Ví a Europa com 59 anos,
o menino de Nova Cruz atravessou o oceano Atlântico...
Fiquei de costas para lisboa, cheguei no Cabo das Rocas e avistei a América...
Me encontrei com Camões, e gritei para o mundo:aqui termina a terra e começa o mar...
Parei num castelo e ví o túmulo de Inês...realmente Inês está morta,
rebobinei o sonho dos grandes navegadores, quando navegar era preciso,
procurei por mim e só encontrei um menino,da rua do grupo, de Nova Cruz...
No reflexo das águas ví que existia um menino por trás dos óculos...
Parei no piano de Maria Primeira, a louca,meu sonho passeou no Palácio de Queluz,que eu só conhecia nas gravuras dos cadernos...de repente o piano era o de Irmã Luiza, que me apresentou a Deus...no Colégio das freiras em Nova Cruz...
Olhando o mar, ainda deu tempo de chorar pelo Brasil...minha Pátria amada, tão assaltada, berço da incessável corrupção...
Depois Madrid, revivi os castelos dos meus sonhos, o menino caminhou todos os corredores, todos os vãos,tinha pernas bambas, e ria de tudo...o menino era eu, que nunca morri...que não apodreci,corri atrás do Melro que minha mãe recitava na Poesia de Guerra Junqueiro: O MELRO eu conheci...era negro...voei com ele até a minha rede, onde minha mãe me acalentava , declamando poesias,fiquei mais criança ainda, constatei que a alma não morre, ela existe e é eterna...
DEPOIS, Paris...os meus olhos se perderam na luz da sua noite...eu cheguei a dilatar as pupilas...meus sentimentos eclodiram como um parto normal, bebi no vinho a angústia que suja os homens,e no arco do triunfo fiz minha jura de ser sempre feliz...
AS MAGNÓLIAS da CHANTE ELISEÈ me aplaudiram, eu ví que tenho o sentimento do mundo...
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