quinta-feira, 26 de julho de 2012

LITERATURA DE CORDEL...


 
Um folheto da autoria de Silas Silva
PELEJA DE ZÉ RAMALHO COM RAUL SEIXAS
Eu dormindo em noite fria
Com sono muito pesado
E num sonho prolongado
Fui pra uma cantoria
Um poeta me pedia
Um mote sem atrapalho
Cantou sem fazer atalho
Conheci nas suas deixas:
Vi que era Raul Seixas 
Cantando com Zé Ramalho.
Eu saudei os cantadores
E recomendei no mote
Explicar pra que se note
(Já que são dois pensadores)
O sofrer dos pecadores
Que vivem do indecente.
Deixe tudo consciente
Debaixo do seu chapéu
Pra chegar até o céu
E viver eternamente.
Já ouvi um comentário
Nos salões celestiais
Que vai sofrer muito mais
Quem controla o salário.
O jogo vira o contrário
E não fica com a gente
Enfrenta o ferro quente
É julgado como um réu
Pra chegar até o céu
E viver eternamente.
A inveja dos dragões
Jararaca ou sucuri
Quem comanda é nicuri
(Olho grande em ações)
Com as suas pretensões
De nunca se ver contente.
Nem ajuda indigente
Que na rua vive ao léu
Pra chegar até o céu
E viver eternamente.
Raul Seixas
Quem venera a traição
Nas normas do caminhar
Terá contas a prestar
Na linha de sedução
Quem ocupa o coração
Tendo mais de um vivente
De modo inconfidente
Corra, lave este véu
Pra chegar até o céu
E viver eternamente.
Zé Ramalho
No mundo globalizado,
Onde falha justiça,
Compra quem ela cobiça
Assim sendo potentado
Pra não ser sentenciado
Criminando livremente.
Se quebrar essa corrente
Vai pagar no mausoléu
Pra chegar até o céu
E viver eternamente.
Raul Seixas
Pra deixar sua matéria
Sem saber qual o destino
Faça um análise fino:
Se você pintou miséria
Esta coisa é muito séria
Pra sair pela tangente.
Mesmo sendo repelente
Tente ganhar seu troféu
Pra chegar até o céu
E viver eternamente.
Cada um mostrou ciência
Com vigor e com noção
Transcendendo a emoção
Com bonita transparência
Bem seguros na cadência
O mote foi versejado
Eu lhes dei muito obrigado
E seguiu a cantoria
Com aquela euforia
Num estilo malcriado.
Raul Seixas
Lhe convido pra cantar
Um repente mais aberto
Veja que eu sou esperto
Cantei, canto e vou cantar
E em fá, tonalizar
Pra deturpar o seu plano
Você sabe sou baiano
Sou a soma desta conta
E não vou temer afronta
De vate paraibano.
Zé Ramalho
Raul Seixas lhe aviso
Eu vou cantar novamente
Vou mostrar neste repente
Que sou bom no improviso
No Brasil aonde eu piso
Não vejo dificuldade
Já estou com essa idade
Cantador nenhuma me cala
Você vai perder a fala
Com a minha tonalidade.
Raul Seixas
Já falei do monstro “Siste,”
Também da filosofia
Corroendo quem confia.
E no jogo quem insiste
Cai no ofício que existe
Descartando o que é bom
A trombeta muda o tom
E avisa a chegada
Porque vem antecipada
A batalha “Armagedom”.
Zé Ramalho
Nesta linha eu compus
A canção do gado novo
Ressaltando nosso povo
Que tanto aqui produz
De modo que o conduz
Sofrer com exploradores
E nas mãos dos Senadores.
Por ser mal gerenciado
No Brasil desempregado
Ficam os trabalhadores.
Raul Seixas
Eu fui quem incentivei
Padre Cícero  na igreja,
Do santo que se corteja
Devoção eu preservei.
Mas depois eu me privei
Me juntei com o Corisco
E pedi correndo risco:
A Juscelino Kubitschek
Eu preciso de um cheque
Pra poder gravar um disco.
Zé Ramalho
Você tem experiência
Eu também sou viajado
Num martelo agalopado
Mostrei minha competência
Meu verso tem procedência
Da sublime inspiração
Também sou revelação
Nesta linguagem profética
Fiz denúncia mas com ética,
Dentro da minha canção.
Raul Seixas
Se você fez aventura
Conte-me uma perigosa
Que não seja mentirosa
Mostrando sua bravura
Como fiz na ditadura
E depois fui pelos ares.
A mando dos militares
Fui parar em um exílio
Sem haver um empecílio
Pelo ar, terra nem mares.
Zé Ramalho
Eu voei numa cegonha
Tomei chá de cogumelo
Tinha um dedo amarelo
De tanto fumar maconha
Em Fernando de Noronha
Dei um tempo na viagem.
A viola da bagagem
Tirei porque me destina
Cheirei muita cocaína
E fiz outra decolagem.
Raul Seixas
Vi gente profetizar
E descrever as visões
Que viu nessas previsões
Todo azul do céu mudar
E se despigmentar
Ganhar cor de tom incerta,
A lua ser encoberta
Não jogar mais seus reflexos
Deixando muitos perplexos
E a terra ficar deserta.
Zé Ramalho
Eu também fiz previsão
Eu previ que será visto
Com o poder do anticristo
Vir das trevas Lampião
Mostrando em dimensão
Seus feitos paranormais
Com poderes levitais
Produzindo um “best seller”
Que nem mesmo “Uri Geller”
Conseguiu fazer os tais.
Raul Seixas
A zebra,  quando pintaram
Fiz presente nesta hora
E lhe digo sem demora
Quanto tempo demoraram
E depois onde guardaram
A sobra daquela tinta.
Não espere que eu minta
Pra de min tirar proveito
O pintor foi um sujeito
Que se foi com mais de trinta.
Zé Ramalho
Este homem eu conheci
Há muito tempo atrás
Ele em tudo era capaz
Um trabalho dele eu vi
E se não lhe convenci
Saiba que ele envernizou
A barata e guardou
O verniz lhe digo a data
E a química que usou.
Raul  Seixas
Zé Ramalho,  em tua frase
Não encontro adjetivo
E não sei qual o motivo
Que não usa ele quase
Nem se serve d’uma crase
Virgula, ponto de exclamação
Não vejo interrogação
Então “aspas” pode abrir
Pro seu erro assumir
Dando uma explicação.
Zé Ramalho
Não respondo em tua ausência
Pra não me sentir covarde
Ou mais cedo, ou mais tarde
Me tratas como excelência
Porque sei cantar ciência
Sem murrar ponta de faca
Vi tu cozinhar da jaca
Caroços que deu entulho
Pois acaba todo orgulho
Quando a fome lhe ataca.
Raul Seixas
Pra terminar a porfia
Me pediram outro mote
Disseram se tiver bote
Mais dinheiro na bacia
Eu pensei no dia-a-dia
No crime contra a nação
Pedi uma explicação
Neste mote improvisado
A justiça tem errado
Quando aplica a punição.
Zé Ramalho
Você vê nas capitais
Grande caos na medicina
Morrer gente sem vacina
Nas filas dos hospitais
Vê-se erros tão fatais
Por medico cirurgião
Tendo a jurisdição
E não ser sentenciado
A justiça tem errado
Quando aplica a punição.
Raul Seixas
Em plena “Sodomania”
Observo as gerações
Vivendo transformações
Mergulhadas na orgia
Além da pedofilia
Tendo proliferação
Quem recebe acusação
Não está preocupado
A justiça tem errado
Quando aplica a punição.
Zé Ramalho
O Brasil vive dilema,
Se vê no maior abismo
Neste clã de nepotismo.
Dando furo no sistema
Através de forte esquema
Quem ganha na eleição
Vem roubando a nação.
E lhe digo meu prezado
A justiça tem errado
Quando aplica a punição.
No final grande emoção
Invadiu meu peito insone
Uma voz no microfone
Fez uma anunciação
E houve transformação
Como um “flash” que produz
Raios, reflexos de luz
Enquanto Raul partia
Zé Ramalho decidia
Cantar no Brejo da Cruz.

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