O PROTESTO DA ÁRVORE
Edmilson Feitosa
Fui broto, fui galho, dei flores, dei frutos. O tempo passou e hoje sou tronco.
Suporto, não só o peso dos anos, mas também o peso de uma das mais belas obras da natureza: a árvore.
Que venham os pássaros: cantem ao alvorecer, ao anoitecer, à hora que quiserem. Biquem meus frutos, façam seus ninhos, namorem, procriem; não cobro aluguel.
Que venham as abelhas: suguem o néctar de minhas flores, façam seu precioso mel; é de graça.
Que venham as formigas: levem até o último cristal de minhas resinas, que fabrico com tanto sacrifício para cicatrizar minhas feridas; não me importo.
As crianças… Oh! As crianças: armem seus balanços, seus trapézios em meus galhos; cantem, brinquem de roda, joguem bola, pião, bola-de-gude; brinquem de 31 alerta, peias, queimadas ou lacuchia; fico feliz.
Os namorados… saquem seus afiados canivetes, cortem minha casca desenhando feios corações com setas transpassadas e completem a cafonice escrevendo “Eu e Tu”, perpetuando o segredo de uma grande paixão; nada falarei.
Mas, uma coisa eu peço, suplico, ou melhor, protesto; protesto com toda a força das minhas raízes:
VÃO MIJAR NA PUTA QUE PARIU!
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