domingo, 30 de outubro de 2011

A DIFERENCIAÇÃO DA PRESIDENTA DILMA.

FHC...O TRUNFO DE DILMA.

Ruy Fabiano

À presidente Dilma Roussef atribui-se escassa vocação política, o que agravaria os desafios que a pesada herança lulista lhe impôs. Ao menos num ponto, porém, essa afirmação merece ser revista: na capacidade que Dilma teve de atrair o principal quadro oposicionista – ninguém menos que Fernando Henrique Cardoso.

Foi uma façanha inteiramente construída por ela – e condenada por seu mentor, Lula, e pelo PT. Dilma, em junho passado, por ocasião dos 80 anos de FHC, escreveu-lhe uma carta, que tornou pública, reconhecendo o papel histórico que teve, no processo de redistribuição de renda e de saneamento da economia.

FHC, que fora crítico da presidente desde quando candidata, deu mostras de que o reconhecimento o sensibilizara. Não apenas fez-lhe elogios públicos, como passou a recomendar ao PSDB comportamento moderado em relação ao governo e a sustentar que a desestabilização da presidente era um desserviço ao país.

Até ali, já haviam caído três ministros e falava-se, na imprensa e no Congresso, na necessidade imperiosa de uma faxina ministerial em regra, o que seria desastroso para a presidente, já que se sabia que o que ocorrera na órbita dos ministros demitidos não eram fatos isolados, mas um padrão de governo, concebido por seu antecessor. Faxina, portanto, significava montar outro governo.

Diante dessa impossibilidade, FHC aconselhava maior tolerância e compreensão, para que a presidente pudesse, aos poucos, tomar pulso da situação e colocar em prática o seu programa de governo. Um argumento de aliado, jamais de adversário.

A recomendação teve reflexo interno no PSDB, que excluiu de seu comando justamente sua liderança mais crítica, o ex-governador José Serra, abrindo espaço para a ala mineira, de Aécio Neves, mais sensível à pregação conciliadora.

Desde então, o principal partido da oposição aprofundou sua crise de identidade. Não obstante a continuidade dos escândalos, que esta semana impuseram a demissão do ministro dos Esportes, Orlando Silva – o sexto, em dez meses, um recorde mundial no presidencialismo -, o partido manteve-se inerme no Congresso.

Limita-se a alguns discursos críticos, de fachada. A demissão de Orlando Silva, por exemplo, é obra incompleta na medida em que não alcança seu antecessor na pasta, o hoje governador de Brasília, Agnelo Queiroz, acusado de montar a máquina que sangrou recursos do Estado para o seu então partido, o PC do B, e ONGs amigas. Queiroz só trocou de partido porque o PT lhe oferecia condições mais concretas de vitória eleitoral.

Em meio a esse clima de crise, que a cada demissão se agrava, FHC recebe convite – e aceita – para ir ao Palácio da Alvorada, a primeira vez que ali vai desde que passou a faixa a Lula, em 2003.

Oficialmente, foi para um jantar formal em torno do grupo conhecido como The Elders (os anciãos, em português), que reúne líderes mundiais em torno de uma agenda de promoção da paz. FHC teria tido a ideia do encontro.

Sabe-se, porém, que, em política, formalidades servem de pretexto e cenário para consolidar alianças. Recebido em palácio, com pompa e circunstância, FHC seguramente dará sequência à sua missão moderadora dentro do PSDB, num momento em que a presidente necessita dramaticamente de bombeiros eficazes fora da órbita sectária do PT e adjacências.

Esse, reconheça-se, é um patrimônio político que Dilma construiu, à revelia de seus tutores, e que, neste momento, é o que de mais valia dispõe para enfrentar a tempestade política que se abate sobre seu governo. Tempestade que não tem prazo para acabar, nem se sabe como irá terminar.

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