UM TEXTO DE NELSON MOTTA
ENFIM, SÓS
Como é bom ter uma presidente que não vive esbravejando nos palanques e dividindo o País entre ricos e pobres, entre as elites e o povo e culpando os adversários políticos por todos os males do Brasil.
Que delícia não ter que ouvir todo dia a presidente dizer que o Brasil começou no dia em que ela tomou o poder e que os que a antecederam só lhe deixaram uma herança maldita.
Que alívio ter uma presidente que não se diz uma metamorfose ambulante nem tem opinião formada sobre tudo, até sobre o que totalmente ignora.
Como é edificante ter uma presidente que não se orgulhe de sua grossura e ignorância nem deboche dos que estudaram mais. Que sensacional é ter uma presidente que lê jornais. E livros!
Como é civilizado ter uma presidente que defende os direitos humanos, tanto em Guantánamo como em Cuba e no Irã. E que declara que o Brasil não deve dar opinião sobre tudo que acontece em outros países.
Como é gostoso não ouvir a presidente acusar todos que não a apoiam de ter preconceito contra pobre, nordestino e operário. Ou contra mulheres de origem búlgara de classe média.
Como é moderno ter uma presidente que não chama todo mundo de companheiro, como na antiga Cuba.
Que prazer é não ter que ouvir uma presidente dizer que o nosso sistema de saúde está próximo da perfeição.
Como é confortador ter uma presidente que não diz que o mensalão é uma farsa da imprensa golpista. E que não faz nomeações partidárias para o Supremo Tribunal Federal.
Como é animador ter uma presidente que não proclama que o Brasil está milionário e estabelece como lema de governo “fazer mais com menos”.
Que vai tirar Furnas e a Funasa dos quadrilheiros do PMDB e contratar um alto executivo para a Secretaria de Aeroportos.
Que deleite é não ver todo dia as páginas dos jornais e as telas de televisão ocupadas pela presidente e suas ações, opiniões e omissões.
Como é bom para a democracia ter uma presidente que não joga para a imprensa e obriga os jornalistas a correr atrás de notícias.
Que maravilha será ter uma presidente que assuma as suas responsabilidades e faça o que tem que ser feito.
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