sexta-feira, 9 de julho de 2010

Saudades de Toinho, do Quinteto Violado...


Luiz Gonzaga levou a música lá do seu pé de serra para as grandes capitais do Brasil. Seu QG era entre o Rio e São Paulo, mas foi expulso pelos acordes dissonantes da Bossa Nova e pelo iê-iê-iê da Jovem Guarda. O baião, no entanto, não morreu e foi reintegrado à MPB graças aos baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil. Duas outras pessoas também foram extremamente importantes para a “ressurreição” do forró como um todo: o sanfoneiro Dominguinhos (que agora se bandeia pra fuleiragem) e o contrabaixista Toinho Alves, responsável pela criação do notável conjunto chamado Quinteto Violado.

Antonio Alves, o Toinho, era conterrâneo de Dominguinhos, ambos nascidos em Garanhuns/PE. Toinho aprendeu a cantar com os monges beneditinos e só depois de formado em Engenharia Química pela UFPE e de ter exercido a profissão, tomou gosto de vez pela música a ponto de largar seu antigo ofício. Em 1971, juntamente com Sando (flauta), Fernando Filizola (viola sertaneja), Luciano Pimentel (percussão) e Marcelo Melo (violão), fundaram o famoso quinteto.

Era a música nordestina com novos arranjos e executada por um conjunto que aparentemente abolia a sanfona (instrumento maldito para muitos), elevando-a para um nível de maior sofisticação. Além das composições próprias, o Quinteto ainda recriou a música de Luiz Gonzaga conseguindo levá-la para platéias muito exigentes do Brasil e do exterior.

Os arranjos feitos por Toinho Alves para a música Asa Branca (Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira), regravada no primeiro LP do grupo, lançado em 1972, lhe deram uma nova e belíssima vestimenta que renderam ao Quinteto o reconhecimento e os aplausos da crítica especializada de todos os cantos do País, notadamente do exigente eixo Rio de Janeiro - São Paulo.

Após trinta e sete anos de estrada, a formação do Quinteto já não era a mesma. Morrera o baterista Luciano Pimentel e se desligaram do grupo o flautista Sando e o violeiro e sanfoneiro Fernando Filizola. Aí o conjunto ganhou novo estilo com a introdução do tecladista Dudu Alves, filho de Toinho Alves, mais o flautista Ciano Alves, sobrinho de Toinho, e Roberto Medeiros na percussão. Continuava em atividade, porém sem aquele mesmo brilho dos anos setenta porque estavam ausentes a viola e os componentes da formação original.


Na manhã de 29/5/08, Toinho Alves, que gozava de relativa saúde (diabetes sob controle), foi encontrado morto pelo filho único Dudu, no seu apartamento em Piedade – Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife. Estava sereno dentro de uma rede e o rádio que ouvia ainda continuava ligado. Tinha 64 anos e morava só, quem sabe se pra poder morrer em paz. Como coordenador do Quinteto estava cuidando da agenda junina do conjunto para aquele ano. Dizem que um jogo do Sport, time para quem torcia apaixonadamente e que naquele ano sagrou-se campeão da Copa Brasil, o matou de emoção.

Apesar de não ser o vocalista do grupo, muitas vezes Toinho Alves emprestava a sua bela voz em apresentações e gravações musicais. E uma das músicas mais bonitas de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, Juazeiro, ganhou interpretação definitiva na voz cortante de Toinho, acompanhado do belo instrumental do Quinteto, auxiliado pela magistral sanfona de Sivuca com quem dividiu os arranjos.

Juazeiro tem uma das mais tocantes melodias de Gonzaga para a qual o advogado, poeta e músico Humberto Teixeira colocou uma letra primorosa. Fala do primeiro amor do Rei do Baião pela filha de um fazendeiro de Exu que era contrário ao romance e o proibira. Mesmo assim a moça apelidada de Nazinha dava um jeito de se encontrar com Luiz à sombra de um juazeiro nas tardes quentes nordestinas. Foi a segunda música da dupla e uma das que até hoje são muito relembradas.

Na época com 17 anos, Gonzaga “peitou” o pai da moça, levou uma surra dos pais, fugiu pra Fortaleza e ingressou nas fileiras do Exército brasileiro onde passou nove anos como soldado corneteiro. Ganhou em Minas Gerais, onde também serviu, o apelido de “bico de aço” porque dizem que além de tirar notas impressionantes do seu instrumento, o sopro de Luiz Gonzaga se fazia ouvir por todo o batalhão, principalmente quando tocava o toque de silêncio. Mas o toque que ele gostava mais era o do rancho (chamado pra comida), pois sempre pegava arrego no cassino dos oficiais onde o rango era melhor. Gonzaga sempre foi um malandro sertanejo!

Da saudade dessa moça veio a inspiração pra melodia de Juazeiro (que a própria família reivindicou tempos depois os direitos autorais pra Januário), cuja letra ficou da maneira que Gonzaga queria, mas não tinha capacidade de fazer. É um baião sofrido, uma canção de amor à maneira nordestina. Foge daquela temática de seca e sofrimento.

Com esse canto de dor de Toinho Alves, fica registrada a nossa modesta homenagem a esse magnífico músico, cantor, compositor, poeta, arranjador e produtor musical, que será sempre lembrado como um dos mais importantes nomes da música popular brasileira.





3 comentários:

  1. Hoje morando em São Paulo desde 1969. Bateu muitas Saudades! De fatos vividos em minha Terra Natal. Garanhuns/Pe. Lembrei que, quando criança "quase" fui adotada pela mãe deste ilustre conterrâneo. O Toinho do Quinteto Violado. Nosso destino realmente é Inesplicável. Eu Morava na Rua Frei Caneca e lembro-me bem. Certo dia, cortando o cabelo com a irmã dele, ela comentou este fato comigo. Teria sido mais feliz? Com certeza minha vida seria outra...São fatos a relembrar. Somente.

    Obrigada Pe. Celestino.

    ResponderExcluir
  2. Prezado Padre Celestino Pimentel, achei o seu blog por acaso, pesquisando sobre o Quinteto Violado, e gostei muito desse texto. Sou apreciador do Quinteto desde a adolescência, quando descobri essa magnífica versão de Asa Branca, talvez só igualada pela que o próprio grupo fez no elepê "Coisas Que o Lua Canta", de 1983, para mim, o último grande trabalho do Quinteto, pois marca a saída do Luciano Pimentel e do Fernando Fillizola. Mas, por sua história, eu o respeito muito o grupo ainda hoje e, volta e meia, acompanho pela Internet o que ele anda fazendo. E, claro, nunca deixo de ouvir os antigos trabalhos. Agora, confesso que eu não sabia da morte do Luciano Pimentel. Soube apenas da morte do Toinho Alves, que chegou a ser noticiada em notas na grande imprensa nacional. Eu gostava muito da bateria dele. Pena que jamais o vi tocando. Só o conhecia de disco. Quando comecei a ver os shows do Quinteto, em Goiânia, ele já não estava mais no grupo. Desculpe escrever tanto, mas o Quinteto Violado é inspirador. E parabéns pelo blog.

    ResponderExcluir
  3. Fui amigo de Luciano Pimentel, gente boníssima, e a morte dele nos pegou de surpresa. Segundo soubemos, foi causada por um ataque cardíaco, e comentava-se que o roubo da sua Kombi, com todo o equipamento profissional de sonorização, próximo à sua residência nas Graças, contribuiu para esse desfecho. Pouco tempo depois, também faleceu seu filho, Lucky, que o acompanhava nos trabalhos de sonorização. Que Deus os tenha, botando ambos, juntos, som lá em cima. Isso sem falar no excelente baterista que Luciano era. E com uma história de vida, exemplo tanto para muito músico iniciante como para os ditos veteranos.

    ResponderExcluir