domingo, 27 de fevereiro de 2011

UM CARNAVAL DIFERENTE...




QUANDO O CARNAVAL CHEGAR


Tô me guardando pra quando o Carnaval chegar. Quando chegar, chegou. Tô nem aí. É ele prum lado e eu pro outro. Em relação ao Natal, mudei eu, admito. Mas em relação ao Carnaval, mudamos nós dois, eu e ele. E se alguém mudou pra pior, eu é que não fui.

Não vou pegar a estrada, não vou a parte alguma. Nem praia, nem campo, nem hotel cinco estrelas. Em todo canto é perigoso. A gente corre o risco de topar com o Carnaval. Até no cafundó de Judas. Já topei com ele lá.

Vou ficar por aqui. “A literatura é a arte de ficar em casa”, segundo Proust, citado por Marcus Accioly numa crônica aqui no JC dia desses. Vou ficar de pernas pro ar, lendo, e com a bunda na cadeira, escrevendo. Sair, só pra caminhar. E ver os netos, que eu não sou de ferro. Jornal, só pra saber onde não tem Carnaval. Nada de restaurante. Cinema da Fundação, talvez. Bar, nem pensar! A pior coisa do mundo é bêbado de carnaval com talco na cara, colar de havaiana, camiseta regata e alegre por obrigação. “É Carnaval, pô!”.

Rádio do carro, só na JC/CBN. E TV aberta, só o Jornal Nacional pra saber os números da tragédia. Mortos e feridos em percentagem. E gráficos. Tanto por cento a mais do que no ano passado. E ano que vem tem mais, muito mais que este ano. Viva o Telecine e as entrevistas de Geneton Moraes Neto no GNT.

Alguém conhece coisa mais chata do que desfile de escola de samba? Tudo igual. Igual ao do ano passado, que foi igual ao do ano anterior e que será igual ao de para o ano. A sogra de um amigo meu dizia que gostava. Quando a Globo anunciou a transmissão ao vivo, ele sapecou um DVD com o desfile do ano anterior, comprado justamente pra sacanear com a velha. Ela viu duas escolas numa boa, como se estivesse assistindo pela primeira vez. Quando a terceira entrou, a velha já tava puxando o maior ronco.

(Em matéria de segredo, sou um túmulo. Por mim, ela não vai saber nunca que pagou esse mico. Se contei aqui, foi por que quem gosta de desfile de escola de samba não lê crônica; acha que a gente muda muito de assunto).

Carnaval já foi uma coisa engraçada. (Eu também já tive mais graça, reconheço). E não durava tanto tempo como agora, um mês e tanto. A coisa começava no sábado e acabava na madrugada da quarta. “Oh! quarta-feira ingrata / Chega tão depressa / Só pra contrariar.”

No sábado da semana pré, Grito de Carnaval nos clubes. No domingo, Manhã de Sol. Ah! tinha também o corso nas ruas do Centro. E Assustado. Sem que o dono da casa soubesse, chegava todo mundo de surpresa, a gente levando a bebida e as meninas, a comida. Na radiola, Capiba e Nelson Ferreira (“25 anos de Frevo” e “O que eu fiz e você gostou”), além das marchinhas do carnaval carioca. Frevo pra pular e marchinha pra dançar colado. “Vou beijar-te agora / Não me leve a mal / Hoje é Carnaval”.

O poeta Alberto Cunha Melo disse numa crônica há quatro anos, na revista Continente, que quando gostava de um filme, locava o DVD “uma, duas, três, ene vezes”. Os campeões de relocação foram Sob o domínio do medo, de Sam Peckinpah (“onde aprendi que a violência não tem pátria, ela mora no homem”) e Depois de horas, de Martin Scorsese (“o filme mais kafkiano a que já assisti”). Já liguei pra Classic e fiz as reservas.

Carnaval? Que o diabo o carregue!

Joca Souza Leão é pernambucano da gema e já foi folião; sabia até fazer o passo. Podes crer!

Nenhum comentário:

Postar um comentário