
O meu livro é todo cheio
De muita coisa incelente
Em suas foia é que leio
O pudê do Onipotente
Nesta leitura suave
Eu vejo coisa agradave
Que muita gente não vê
Por isso sou conformado
Sem eu nunca tê pegado
Numa carta de ABC
Num é preciso a pessoa
Cunhecê o beabá
Pra sê honesta e sê boa
E em Jesus acreditá
Deus e seu milagre exato
Eu vejo mesmo nos mato
Justiça, verdade e amô
De minha mente não sai
Deste jeito era meu pai
E o finado meu avô
De que adianta a ciença
Do professô estudioso
Se ele não crê na existença
De um grande Deus Poderoso?
Eu sem tê letra nem arte
Vejo deus em toda parte
O seu pudê radiante
Tá bem visive e presente
Na mais pequena semente
E no maió elefante
Deus é força infinita
É o esprito sagrado
Que tá vivendo e parpita
Em tudo que foi criado
Não há quem possa contá
É assunto que não dá
Pra se dizê no papé
Não inziste professô
Nem sábio, nem iscritô
Pra sabê Deus cuma é
Apenas se tem certeza
Que ele é a santa verdade
E é a subrime grandeza
Em bondade e divindade
Porém se ele é infinito
E soberano e bendito
De tudo superiô
Que até os bicho lhe adora
Proquê muitos tão pro fora
Das orde do Criadô?
Deus quando o mundo criou
Ordenou a paz comum
E com amô insinou
O devê de cada um
Os home pra trabaiá
Um ao outro respeitá
E a boa istrada segui
E os bicho irracioná
Promode se alimentá
Produzi e reproduzi
Ainda hoje os animá
As orde santa obedece
Sem uma virga faltá
Se alimenta, omenta e cresce
Eles que nada raciocina
Não pensa nem tem razão
Continua sem disorde
Sempre obedecendo as orde
Do Sinhô da criação
Segue o seu caminho exato
Até a própria formiga
Trazendo foia dos mato
Dentro da terra se abriga
Sem nada contrariá
Cumprindo as lei naturá
Ao divino mestre atende
Sabe até fazê iscola
Pois ela só corta as foia
Das foia que não lhe ofende
Se o joão-de-barro, o pedreiro
Sabendo que não se atrasa
Faz de dezembro a janêro
A sua bunita casa
Com as porta pro poente
Pois nunca faz pro nascente
É orde do Sumo bem
Nunca aquele passarinho
Faz a porta do seu ninho
Do lado que a chuva vem
Tudo segue as orde santa
Sem havê ninhuma fáia
Enquanto a cigarra canta
A furmiguinha trabáia
Bria o lindo vaga-lume
Faz a aranha o seu tissume
E o passo beija-fulô
Voa pra frente e pra trás
E o certo é que todos faz
Aquilo que Deus mandô
Será que o home, esse ingrato
Dotado de intiligença
Vendo os bichinho do mato
Com tamanha obediença
Não se sente incabulado
Acanhado, invergonhado
Por não sigui as lição
Da istrada da sua vida
Esta graça concedida
Pelo autô da criação
A Divina Providença
Com o seu imenso pudê
Deu ao home intiligença
Foi pra ele se regê
Não precisa o Soberano
Chegá a dizê: Fulano
Seu caminho é por ali
Deus lhe deu o dom divino
O dom do raciocínio
Pra ele se conduzi
Ninguém vem contrariá
A mim, o Chico Braúna
Não precisa Deus mandá
Que a humanidade se una
Pois todos tem cunciença
Tem o dom da intiligença
Por defeito e gratidão
Todos tem de obedecê
Cada um tem o devê
De defendê seu irmão
Se todos observasse
A lei da santa doutrina
E um ao outro ajudasse
Cumo manda a lei divina
Num fizesse papé feio
Defendesse o que é aleio
Cum amô e cum respeito
Não precisava formado
Cum ané de adevogado
E nem juiz de dereito
Mas a farça humanidade
Continua disunida
Cheia de perversidade
Dois irmãos tirando a vida
Fulano xinga bertrano
Bertrano bate em sicrano
E de suja conciença
Vão impregando no crime
O que tem de mais subrime
Que é a sua intiligença
Com a inveja e o goirmo
Cum a suberba e a vaidade
Vão se socando no abismo
Se afastando da verdade
… não presa o seu dom
… aquilo que é bom
Cuma manda o Criadô
Pru fora das lei divina
Não segue a santa doutrina
Que Jesus Cristo insinou
Eu sempre pensei assim:
Deus cum a sua ciença
Não permite o que é ruim
É justo por incelença
Se iziste luta e mais luta
E fruto da má conduta
A divina majestade
Nunca quis briga na terra
O assassinato e a guerra
É obra da humanidade
Quem será que não cunhece
Quando sunda e pensa um pouco
Que o nosso mundo parece
Um azio cheio de louco?
Por causa dessa loucura
Só lá nas vida futura
As arma do Paraíso
Tão sujeita a jugamento
Não se sarva dez por cento
Vai sê grande o prejuízo
Este mundo está perdido
E o povo perdeu a fé
É muié contra marido
Marido contra muié
Tá tudo materiá
Ninguém pode potrestá
Esta certeza que digo
Do campo inté a cidade
Os amigo de verdade
Cum certeza tão cumigo
Eu sou Chico Braúna
Não digo palavra im vão
Fala o dotô na tribuna
E eu falo no meu sertão
O que achá ruim me perdoe
Mas o mundo sempre foi
Duro de se cuncertá
Dispois criaro o divorço
E cum a lei desse troço
Acabô de desgraçá
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