terça-feira, 25 de outubro de 2011

SOBRE O MIMETISMO DOS COMUNISTAS ATUAIS...JORNALISTA LUIZ BERTO. RECIFE.

No tempo em que era jovem e, em consequência, num sabia nada e achava que sabia tudo, eu e minha patota faziamos política estudantil, lá em Palmares, como militantes do PCB, o famoso partidão. Nós éramos da “linha Moscou”, de Luiz Carlos Prestes e Gregório Bezerra, e vivíamos arengando com a turma da “linha Pequim”, de João Amazonas e Maurício Grabois, que militavam na dissidência comunista brasileira, o PCdoB.
Semana passada, quando vi o programa eleitoral do PCdoB (que poderia ser chamado de Estelionato Eleitoral com toda certeza), fiquei estarrecido com o festival de desinformação e de embromação que botaram no ar. Não são apenas os comentaristas fubânicos dos dois extremos que detonam seus torpedos de bostosidades. No mundo lá de fora acontece o mesmo. O programa dos vermêios utilizou indebitamente o nome de muita gente famosa que nunca foi ou que nada tem a ver com o PCdoB.
A história recente do Brasil é um tema sobre o qual eu gosto de estar bem informado e tenho tudo que foi escrito sobre o asunto aqui na minha biblioteca. Tanto o que foi escrito por um lado, como o que foi escrito pelo outro lado. Tenho as memórias dos generais, e tenho também os relatos dos presos por crime de consciência, os banidos e os exilados.
E anotei aqui na minha agenda pra escrever sobre o assunto, sobre o festival de cagadas que foi o programa eleitoral dos encarnados na semana passada. Mas não foi nem preciso. No dia seguinte, Anita Prestes, filha de Luís Carlos Prestes, um dos garfados no programa do PCdoB, escreveu uma carta indignada à direção do partido que foi publicada aqui no JBF.
Ontem, li mais duas matérias que tratam do assunto e me desobrigam a escrever sobre o tema. Ainda bem. Tô cheio de serviços mais importantes pra fazer. E limito-me simplesmente a transcrever as duas matérias publicadas.
Vejam:
* * *
‘O PCdoB desapareceu nas selvas do Araguaia’

Diante das denúncias de corrupção vinculadas ao PCdoB, Victória Grabois constata que as convicções políticas defendidas por sua família acabaram esquecidas. Na Guerrilha do Araguaia, ela perdeu o pai, Maurício Grabois, o irmão, André Grabois, e o marido, Gilberto Olímpio, ex-combatentes que ainda hoje são considerados desaparecidos.
A senhora assistiu ao programa do PCdoB?
Assisti e fiquei indignada. Não posso admitir que usem a imagem do meu pai, um grande comunista, que deu a vida a esse partido por suas convicções políticas e ideológicas. Ele foi perseguido, cassado, e desapareceu com seus companheiros. Os fatos que hoje atingem o partido são lamentáveis e não podem estar vinculados a esses valorosos dirigentes. Se meu pai estivesse vivo, ficaria envergonhado com o que virou o PCdoB.
A senhora se refere ao noticiário envolvendo o Ministério do Esporte?
Sim. São estarrecedoras as notícias divulgadas pela imprensa sobre o envolvimento do PCdoB em escândalos de corrupção. Sinto-me mal com isso tudo. Antigamente não era assim. Afirmo sem medo de errar: o PCdoB desapareceu nas selvas do Araguaia. Além de citar Maurício Grabois, o partido usou também imagens de outros comunistas ilustres, como Prestes, Olga Benário, Jorge Amado, Oscar Niemeyer… O partido está usando a história das pessoas, que atuaram de forma digna, para responder a acusações de corrupção. Nessa hora, lembram desses nomes. Mas só posso falar pelo meu pai.
Como vivia um dirigente do PCdoB naquela época?
Minha família tinha uma vida espartana. Morava num apartamento de quarto e sala em Niterói. Tudo o que meu pai ganhava, inclusive como deputado constituinte (em 1945), era destinado ao partido. Não ficávamos com um tostão.
A senhora já foi filiada ao PCdoB?
Fui, até cinco anos depois que voltei da clandestinidade, em 1980. Depois saí, não aguentei mais. Li que o partido tem mais de cem mil filiados. Hoje aceitam qualquer um. No passado, a pessoa precisava ter vínculo ideológico para conseguir a filiação.
* * *
PASSADO A LIMPO
Carlos Brickmann

História alheia: Prestes e Niemeyer eram do PCB pró-soviético, inimigo jurado do PC do B. Quanto a Drummond, nem comunista era
Para o PCdoB, até o passado é imprevisível. Na luta para livrar o ministro dos Esportes, Orlando Silva, das acusações que lhe foram feitas, o partido delirou: no programa partidário para TV, tratou a História como massinha de moldar.
De repente, citam Luiz Carlos Prestes, Niemeyer, Drummond como grandes nomes do partido. Prestes, líder do PCB, linha russa, era inimigo do PCdoB, linha chinesa. Quando a União Soviética denunciou os crimes de Stalin, seu antigo ditador, Prestes e Niemeyer aceitaram as denúncias (Drummond já nem era comunista); o PCdoB ficou fiel a Stalin, rompeu com o PCB e mudou de nome.
Na época da ditadura, havia comunistas do PCB e do PCdoB na prisão. Quem falasse com o pessoal do PCdoB não era aceito para diálogo com a turma do PCB. Era esse o nível da inimizade, o tamanho da divergência: os heróis de um partido eram os que o partido inimigo considerava traidores.
Não, não houve erro ao recontar o passado. Houve manipulação deliberada, porque os dirigentes do PCdoB sabem melhor do que todos o que foi sua luta com o PCB. Houve uma tentativa de buscar para o partido os nomes históricos que, supõe o PCdoB, lhe dariam maior respeitabilidade. Tanto em russo, a língua preferida do PCB, como em chinês, o idioma do PCdoB, isso se define numa palavra extremamente precisa: falsificação. Se é desse jeito que pretendem salvar o ministro Orlando Silva, é melhor já ir pensando no nome de seu substituto.
Aliás, o PCdoB esqueceu Roberto Freire, que dirigiu o PCB. Discriminação?

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