sábado, 30 de outubro de 2010

LA CUMPARSITA...A MINHA CANÇÃO DE NINAR.Bernardo Celestino Pimentel.







Desde a idade muito tenra,me lembro deste tango...era a música que minha mãe tocava diariamente no acordeon e com a qual eu adormecia,e também as vezes, acordava...as vezes, balançava a minha rede,solfejando-o,com a boca...La Cumparsita, um dos tangos mais bonitos...



A leitura que a minha mãe fazia da vida era a da beleza...era fã de Artur da Távola, da crônica,de Guerra Junqueiro, o poeta português,de Ivon Cury e de Cauby peixoto...cantava a serenata de Schubert constantemente...Tinha contatos imediatos com o Céu, e seu lema era:primeiro os pobres...ainda hoje, sinto falta de alguém, capaz de perceber uma coisa bonita, um acorde, um pensamento, uma frase...falta-me alguém para compartilhar da beleza...para escutar as flôres...por isso, as vezes sinto que falta-me o eu, e que este eu era tudo.Nos meus primeiros doze anos,Nova Cruz não tinha água nem luz...era candeeiro e banho de cuia, com água salgada, do cacimbão de Paulo Bezerra...água que deixava o cabelo duro...mas na minha infância, focava no meu berço a luz da sabedoria, que inclusive vem de Deus...Naquele tempo nós já éramos felizes,mas ninguém tinha morrido...saudades!... e éramos capazes de olhar para o céu e ouvir as estrelas, e como as amavamos, as entendiamos.Nunca mais eu ví as tres marias, nem o cruzeiro do sul...acho até que constelações só existiam no céu da minha infancia...as estrelas só brilhavam no breu das noites de Nova Cruz...no alto das flores, quando as corujas cantavam no bueiro da usina, e Dona Florentina voltava do culto da igreja dos crentes,com toda a certeza da salvação da alma, enquanto segurava o seu corpo pesado, com a sua sombrinha.



A minha mãe tinha um jardim...tratava com as próprias mãos as suas roseiras...inclusive conversava com elas... sob o olhar atento dos seus gatos, que tambem conversavam com ela, e eram ajudantes da jardineira...Depois de aguar o seu jardim, olhava para trás, e pela tristeza da roseira, ela percebia a que não tinha aguado...voltava e pedia desculpas,beijando as suas folhas e molhando-as...é por isso que eu tenho tanta dificuldade de conviver com sargentos,inspetores,chefes,barões,corruptos,e ateus,ou seja, com os pigmeus das virtudes...



Fui criado e feito para render homenagem somente ao talento,a cultura, ao desprendimento, a caridade...as coisas de Deus...as outras coisas, eu só aprendí no Colégio Marista e na Faculdade de Medicina, aí eu comprovei o que dizia Vinicius de Moraes:São demais os perigos desta vida.
O que me assusta,subitamente, é esta sensação de vácuo,provocada pela vida que já passou...é a sensação de uma hemorragia na alma...è o desfalecimento do espírito numa carne viva...é a tristeza de não saber voltar...de não alcançar escadas que fogem dos pés, nem chegar á tempo, com relógios que rodam pra trás...

Mas como hoje é Sábado, e há a perspectiva de um domingo, vou relembrar as duas tabuletas da gráfica Lux, do tio Paulo, onde se lia: Triste do bicho que outro come...e Mulher feia e jumento só quem vai atrás é o dono.







Post scriptum:por favor me telefonem, se voces encontrarem um bazar,onde os sonhos esquecidos vão parar...

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