Pinto do Monteiro
Acho graça a mocidade
Não querer envelhecer.
Velho ninguém quer ficar,
Moço ninguém quer morrer,
Sem ser velho não se vive,
Bom é ser velho e viver.
* * *
João Paraibano
Faço da minha esperança
Arma pra sobreviver,
Até desengano eu planto
Pensando que vai nascer
E rego com as próprias lágrimas
Pra ilusão não morrer.
Há três coisas nesta vida
Que Deus me deu e eu aceito:
A terra para os meus pés,
A viola junto ao peito
E um castelo de sonhos
Pra ruir depois de feito.
* * *
Geraldo Amâncio
Um sertanejo não quer
Secar as tripas e os ossos
Pra viajar vende os troços
Cadeira, prato e colher
Chorando abraça a mulher
Dizendo não chore não
Quando acabar sequidão
Volto correndo eu prometo
A seca pintou de preto
As cores do meu sertão
* * *
Louro Branco
Quando eu vi perecendo a minha horta
E o açude sem água na parede
Um garrote com fome e outro com sede
Uma vaca doente e outra morta
Eu falei vou partir por essa porta
E se o inverno voltar retornarei
Mas se a seca render não voltarei
Que no chão sem ter água ninguem mora
Quando a seca chegou eu fui embora
Do sertão que nasci e me criei
* * *
Ivanildo Vilanova
No sertão a tarefa é muito dura
Mas se tem a colheita, a criação
Ferramenta da roça produção
Uma rede, um grajau de rapadura
Uma dez polegada na cintura
A viola, um baú, uma cabaça
A tarrafa e um litro de cachaça
Mescla azul, botinão, chapéu baêta
Fumo grosso, espingarda de espoleta
E um cachorro mestiço bom de caça.
* * *
João Galdino
Faltam flores nos enterros
dos operários comuns
Falta sol em Garanhuns
Falta colégio em Bezerros
Falta quem corrija os erros
dos improvisos que faço
Falta nó no espinhaço
De quem nunca levou peia
Falta ladrão na cadeia
E a lua falta um pedaço.
* * *
Rangel Júnior
Maria apareceu em minha vida
Despertando em mim louca paixão
Mas depois me largou,virou perdida
Pelas brenhas ardentes do sertão.
Não lhe quero mal pelo que fez
Mas confesso sem pena pra vocês
Nessas linhas em forma de poesia:
Mesmo que da danada eu inda goste
Eu espero que um dia aquele poste
Inda caia na cabeça de Maria.
* * *
Welton Melo
Quando a voz que ecoa no meu peito
Sussurrar o seu verso derradeiro
E eu sentado encostado ao travesseiro
Fabricar um poema com defeito
Quando alguém me ouvir com preconceito
Pondo em dúvida a origem do meu hino
Pedirei com clamor ao pai divino
Me carregue do mundo dos mortais
Quando a luz do meu dom não brilhar mais
Deus ascenda o farol do meu destino
Quando a mina de verso se esgotar
E o meu nome cair no esquecimento
Tornar-me-ei um poeta sem talento
De sequer um soneto improvisar
Mas quem sabe alguém possa lembrar
De um poema que fiz quando menino
E afirme com força, garra e tino
Que eu também já fui bom, anos atrás
Quando a luz do meu dom não brilhar mais
Deus ascenda o farol do meu destino
* * *
Alfrânio de Brito
Quantas vezes armei-me de razões
E propus a mim mesmo: hoje é o dia!
Vou dizer-lhe o que jamais lhe diria
Pra cortar-nos de vez as relações.
Nessas vezes pensei que as emoções
Já não tinham mais brilho para mim,
Mas teu brilho era intenso e, nele, enfim,
Renovava outra vez meu coração.
Quantas vezes saí pra dizer não
E a coragem faltando eu disse sim.
* * *
Walmar Belarmino
Com a força que eu trago no meu verso
E o veneno que tem meu improviso
Eu transformo em perfeito o impreciso
Faço o amor transbordar pelo universo
Prá cantar sou veloz e não tropeço
Minha estrela é reflexo transcendente
O meu signo é pacífico e coerente
Sei de cor a receita que consola
Eu nasci agarrado com a viola
e o meu berço foi feito de repente.
* * *
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