sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

OS INOCENTES...


O cara - João Paulo Cunha, acusado de lavagem de dinheiro e corrupção, retorna ao poder




A VOLTA DOS INOCENTESPublicado por Luiz Berto .


O PT conquistou a Presidência da República pela terceira vez consecutiva. Comanda a Câmara dos Deputados e responde pela vice-presidência do Senado Federal. Está à frente de dezessete ministérios e avança sobre cargos de segundo escalão antes comandados por aliados. Ou seja, o partido tem um glorioso presente e um futuro que se anuncia ainda longo e brilhante. Mas isso tudo dá ao PT poder para mudar o passado? Pois é justamente isso que seus líderes estão tentando fazer.

Luta-se agora pela absolvição e reabilitação de dirigentes partidários processados por planejar e operar o mensalão, o notório esquema de desvio de dinheiro e compra de apoio no Congresso pelo governo passado. Nas últimas semanas, a estratégia começou a sair do papel numa sucessão de movimentos políticos. Movimentos que têm em comum o propósito de lustrar a imagem de petistas denunciados à Justiça e ao mesmo tempo, influenciar o Supremo Tribunal Federal (STF) a inocentá-los.

Na semana passada, o PT escolheu João Paulo Cunha para comandar a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. João Paulo foi presidente da Casa entre 2003 e 2005, quando jorravam para os bolsos de parlamentares governistas recursos das arcas do empresário Marcos Valério, o caixa do mensalão. No Supremo, o petista responde por lavagem de dinheiro, corrupção passiva e peculato (apropriação indevida de bem público). Mesmo assim, ele foi indicado para a mais poderosa comissão temática, por onde passam os principais interesses do Legislativo, do Executivo e do Judiciário.

Segundo um líder petista, João Paulo ganha com a posse na CCJ uma espécie de atestado público de boa conduta, ou como se diz no jargão constitucional de reputação ilibada. Além disso, terá a chance de estreitar laços com representantes dos tribunais superiores, ao negociar temas prioritários da magistratura entre eles, reajustes salariais para togados e servidores.

Há dez dias, foi a vez de o PT acudir o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu. Numa reunião fechada que precedeu a festa de comemoração de 31 anos do partido, petistas anunciaram a disposição de realizar mobilizações nacionais em defesa da absolvição do colega processado por formação de quadrilha, e reafirmaram a intenção de anistiá-lo no Congresso. Cassado em 2005, Dirceu está inelegível até 2015.

Recentemente, numa rodinha de petistas, o ex-ministro divagava sobre suas amizades e a posição, segundo ele, que ministros do Supremo Tribunal Federal deverão adorar no julgamento do processo do mensalão. Em dado momento, disse ser amigo do ministro Luiz Fux, que ainda não tomou posse: “Ele está bem alinhado comigo”, profetizou. “Não tenho conhecimento da amizade entre Dirceu e Pux. Nenhum ministro se dará por suspeito. Não há nada que justifique um eventual impedimento”, afirma José Luís Oliveira Lima, advogado do petista.


João Paulo Cunha e José Dirceu reconhecem a importância do respaldo do PT na batalha judicial. Mas contam mesmo é com o apoio de Lula. Na festa de aniversário do PT, o ex-presidente mais uma vez tentou reescrever o passado. Repetiu as teses da “conspiração das elites” contra seu governo e de que os pagamentos a parlamentares se destinavam a saldar dívidas de campanha. Lula insistirá nessa cantilena até o dia do julgamento.

Na tentativa de confundir, os petistas espalham falsas” versões sobre o maior escândalo de corrupção da história e usam como podem a influência de colegas de governo. Os petistas processados contam, por exemplo, com uma mãozinha de Nelson Jobim, ministro da Defesa. Ex-presidente do Supremo, conhecido pela afinidade que tem com alguns ministros da corte, ele convidou o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino para trabalhar como seu assessor. Genoino também é réu no mensalão por formação de quadrilha. A parceria de Jobim com Genoino é usada como prova da fragilidade das acusações.

“O Jobim deu um recado ao governo e ao PT. Por que nossos ministros não convidam companheiros processados para trabalhar? Vamos vencer a batalha da opinião pública”, prega o deputado petista Devanir Ribeiro. Outros pesos-pesados do mensalão também apostam no indulto. Entre eles, o ex-ministro Luiz Gushiken, o ex-tesoureiro Delúbio Soares e os ex-deputados Paulo Rocha e Professor Luizinho.

Delúbio não foi à festa da legenda, mas já formalizou seu pedido de refiliação. Portavoz do mantra dos “recursos não contabilizados”, ele foi expulso do PT na esteira do mensalão. Responde a processo por formação de quadrilha e corrupção ativa. Os vitoriosos reescrevem a história a seu modo. Isso é sabido. Mas mesmo para eles existem limites.



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DISCURSO ENSAIADO

Depois do ostracismo, os envolvidos no escândalo do mensalão voltam à cena política repetindo o mesmo e enganoso enredo.

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“Foi tudo conspiração das elites”

A verdade - A revelação de que parlamentares se vendiam ao governo foi feita por um aliado, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, confirmada por uma CPI presidida por um petista e demonstrada pela Procuradoria-Geral da República.

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“Eram recursos não contabilizados”

A verdade - O Supremo Tribunal Federal abriu processo contra quarenta acusados de envolvimento no mensalão. Eles respondem por crimes de lavagem de dinheiro, corrupção passiva e ativa, formação de quadrilha, evasão de divisas, peculato e gestão fraudulenta.

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“Não teve dinheiro público”

A verdade - Trecho da denúncia da Procuradoria-Geral da República ao STF: “Pode-se afirmar à luz das provas colhidas que recursos públicos foram desviados para os crimes descritos. Refiro-me, como exemplo, ao montante desviado do Banco do Brasil através da empresa Visanet”. Só nessa operação citada, foram desviados 10 milhões de reais.

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“Não havia pagamento de mesada”

A verdade - O mensalão foi denunciado por muitos de seus beneficiários. Os pagamentos eram regulares e quase sempre feitos no fim de cada mês.

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