sábado, 7 de dezembro de 2013

A PROSA DE VIOLANTE PIMENTEL...

A PICHAÇÃO

O colégio estadual mais importante da cidade havia sido, recentemente, restaurado e pintado. O diretor, um conhecido professor de inglês, muito austero e zeloso, estava radiante. Era o início do ano letivo e os alunos do I e II graus estavam felizes com a beleza do educandário.
Cumprindo ordem do diretor, os inspetores de classe fizeram um apelo aos alunos para que evitassem passar as mãos sujas nas paredes do colégio, a fim de que a pintura não fosse danificada. Entretanto, logo na primeira semana de aula, o diretor tomou conhecimento de que um dos banheiros masculinos havia sido pichado, com desenhos obscenos e palavrões. O mestre ficou revoltado e quis punir o culpado pelo desprezível ato de vandalismo. A PICHAÇÃO
Reuniu os alunos no pátio do colégio e pediu que o responsável se apresentasse, sob pena de ter que aplicar uma punição coletiva. O silêncio foi sepulcral, e o diretor deu um prazo de quarenta e oito horas aos alunos, para que o nome do autor da pichação fosse revelado. No íntimo, ele não queria aplicar uma punição coletiva, pois conhecia o bom comportamento de alguns antigos alunos, e tinha certeza de que esses jamais praticariam um ato desse tipo. Pela intensidade da pichação, estava claro que o autor havia contado com a colaboração de alguém. As letras de fôrma com que as palavras estavam escritas não davam chance à identificação.
O diretor não se cansava de analisar o conteúdo da pichação, indo diversas vezes ao banheiro pichado. Muito contrariado, olhava firmemente para as palavras escritas, à espera de uma luz que lhe mostrasse o autor da façanha. Num dado momento, o diretor teve uma intuição. Sem medo de errar, identificou o culpado!…Como por milagre, percebeu um detalhe que clareou sua mente: Mais de uma vez, ao lado dos desenhos do clássico “triângulo”, estava escrito “BUNCETA”. O diretor não tinha mais qualquer duvida! Estava claro que o autor da pichação era Orestes, um aluno fanho, muito participativo dos movimentos estudantis da época.
Para quem não tivesse a perspicácia do diretor, o culpado poderia ser qualquer outro aluno, que pertencesse a esse grupo rebelde. Mas sua intuição nunca falhava. Jamais ele faria uma injustiça a alguém, especialmente a um aluno. O diretor não tinha mais qualquer dúvida. A grafia errônea do famoso vocábulo “boceta”, que, de acordo com os dicionários da língua portuguesa, representa o órgão genital feminino, dizia tudo.
“BUNCETA” reproduzia, sem sombra de dúvida, a entonação própria de um fanho ao pronunciar esse vocábulo. Foi a argúcia do diretor que o levou a deduzir que somente um fanho seria capaz de escrever “BUNCETA”, ao lado do famoso triângulo ali desenhado. Sem medo de estar praticando uma injustiça, o diretor mandou chamar à sua sala o aluno Orestes da Silva, para uma conversa.
O fanho, sentindo-se perdido, confessou ter sido, ele mesmo, o autor da pichação. Assumiu a culpa sozinho, e somente ele foi punido.

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