domingo, 31 de julho de 2011

TE PEGUEI NO FLAGRA...

POR CARLITO LIMA...



De repente o carro tremeu, Osvaldo sentiu as bordoadas no pára-choque traseiro. Olhou para trás, a mulher acelerava o carro em batidas contínuas atrás do Toyota do marido, e gritava. “Raparigueiro sem vergonha, foi a última vez que me traiu.” Verônica, a namorada sentada ao lado, ficou assustada, vinha de uma tranquila tarde no motel. Entardecia, o pôr-do-sol se espraiava ao longe na praia da Ponta Verde, entretanto, naquele momento havia acabado todo romantismo, Osvaldo tentou minimizar. “É uma louca, ex-esposa, me persegue, quando me encontra com mulher, inferniza minha vida, vou processá-la, eu tentando refazer minha vida, ela faz esse escândalo.”

Aproveitou o sinal vermelho, girou a direção para direita, fugiu do flagrante. Quando chegasse em casa seria pior, conhecia sua mulher apesar de apenas três anos de casados. Levou a namoradinha em casa, ela pediu para não mais procurá-la, não sabia ser casado. Ele, enfático, negou. “Aquilo é uma doida!”

Tinha que encarar a esposa, tentar uma conversa amena, pedir perdão, eram planos enquanto dirigia rumo sua casa, apreensivo e até medroso, enfrentar fera ferida não é brincadeira. Em frente ao edifício, viu suas roupas jogadas, espalhadas pelo jardim. O porteiro recolhia algumas vestes. Osvaldo estacionou, entrou silencioso sem querer ser visto, ao colocar no carro seus pertences, Helena apareceu na janela do 6º andar, abriu o verbo: “Você nunca mais vai me trair seu filho da puta, vá embora daqui antes de eu lhe dar um tiro.”

Não teve outro jeito, catou as roupas, pastas, papéis, saiu rápido, procurou hotel. Tomou banho, esperar a mulher esfriar a cabeça e o coração, naquele momento não adiantava discutir. A noite chegou, o sono não veio, ainda estava sob o efeito da emoção, da adrenalina, ser apanhado em flagrante é doloroso, não tem explicação. A mulher sabia de tudo, perguntou certa vez quem era a sirigaita chamada Verônica. Ele gaguejou Helena percebeu, mulher ciumenta procura e encontra, conhece as reações de um mentiroso. Osvaldo passou a noite acordado, arrependido, amava a esposa, apenas não estava acostumado à vida de casado, queria ser eterno solteiro.

No apartamento Helena chorou, chorou muito, não quis telefonar para mãe, nem para amigas, tinha que resolver o problema sozinha, gostava do cretino, entretanto, jamais admitiu traição, é de sua índole. Não era a primeira, nem segunda vez. Não nasceu para corna. Tomou um demorado banho imerso, com o sabonete alisou seu corpo, veio-lhe o desejo de estar com seu homem, não podia, tinha amor próprio, jamais aceitaria a deslealdade. Saiu da banheira, nua se olhou no espelho, sentiu-se melhor ao ver-se uma mulher sensual, pernas bonitas, bem delineadas, chegou mais perto ao espelho, encarou seus olhos, viu-se por dentro, mulher nova, cheia de vigor, uma vida para viver.

Eram 10 horas da noite, sexta-feira, os bares cheios, a moçada em busca de diversão, alguns carentes se preenchiam no chope. Helena perambulou belo baixo Jatiúca, sozinha, em busca de não sabia o quê. De repente avistou duas amigas à beira da calçada num bar, dirigiu-se à mesa, foi bem acolhida, festejada. Contou às amigas a traição de Osvaldo, recebeu maior apoio moral, afinal, amiga é para essas coisas.

As três continuaram juntas noite adentro, numa boate se misturaram com amigos. De repente Helena em cima da mesa deu um show de requebro, o povo aplaudia a dança sensual da bela morena. Veio-lhe à mente a cena de um filme, se inspirou, levantou a saia, segurou na calcinha, foi baixando-a, fez um strip-tease coberto, tirou a calcinha, a moçada foi ao delírio, com a mão rodou, rodou, até jogar a calcinha branca no meio do salão. Desceu à mesa, divertia-se com as cantadas de todos os homens. Naquela noite não ficou com ninguém.

No outro dia, um pouco de ressaca, sem algum arrependimento. Hoje Helena é maior boêmia da cidade, ama a noite, não quer se amarrar, muitas propostas, só quer diversão. Osvaldo já tentou várias vezes reconciliar, ela responde, “sem chance, tolerância zero à traição.”

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