sábado, 11 de maio de 2013

UMA CRONICA...


ERRO ESSENCIAL

Você viu na TV? Um cara entrou com uma ação na justiça para anular o casamento com base no artigo 1557 do Código Civil, “erro essencial”: o tamanho dos peitos da moça. Parece mentira.
O juiz indeferiu o pedido. E prolatou a sentença dizendo, entre outras coisas, que “erro essencial seria se a moça não os tivesse. No entanto, os tem. E generosos”.
Já tinha ouvido falar de mil alegações: bichice, sapatice, impotência, cabaço (ausência ou complacência), frigidez, falsidade ideológica, chifre, lisura, mau hálito, maus-tratos, fetiches… tudo. Menos, tamanho de peito. E os da moça em questão eram grandes. Não enormes. Mas maiores do que ela disse a ele antes de casarem. “Eis a questão.”
O cara estava indócil. “Vou recorrer da sentença.” Quando sintonizei o canal, a repórter, com certeza, já tinha dito o nome dele e o lugar. Mas, a julgar pelos tipos físicos, sotaque e cenários que apareceram na reportagem, era interior do Paraná ou Santa Catarina. “Ela disse várias vezes que seu sutiã era 46-B. Mandei dezenas de presente, todos 46-B. Quando casei, descobri que estava sendo enganado. Era 48-C. Pra mim, acabou. E vou lutar pela anulação com todas as minhas forças e recursos.”
Os dois se conheceram pela internet. E, pelo que entendi, moravam em cidades distantes; outro estado, talvez. “Passamos um ano e meio namorando pelo Orkut, trocando fotos e carícias. Levei seis meses para convencê-la a me mostrar os seios. Depois, ensinei a medir. E ela jurou que era 46-B. Meu presente de noivado foi um sutiã importado, francês, meia-taça de renda branca, lindo!”
Em matéria de peito, justiça se faça, o cara era craque. Boa parte da entrevista aconteceu numa loja de lingerie. Diante de manequins, desses de vitrine, fita métrica em punho, ele ensinou aos telespectadores e à repórter como medir os peitos com precisão.
“Uma coisa é busto; outra, taça. Os sutiãs são numerados: 36, 38, 40, de dois em dois, até 52. As taças, letras: A, B, C, D etc.” E começou a medir os peitos dos manequins.
“Para saber o busto, passe a fita métrica bem justa por baixo dos braços e sobre os seios, contornando o tórax. Esse aqui deu 85 cm. Sutiã 40. É só olhar nessa tabelinha aqui, ó, toda loja tem. Agora, vamos à taça. Passe a fita por baixo dos braços e por baixo dos seios, sempre justinha. Se o tórax for proporcional aos seios, dará sempre B. Esse aqui deu 72 cm. Proporcionalmente menor. Portanto, A.” E assim foi, medindo os manequins, três ao todo.
“E você?”, perguntou ele, surpreendendo a repórter.  “Qual seu número e taça?” “48-B”, respondeu a moça sem graça. “Vamos ver!” E mediu. “Desculpe, mas você deve viver com falta de ar. Porque seu número, na verdade, é 50-C. Aliás, belas tetas!”
A repórter perdeu o rebolado. Mas logo retomou o controle da entrevista, partindo pra ofensiva. “O senhor diz que vai recorrer da sentença. Mas, o que tem de novo para acrescentar ao processo, além do argumento machista de que a moça tinha os peitos maiores do que dizia?” “Agora, vou provar! Tá tudo no Orkut. Fui enganado. Ela mentiu reiteradas vezes. Precisamente, 22 vezes. Eu mandava os presentes e perguntava: ‘Que tal? É 46-B, mesmo?’ E ela confirmava, ao vivo e em cores, diante da webcam: ‘Veja! Na medida!’ A questão não é o tamanho. Mas a mentira.”
Pra encerrar, a repórter apelou: “Para o senhor, que se julga o bambambã no assunto, qual o seio ideal?”
- Um de cada lado.

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