quinta-feira, 28 de julho de 2011

LITERATURA DE CORDEL...

* * *

Um folheto de Marco di Aurélio

MÓI DE VAGABUNDO

Eu num sei porque bixiga
cupim só dá em madeira
deveria dá em gente
comendo assim pelas beira
livran´esse nosso mundo
de um mói de vagabundo
que só pensa em roubalheira.

É muita cara-de-pau
um magote de safado
ter sentado numa escola
uma vaga ocupado
pra dispois passar a mão
e viver feito ladrão
e de doutor ser chamado.

Eu mesmo num sei mais não
só queria entender
como é que uma família
cum seu jeito de viver
educa o destinatário
pra virar um salafrário
que bota o povo a sofrer.

Inda fica orgulhosa
dizendo pra todo mundo
que tem um filho bonito
com saber muito profundo
e que hoje é deputado
sem saber qu´ele é safado
um eterno vagabundo.

É triste ter que ouvir
uma mãe tão enganada
defender um tribufú
das urêia encarnada
de tanto mamar na teta
de viver só de espreita
da nação arreganhada.

Eu aqui acho é pouco
o povo nunca quer ver
pra escolher deputado
que tem honra no viver
é preciso muita luta
pois o cargo se disputa
no dinheiro de correr.

Tem um ditado que diz
pro mundo ficar lascado
é preciso dois jumento
um em pé outro sentado
um dizendo como é
que ele quer o cabaré
com o outro bem calado.

Eu num sei por quanto tempo
tenho ainda de esperar
que o jumento assentado
sinta seu rabo coçar
e levante da preguiça
olhando pra injustiça
de seu jeito de votar.

Quem sabe juramentado
de um novo bem saber
cum o rabo já coçado
sem a perna se tremer
ele aprenda a lição
que é numa eleição
a chance de se eleger.

Eleger o próprio, não!
o camim mal começou
eu num sei qual o pecado
da desgraça do estupor
que malassina seu nome
já dá nele uma fome
de já ser governador.

Hôme! Lá dê-se o respeito
pegue já o seu atalho
primeiro seja eleitor
um macaco de seu galho
num queira passar os pés
você num vale dois réis
nessa mesa de baralho.

Os eleito me perdoe
ser aqui muito sincero
a maioria da casa
tanto baixo e alto clero
chegou aí de trivela
sendo hoje essa mazela
cum o mesmo lero-lero.

Mundiça! Tome vergonha
deixe de atrapalhar
um país que quer crescer
um povo que quer sonhar
com um futuro melhor
pegue lá seu fiofó
vá pro inferno coçar.

Seja sua serventia
essa sua fulerage
vá de ladeira abaixo
se for capaz de corage
o diabo que te carregue
muntado em riba dum jegue
celado de mudernage.

É esse o teu destino
num venha cum latumia
teu caso num tem remédio
quem disser que tem é fria
pois nunca vi um ladrão
ter calo no mei da mão
ou se acordar cum o dia.

Mas tu vai te arrepender
é pena ter sido tarde
o inferno vai cobrar
cada pedaço de carne
e ainda vai ter troco
e no teu buraco oco
vai ter pimenta que arde.

Eu só queria que um dia
o diabo dissesse assim:
quem tiver cum a molesta
chei de dente no fucim
comendo o que é dos outro
tem vaga pra capiroto
aqui bem junto de mim.

Eu mandava ajuntar
dum lugar que eu conheço
um balaio de ladrão
para servir de começo
juro que esborrava
de safado espirrava
o salão do endereço.

Parece que tou te vendo
cum o rabo entre as perna
acuado pelos canto
de tua casa paterna
pedindo abença o cão
dizendo ser bom ladrão
e o mundo é que num presta.

Ora se eu bem soubesse
se lá o diabo aceitava
receber antencipado
a corja que aqui roubava
eu ficaria cansado
vesgo, estrupiado
pro inferno eu empurrava.

Deixava o roçado limpo
a erva daninha morta
plantava a mãe justiça
bem no meio dessa horta
e o mundo vacinado
com um muro levantado
pra ladrão nunca ter porta.

Mandava passar um cal
no terreno da roubança
pegava aqueles dois pratos
testemunhas da lambança
derramava racumim
tocava fogo em tudim
até mesmo na lembrança.

Ficando lá de vigia
uma trinca de punhal
na hora que o mal viesse
a capada era geral
cabôco ruim num vingava
os ladrão se acabava
bem antes de virar pau.

Por certo esse país
precisa se acordar
precisa tomar vergonha
precisa saber votar
pois quem tem o seu ladrão
num reclame outro não
merece se estrupiar.

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