terça-feira, 27 de julho de 2010

Duelo em Cordel...


Cego Aderaldo e Domingos Fonseca

Domingos Fonseca

Aderaldo eu vou na frente
Cantando conveniente
Vou traduzindo o repente
Que alguém dê atenção
Eu estou de prontidão
Junto com meu companheiro
Fazendo verso ligeiro
Eu oiço verso em quadrão

Cego Aderaldo

Eu cheguei nesse lugar
Mas aqui não é meu lar
Outras terra e outros mar
Outro céu e outro sertão
Vou falar de prontidão
Não é um cantar bem dito
Porém meu verso é bonito
Em quadrado, quadro, quadrão

Domingos Fonseca

Cheguei ao Rio de Janeiro
Junto com meu companheiro
De fato ganhei dinheiro
Mas já estou em percisão
Porém nesta ocasião
Dona Dulce nos convidou
E nossa sorte melhorou
Cantando oitavo em quadrão

Cego Aderaldo

Vou preparar o quadrado
E vou arrumar o esquadro
Para ver se faço quadro
Preparar a quadração
Ver as quadras como são
Depois do quadro bem feito
Canto muito satisfeito
O quadrado, quadro, quadrão


Domingos Fonseca

Eu dou a bala ao meu peito
Quadrando do mesmo jeito
Para ficar satisfeito
Quadro o dedo e quadro a mão
Quadro o café, quadro o pão
Quadro o pão, quadro o café
Quadro a igreja, quadro a fé
E termino tudo em quadrão

Cego Aderaldo

Pra fazê um oitavado
Pra depois ficá quadrado
Pra ficá sextivado
Vou fazê a quadração
Mostro os quadro como são
Tudo riscado ao compasso
Tendo lá um pé de aço
Em quadrado, quadro, quadrão

Domingos Fonseca

Quadro a fôrma, quadro o queijo
Quadro a boca, quadro o beijo
A vontade e o desejo
O gozo e a satisfação
Aqui tenho o coração
O coração e a vida
Quadro a praça e a avenida
E termino tudo em quadrão

Cego Aderaldo

Ó meu Deus, que cousa boa
Não levo a conversa à toa
Minha palavra revoa
Pela força de um pulmão
Não me dói o coração
E não é uma cousa louca
Sai o meu verso da boca
Em quadrado, quadro, quadrão

Domingos Fonseca

Eu não quero me gabar
Desejo apenas cantar
Agora é pra terminar
Que o moço acenou a mão
Eu olhei pra posição
Vou terminar meu repente
Sim, senhor, já estou ciente
Vou terminar meu quadrão

* * *

Geraldo Amâncio e Severino Feitosa trabalhando o tema:

A ENCHENTE NO SERTÃO

Severino Feitosa

Outros poetas vieram
escalar nessa jazida,
nesse ambiente se teve
muita noite divertida,
e a voz de Geraldo Amâncio
precisava ser ouvida.

Geraldo Amâncio

Nunca vi na minha vida
um inverno como esse,
porém cantar hoje à noite
era do meu interesse,
São Pedro escondeu a chuva
pra que o verso aparecesse.

Severino Feitosa

É nesse grande interesse,
que eu descubro o continente,
com o preparo da fé
e com a coragem da mente,
DEUS trouxe a chuva de água
e você trouxe a de Repente.

Geraldo Amâncio

É rio botando enchente,
é sapo fazendo espuma,
vim fazer três cantorias,
findei fazendo só uma,
mas até com prejuízo
o cantador se acostuma.

Severino Feitosa

Todo rio tem espuma,
que a mão de Deus expôs,
as casas já desabaram,
desceram novilha, bois,
e o prejuízo de hoje
será de lucro depois.

Geraldo Amâncio

Tem água em baixa de arroz,
toda lagoa alagada,
tem açude se arrombando,
tem chuva cortando estrada,
Deus satura a terra seca
e ninguém pode fazer nada.

Severino Feitosa

A mata está enfeitada
de muriçoca e mutuca,
o pingo d’água maior
em cima da flor machuca,
e a terra parece mais
como um pano de sinuca.

Geraldo Amâncio

Cada nuvem arapuca,
que chega com cor escura,
o Orós há 15 anos,
sem ter água com largura,
há 3 dias tá sangrando,
com 10 metros de altura.

Severino Feitosa

Voa alto a tanajura,
canta melhor o tetéu,
o torreão no nascente
vem vestido no seu véu,
pra Deus abrir as torneiras
da companhia do céu.

Geraldo Amâncio

Se vê nuvem de chapéu
passando sem dar aviso,
abriram todas torneiras
que existem no paraíso,
em vez de dar muito lucro
tou temendo é prejuízo.

Severino Feitosa

Deus não mandou um aviso,
pra fazer nenhum passeio,
mas hoje está gargalhando
quem achava o tempo feio,
quem pensou que não chovia,
hoje vê o rio cheio.

Geraldo Amâncio

Com esse inverno que veio,
que traz fartura sem fim,
dá pra nascer a semente,
lavoura, grama e capim,
porém pesado demais
pode até se tornar ruim.

Geraldo Amâncio

Nos temos que suportar
as chuvas torrenciais,
as enchentes aparecem
e o povo perdendo a paz,
ninguém pode é blasfemar
do que a natureza faz.

Severino Feitosa

Se acabaram meus ais
depois dessa decisão,
com a nuvem no espaço
e água rolando no chão,
se vê um açude cheio
dentro do meu coração.

Geraldo Amâncio

Tem pipoco de trovão,
que no espaço eu escuto,
tem muito pobre escapando
debaixo de viaduto,
o pobre é predestinado
não tem sossego um minuto.

Severino Feitosa

Ficou melhor pra o matuto,
que dormia no terraço,
e depois que a chuva veio
se acaba todo fracasso,
quem nunca mais limpou mato,
prepare seu espinhaço.

Severino Feitosa

Enche a cacimba mais rasa,
sobra para o poço fundo,
o que cai em um minuto
é dividido em segundo
Deus quando manda é pra todos,
que é pensando em todo mundo.

Geraldo Amâncio

Graça de Deus que é Pai,
que tem grandeza sem fim,
mas se tem conhecimento,
que um velho falou pra mim,
que todo ano de 4
nunca tem inverno ruim.

Geraldo Amâncio

Eu acho espetacular,
ter inverno em nosso chão,
o sapo canta no mato,
e a jia no cacimbão
e as borboletas voando,
brincando de procissão.

Geraldo Amâncio

Galo de campina canta,
o seu grito apareceu,
perguntou ao bem-te-vi
e a rolinha respondeu,
o sebite lá na frente
diz que no sertão choveu.

Severino Feitosa

Foi isso que aconteceu,
de Patos a Imaculada,
Teixeira e Taperoá,
quem trafega na estrada,
vai saber que pra o matuto,
vai sobrar terra molhada.

Geraldo Amâncio

Não está faltando nada,
que o sertão tá colorido,
o feijão botando rama,
e o pendão está comprido,
que até do Fome Zero
o povo está esquecido.

Severino Feitosa

Melhor é o resultado,
que é força do Pai eterno,
ele é onipotente,
poderoso e é moderno,
nós temos que agradecer
à beleza do inverno.

Geraldo Amâncio

A terra fica mais bela
vê-se a enchente descer,
a grama enfeitando o chão,
e a pastagem aparecer,
e Coremas despacha água
pra o oceano beber.

Geraldo Amâncio

Tem água por toda veia,
ou meu Deus muito obrigado,
muita gente tem morrido,
passando rio de nado,
quem se acabava de sede,
está morrendo afogado.


Geraldo Amâncio

Meu rio ficou moderno,
que passa lá em Aurora,
está muito diferente
daquele tempo de outrora,
que agora está viajando
bem meia légua por fora.

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