sábado, 20 de março de 2010

Versejando...

EU VÔ SÊ UM DIVOGADO
José Irlando Morais

Mãe eu num vorto pá roça
Nem dibaxo de chicote
Ora bom basta minino!
Eu já tô é di pinote
Vô minborá pá cidade
Hoje eu to é invocado
Mãe eu vô virá dotô
Eu vô sê um divogado
Me dê meus pano de bunda
Queu já to saindo fora
Vô percurá ôto rumo
Já cansei de sê caipora
Derde antonte eu penso nisso
Eu vô percurá sirviço
lá pás banda da cidade
e só vorto divogado
mãe eu tô munto cansado
de misera e caridade
mode pudê sê dotô
é preciso munto istudo
sê valente sê raçudo
tê marra de agricultor
fazê as tuia de livro
promode passá no crivo
do tá do vestibular
mais tenho fé em Jesuis
vô carregá essa cruiz
mais um dia eu chego lá
da roça só levo calo
e a saudade da sinhora
passo a perna no cavalo
saio no romper da aurora
e quando aprender a ler
eu iscrevo pá dizer
da vida e do meu futuro
pois somente na iscola
se rasca o saco da irmola
sai do cisco e do munturo

vô percurá um trabaio
de predero ô de seuvente
pois na lida sô valente
eu arrumo um quebra gaio
pá pagar o meu istudo
mãe sabe qui sô peitudo
santa Rita é minha quia
quando eu tiver meu diproma
nunca mais ninguém me imbroma
juro pô santa Luzia
divogado tem sabença
disata tudo qué nó
pula nunha perna só
cunhece toda ciênça
disinrrola rapapé
num inseste nem muié
qui ingane esse danado
o recado é curto e grosso
tira o côro e roi o osso
e num fica nem suado
um dia eu vorto pra casa
que prumode ajudá pai
compro um pedaço de terra
e nunca mais ele vai
trabaiá de alugado
quando eu for um divogado
nois sai dibaxo do boi
mãe num to chorando não
e pruquê caiu sabão
na berada do meu oi
adoni aquele meu primo
agora é percuradô
ta morando na brasilha
é um famoso dotô
e eu vô no mermo rumo
dessa veiz eu me aprumo
mãe um dia eu mudo a vida
e vorto pô meu torrão
cum meu diproma não mão
pá minha terra querida.

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