quarta-feira, 28 de julho de 2010
O Berço que eu tive...
É impossível esquecer, a qualidade do berço que me acalentou na infância...como minha mãe era fantástica...como minha mãe captava as coisas bonita e as introduziam nas mentes das suas crianças.Como em 1960,eu com cinco anos, Nova Cruz sem água e sem luz,a gente tomando banho de cúia, regrado, com água salgada,retirada do cacimbão de Paulo Bezerra,iluminando as noites com lamparinas á querosene, de pavio de algodão,queimando querosene jacaré,com um Rádio que MAIS CHIAVA DO QUE FALAVA,e a minha mãe amanhecia o dia dizendo:Estou maravilhada, com uma crônica que escutei de Artur da Távola, na radio MAYRINK VEIGA...
Anos depois,conhecí Artur da Távola,na TV senado, apresentando o programa:Quem tem medo da música clássica...o mesmo era senador pelo Rio de Janeiro, mas era um intelectual, ilustríssimo,culto,com o sentimento do mundo na alma...minha mãe tinha razão,era um homem encantador...Depois soube,por Leonardo Arruda Câmara,que Artur da Távola tinha como psiquiatra,um homem from Nova cruz,o Dr Domício Arruda Câmara, um famoso psiquiatra do Rio de janeiro,irmào de Lauro Arruda Câmara,o patriarca...o médico e o paciente se tornaram muito amigos.
O Certo, é que tudo que fosse poesia, que fosse humano,que tivesse tolerância, que tivesse caridade, que tivesse poesia, a minha mãe reverberava para os filhos...tínhamos uma educação continuada nesta linha.Mamãe respirava a caridade ,e a liberdade....tinha horror a lacaios...era casada com as letras...e só rendia homenagem ao talento.Tinha ódio da corrupção...
Agora mesmo,estava sem sono, e começou a açoitar nos ouvidos, uns versos que minha mãe declamava incessantemente quando eu era criança...liguei o computador e e valí-me do GOOGLE,e descubro esta beleza de OLAVO BILAC: O PÁSSARO CATIVO.
Relembrei quantas vezes, escutava ela declamando,Esta poesia, toda vez que eu queria criar um passarinho preso, coisa que ganhava muito, de presente,quando era criança...com poucas horas, depois de recitar muito esta POESIA, ela escondida, abria a gaiola e soltava o pássaro.
Sinceramente,relembrei deste fato,colocando na interpretação da poesia,os meus calos de cinquentão, e a experiencia acumulada,e ao mesmo tempo, vendo também com os olhos de menino e compreendí e agradecí a DEUS....é por isso que eu não me chamo João,sou um homem livre,não moro de lado ,nem sou Maria vai com as outras...NEM SOU AVE QUE VOA EM BANDO...NEM VIVO DE VIVAS,NEM MORRO DE MORRAS, como dizia Lauro Arruda Cãmara.
TENHO DITO.
POST SCRIPt: já não acho tudo gozado...quem só acha assim, é faxineira de motel...continúo sendo um ELIXIR,e a minha POSOLOGIA é:de hora em hora, uma colher de chá...Canário que acompanha morcego, tem que aprender a dormir de cabeça pra baixo.beijos...
O PÁSSARO CATIVO
Armas, num galho de árvore, o alçapão.
E, em breve, uma avezinha descuidada, batendo as asas cai na escravidão.
Dás-lhe então, por esplêndida morada, a gaiola dourada.
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo.
Por que é que, tendo tudo, há de ficar o passarinho
mudo, arrepiado e triste, sem cantar?
É que, criança, os pássaros não falam.
Só gorgeando a sua dor exalam, sem que os homens os possam entender.
Se os pássaros falassem,
talvez os teus ouvidos escutassem este cativo pássaro dizer:
"Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro na mata livre em que a voar me viste.
Tenho água fresca num recanto escuro.
Da selva em que nasci; da mata entre os verdores,
tenho frutos e flores, sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola de haver perdido aquilo que perdi...
Prefiro o ninho humilde, construído de folhas secas, plácido, e escondido.
Entre os galhos das árvores amigas...
Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde, entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me, covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade!
Não me roubes a minha liberdade...
QUERO VOAR! VOAR!..."
Estas coisas o pássaro diria, se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria, vendo tanta aflição.
E a tua mão, tremendo, lhe abriria a porta da prisão...
Olavo Bilac
Passaredo
Chico Buarque
Composição: Francis Hime e Chico Buarque
Ei, pintassilgo
Oi, pintaroxo
Melro, uirapuru
Ai, chega-e-vira
Engole-vento
Saíra, inhambu
Foge asa-branca
Vai, patativa
Tordo, tuju, tuim
Xô, tié-sangue
Xô, tié-fogo
Xô, rouxinol sem fim
Some, coleiro
Anda, trigueiro
Te esconde colibri
Voa, macuco
Voa, viúva
Utiariti
Bico calado
Toma cuidado
Que o homem vem aí
O homem vem aí
O homem vem aí
Ei, quero-quero
Oi, tico-tico
Anum, pardal, chapim
Xô, cotovia
Xô, ave-fria
Xô, pescador-martim
Some, rolinha
Anda, andorinha
Te esconde, bem-te-vi
Voa, bicudo
Voa, sanhaço
Vai, juriti
Bico calado
Muito cuidado
Que o homem vem aí
O homem vem aí
O homem vem aí
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