quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Semiologia Popular...

CARLOS AIRES


Antigamente no sertão pra curar-se de qualquer mal era nó-cego, não existia médico nas cidades ou se acaso houvesse algum tinha que fazer verdadeiros milagres para atender a contento as queixas e males da população.

Aqueles lugares que não desfrutavam desse privilégio tinham que recorrer àqueles farmacêuticos sabidos da época que medicavam com todo tipo de medicamento e até se arriscavam fazer micro cirurgias em casos mais graves como sarjar um furúnculo retirar um espinho que pra poder conseguir tinha que fazer uma pequena incisão etc…

Outra saída era procurar os curandeiros que faziam garrafadas de várias ervas cascas e raízes de diversos tipos de arvores cipós e arbustos da região.

Ainda aqueles que mantinham a crença religiosa procuravam os benzedores e benzedeiras muito comuns nesses lugares.

Ainda tinham aqueles chamados catimbozeiros, homens sabidos ou simplesmente “professor” fulano de tal, eram esses personagens que fazia de tudo pela saúde do povo carente através da fé ou da medicina caseira rudimentar.

No causo abaixo conto a história de “Seu Joaquim” que se o ouvinte leitor prestar atenção vai ver que ele tava numa fase muito difícil e recorreu a todos esses meios e não obteve nenhum êxito terminou por depois de tudo procurar um médico.

Vamos conferir esse causo em texto!!!



XÔ CATIMBÓ E MEIZINHA AGORA EU VÔ PRO DOTÔ!!!

Mi proguntaro asto dia
Cumé qui tutais Juaquim?
Respondi sem arrilia
E foi mais ou meno assim
Eu tô mei disleriado
Os mocotó tá inchado
Tô sintinno um farnizin
Pió qui pirão de sebo
Andano iguarmente um bebo
Sem mi aprumá no camim!!!


Um gôgo me aperriano
Queu tusso pra mi lascá
Um insporão me furano
Bem no mei do caicanhiá
Qui me dexa essa manquera
Tomém sofro uma cocêra
Aqui nas parte da frente
Vivo anssim nessa quizila
Num tenho a vida tronquila
Quiném tinha antigamente

Sofro de dô incausada
De ispinhela caída
De junta descunjuntada
Na canela uma firida
Qui vevi a martratá eu
Já virô “sarou morreu”
Disso tô ciente e certo
Arre cum quanta mazela
Tô cum pigarro na guela
Tomém cus’peitos aberto

Tô tumano uma meizinha
Qui seu Mané fêis pra eu
Cum titica de galinha
Cidrêra, eiva-doce, breu
Tem casca de quixabêra
De pau-carrasco, aruêra
Raspa de pau-angelim
Jucá, jatobá, angico
Catuaba, grão-de-bico
Feijão-de-boi e gergelim

Mé de abêia jataí
Cravo do reino pimenta
Semente de calumbí
Vinte gota de água benta
Tem foia de maiva-rosa
Inté baba de babosa
Ali Seu Mané butô
Tumei cum todo coidado
Num rugime insagerado
E as mazela num passô

Aí eu dixe tá rim
Pos tô cada veis pió
Minha veia dixe assim
Acho quisso é catimbó
Vai lá no congá de Chica
Que toda essa trumbica
Qui tu tem vai se acabá
Sinti assim um receio
Mai sigui o seu cunceio
Fui direto pro Congá!!

Dona Chica proguntô
Uqué qui voismicê tem??
Dixe é as mão cum tremedô
Os pés tremeno tomém
Disarranjo de institino
Meu pescoço já tá fino
E o bucho inchô, cresceu
Nos uvido inscuito uns grilo
Nem me alembro mai daquilo
Num sei o qui acunteceu!!

Sinto um fastio disgamado
Uma sede da bixiga
Amarelo, dicorado
Arroto-choco, lumbriga
Vista curta dô de uvido
Cum o coipo esmurecido
Sem corage sem alento!!
Dona Chica, eu sofro tanto
Se dói quonde me alevanto
Tomém dói quonde me asscento

Ela dixe insperaí
Queu vô vê se dô um jeito
Pru favô se assente ali
Incaloque a mão no peito
E arripita o que digo
Pra mode eu vê se consigo
Discubri o qui se passa
Nessa sua mente fraca
Acho qui essa urucubaca
É um feitiço da disgraça

Pegô rezá uns bendito
Cuns gai de arruda bateno
Quaje qui nun acredito
Naquilo queu tava veno
Ela chorava gemia
A boca fechava e abria
Suava de riba a baxo
Passô uma meia hora
Dispois disse vassimbora
Vou lhe aprontá um dispacho

Amenhã ditardezinha
Voismicê torne a vortá
Mi traga quato galinha
Um bode mode matá
Qui é pra vê se agrada o santo
E afugenta esse quebranto
E tudo o qui o sinhô sente
E além do que já foi dito
Nesse papé tá inscrito
Os zoto zingridiente

Dalí saí ligerin
Vortei pra casa cansado
No otô dia cedin
Tudo qui tava anotado
Comprei lá in “Seu Bigode”
Peguei as galinha o bode
Juntei tudo e fui in frente
Cum aquelas mercadoria
E bem no finar do dia
Eu chei lá novamente!!

Fiz a intrega do pedido
O qui acunteceu num sei
Mai já tô disiludido
Pois in nada miorei
Se o santo num se agradou
Ô se Chica num honrô
O cumpromisso selado
Feiz um seviço fulêro
Eu só fiz gastá denhêro
E continuei lascado!!

Num tomo meizinha mais
E nem vô pra catimbozêro
Pruque milaigre quem faz
É nosso Deus verdadêro
Que é pai e superiô
Vou procurá um dotô
Pra vê se fico curado
Cum meizinha e catimbó
Gastei dinhêro qui só
Sem ter nenhum resultado!!!

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