sábado, 10 de julho de 2010

Trinta Anos sem VINICIUS DE MORAES...


Epitáfio
Vinicius de Moraes
Composição: Vinicius de Moraes
Aqui jaz o Sol
Que criou a aurora
E deu a luz ao dia
E apascentou a tarde

O mágico pastor
De mãos luminosas
Que fecundou as rosas
E as despetalou.

Aqui jaz o Sol
O andrógino meigo
E violento, que

Possui a forma
De todas as mulheres
E morreu no mar.


Numa madrugada de tempestades no Rio de Janeiro, nasce o menino que mais tarde seria poeta, advogado, diplomata, boêmio, compositor, sambista, censor cinematográfico e um grande campeão em casamentos, pois chegou a casar noves vezes. Mesmo assim, não se considerava um mulherengo, dizia ser “mulherólogo”.

Ainda garoto, começou a escrever versos. Aos dezessete anos, ingressou na Faculdade Nacional de Direito, onde conheceu personalidades importantes do meio intelectual e jurídico.

Concluiu o curso de Direito em 1933, ano em que lançou o seu primeiro livro de poemas “O Caminho para a Distância”.

Atuou pouco como advogado, tendo ingressado no Ministério da Educação, onde exerceu o cargo de censor cinematográfico. Em 1938, ganhou uma bolsa e mudou-se para a Inglaterra a fim de estudar língua e literatura inglesa. Casou-se por procuração com Beatriz Azevedo de Melo. Em 1939, devido ao início da Segunda Guerra, volta ao Brasil.

Morou um bom tempo em São Paulo, depois voltou ao Rio de Janeiro. A poesia facilitou a sua aproximação com Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Mário de Andrade e Cecília Meireles.

A carreira diplomática iniciada em 1943 motivou a sua saída do Brasil. Morou e trabalhou em vários países sem, contudo, deixar a atividade literária.

No começo dos anos 60, começa a compor em parceria com Baden Powell, Carlos, Lira, João Gilberto, Tom Jobim e Pixinguinha.

Conseguia conciliar a sua vida de diplomata com atividades ligadas à música, ao cinema, ao teatro e à poesia, sem jamais deixar de ser boêmio.

Foi exonerado do serviço diplomático pelo governo militar em 1969. Casou com Cristina Gurjão. Em 1970, conheceu e iniciou sua parceria musical com Toquinho. Além de parceiros, ficaram grandes amigos. Fizeram várias excursões.

Em 1979, voltando de uma viagem à Europa, sofre um derrame cerebral a bordo de um avião. Um edema pulmonar aos 67 anos pôs fim à sua agitada vida. Estava em casa com sua mulher Gilda Mattoso e Toquinho, com quem escolhia canções para a gravação de um LP que se chamaria Arca de Noé.

Bem perto de Vinícius morrer, um repórter perguntou se ele tinha medo da morte. Ele respondeu: “Não, meu filho, eu estou com saudade da vida”. Este era o Poetinha, como carinhosamente o tratavam.

De sua parceria com grandes nomes da MPB, resultaram belas composições, com destaque para as que foram feitas com Toquinho e Antônio Carlos Jobim.

A sua paixão pelas mulheres, fez com que se casasse nove vezes. E assim, viveu intensamente o amor, a música, a poesia e a boêmia, pois não dispensava um bom uísque nos principais momentos de sua vida.

Nas suas canções, sempre cantou o amor, como as que seguem: Chega de Saudade, Garota de Ipanema, Luciana, Modinha, Serenata do Adeus, A Felicidade, Meditação, Brigas Nunca Mais, Na Hora do Adeus, Vida Bela e mais algumas centenas.
Ausência
Vinicius de Moraes
Composição: Vinícius de Moraes
Eu deixarei que morra em mim
o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar
senão a mágoa de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença
é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto
existe o teu gesto e em minha voz a tua voz
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar
uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
como nódoa do passado
Eu deixarei...
tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos
e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite
e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa
suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só
como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém
porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar,
do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente,
a tua voz ausente,
a tua voz serenizada.

*Tarde em Itapoã
Vinicius de Moraes
Composição: Vinicius de Moraes / Toquinho
Um velho calção de banho
O dia pra vadiar
Um mar que não tem tamanho
E um arco-íris no ar
Depois na praça Caymmi
Sentir preguiça no corpo
E numa esteira de vime
Beber uma água de coco

É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã

Enquanto o mar inaugura
Um verde novinho em folha
Argumentar com doçura
Com uma cachaça de rolha
E com o olhar esquecido
No encontro de céu e mar
Bem devagar ir sentindo
A terra toda a rodar

É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã

Depois sentir o arrepio
Do vento que a noite traz
E o diz-que-diz-que macio
Que brota dos coqueirais
E nos espaços serenos
Sem ontem nem amanhã
Dormir nos braços morenos
Da lua de Itapuã

É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã
* *

Rancho das flores
Vinicius de Moraes
Composição: Vinícius de Moraes
Entre as prendas com que a natureza
Alegrou este mundo onde há tanta tristeza
A beleza das flores realça em primeiro lugar
É um milagre do aroma florido
Mais lindo que todas as graças do céu
E até mesmo do mar
Olhem bem para a rosa
Não há mais formosa
É flor dos amantes
É rosa-mulher
Que em perfume e em nobreza
Vem antes do cravo
E do lírio e da Hortência
E da dália e do bom crisântemo
E até mesmo do puro e gentil malmequer
E reparem no cravo o escravo da rosa
Que é flor mais cheirosa
De enfeite sutil
E no lírio que causa o delírio da rosa
O martírio da alma da rosa
Que é a flor mais vaidosa e mais prosa
Entre as flores do nosso Brasil
Abram alas pra dália garbosa
Da cor mais vistosa
Do grande jardim da existência das flores
Tão cheias de cores gentis
E também para a Hortência inocente
A flor mais contente
No azul do seu corpo macio e feliz
Satisfeita da vida
Vem a margarida
Que é a flor preferida dos que tem paixão
E agora é a vez da papoula vermelha
A que dá tanto mel pras abelhas
E alegra este mundo tão triste
No amor que é o meu coração
E agora que temos o bom crisântemo
Seu nome cantemos em verso e em prosa
Porém que não tem a beleza da rosa
Que uma rosa não é só uma flor
Uma rosa é uma rosa, é uma rosa
É a mulher rescendendo de amor

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