sexta-feira, 1 de outubro de 2010
O GENRO DO MINISTRO CARLOS AYRES...
Roriz negociou contratar genro de ministro
Matheus Leitão, Felipe Seligman e Fernanda Odilla
O ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz (PSC-DF) negociou com o genro de Carlos Ayres Britto, ministro do Supremo Tribunal Federal, um contrato que, na prática, impediria o ministro de julgar o caso da Lei da Ficha Limpa.
O genro de Ayres Britto é o advogado Adriano Borges -ele mora sem união formal com a filha do ministro, Adriele, e eles têm um filho.
Se a negociação tivesse prosperado, Ayres Britto teria de se declarar impedido de julgar Roriz porque não poderia analisar um caso em que seu genro atua.
Seu voto foi a favor da aplicação da Lei da Ficha Limpa contra Roriz, em julgamento apertado e que dividiu o tribunal na semana passada.
O resultado foi um empate em 5 a 5 que fez Roriz desistir de sua candidatura e indicar sua mulher como substituta na chapa.
Em um vídeo ao qual a Folha teve acesso, gravado no dia 3 de setembro, Roriz e Borges discutem o impedimento de Ayres Britto.
Oficialmente, o advogado fez parte da defesa de Roriz de 2 a 4 de setembro e saiu justamente depois da discussão gravada. Borges afirma que é vítima de chantagem, e o ex-governador Roriz alega que foi extorquido.
À Folha, Ayres Britto afirmou que "não tem nada com isso" e que o genro deveria responder pelo caso.
O vídeo tem uma 1 hora e 11 minutos de duração. Durante 37 minutos, a câmera registra uma sala com as luzes apagadas, na casa de Roriz. Em seguida, o ex-governador e Borges, naquele momento já seu advogado na causa, entram na sala e iniciam uma conversa.
Seis minutos depois, Roriz pergunta: "Eu gostaria da sinceridade sobre o voto do seu sogro?". Após balbuciar palavras desconexas, Borges responde: "Com isso aí ele não vai participar. Tá impedido". Roriz continua: "Então é o êxito." E o advogado responde: "É um êxito de certa forma". O ex-governador sentencia: "Com isso, eu ganho folgado".
Durante a conversa gravada, Borges tenta negociar os honorários e diz que já havia contratado uma equipe para trabalhar no processo.
A Folha apurou que foram mobilizados cinco advogados. Roriz afirma que não precisava de mais ninguém, somente da presença do genro do ministro.
Na gravação, como parâmetro para o valor cobrado pelos serviços, o advogado cita outra causa semelhante à de Roriz, na qual cobrou R$ 1,5 milhão de "pró-labore" e mais R$ 3 milhões "no êxito".
O ex-governador diz não ter dinheiro e ainda diz que "antecipadamente não há a menor possibilidade" de pagar o que o advogado pedia.
No final da conversa, Roriz oferece R$ 1 milhão para que Borges apenas conste na lista dos defensores.
Não houve acordo porque o genro de Ayres Britto insistiu em ser o principal advogado da ação.
Estando na lista ou assinando como defensor principal, a sua atuação levaria Ayres Britto a se declarar impedido. Em um caso anterior semelhante com o genro no Supremo, ele havia procedido desta forma.
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