A PONTE DO ROLO NEGRO
A ponte de R$ 1 bilhão em Manaus (AM), inaugurada na segunda (24), cairia pela metade do preço se após pagas as comissões de praxe, o governo contratasse os chineses com os preços que eles praticam.
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Como dizia um já falecido economista dos anos 70, é “mais econômico pagar a propina do que fazer a obra”…
A ponte inaugurada segunda-feira pela parelha Criador e Criatura: ligando o dinheiro do contribuinte diretamente aos bolsos dos guabirus
Ontem, em Manaus, com pompa, circunstância e os morubixabas a caráter, inaugurou-se uma ponte de três quilômetros e meio sobre o rio Negro. Foram quatro anos de espera, um a mais do que o previsto, com o custo final da obra quase dobrado, algo como R$ 1 bilhão.
Esses, digamos, imprevistos, no Brasil não ocorrem só “por esporte”, diga-se a bem da verdade. Ocorrem também por “saúde”, por “agricultura”, enfim por múltiplas razões, e em todos os casos, registre-se, não é coisa de amadores. Tanto que, segundo a arqui-inimiga revista Veja, entre janeiro de 2002 e junho de 2011 poderão ter sido desviados dos cofres públicos R$ 6,89 bilhões. Só no Ministério da Saúde, permanentemente prostrado ante a doença dos desvios, o embolso poderá ter sido de R$ 2,2 bilhões.
Com tal valor, diz a revista, poderiam ser construídas 2.446 unidades de pronto-atendimento, melhorando a vergonhosa ausência de serviços médicos, ainda que certo ex-presidente haja dito estar a saúde brasileira “à beira da perfeição”.
Voltando às pontes, não faz muito tempo a China inaugurou uma sobre o mar, um colosso com 42 quilômetros de extensão, que custou o equivalente a R$ 2,4 bilhões. Mais ou menos na mesma época, foi aprovado no Brasil o projeto da nova ponte sobre o rio Guaíba, que custará R$ 1,16 bilhão — em números de hoje, é claro.
Viu como somos econômicos? Viu como as notícias sobre corrupção são mesquinhas, frutos podres de uma imprensa que só sabe denunciar?
Ocorre que Gilberto Flach, um matemático intrometido, resolveu comparar as duas obras, chegando a resultados devastadores. Se o Guaíba ficasse na China e se em vez de rio fosse mar, a obra custaria R$ 170 milhões, enquanto a ponte chinesa, se construída no Brasil, custaria trilhões de reais. Quer fazer o cálculo? O preço da ponte chinesa é de R$ 57 milhões por quilômetro, enquanto o da brasileira é de absurdos R$ 400 milhões. Daí, a ponte ontem inaugurada, que custou R$ 1 bilhão, custaria na China R$ 199,5 milhões.
E pensar que o dinheiro dessas — aquiesça-se — diferenças seria suficiente para resolver muitos dos nossos problemas, dói. É o caso da ponte sobre o rio Negro, cujo custo é de partir o coração.
A propósito, os corruptos bem que deveriam ter consciência e pensar na PQP.
Na “ponte que partiu”, bem entendido.
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