ERRO ESSENCIAL
Você viu na TV? Um cara entrou com uma
ação na justiça para anular o casamento com base no artigo 1557 do Código Civil,
“erro essencial”: o tamanho dos peitos da moça. Parece mentira.
O juiz indeferiu o pedido. E prolatou a
sentença dizendo, entre outras coisas, que “erro essencial seria se a moça não
os tivesse. No entanto, os tem. E generosos”.
Já tinha ouvido falar de mil alegações:
bichice, sapatice, impotência, cabaço (ausência ou complacência), frigidez,
falsidade ideológica, chifre, lisura, mau hálito, maus-tratos, fetiches… tudo.
Menos, tamanho de peito. E os da moça em questão eram grandes. Não enormes. Mas
maiores do que ela disse a ele antes de casarem. “Eis a questão.”
O cara estava indócil. “Vou recorrer da
sentença.” Quando sintonizei o canal, a repórter, com certeza, já tinha dito o
nome dele e o lugar. Mas, a julgar pelos tipos físicos, sotaque e cenários que
apareceram na reportagem, era interior do Paraná ou Santa Catarina. “Ela disse
várias vezes que seu sutiã era 46-B. Mandei dezenas de presente, todos 46-B.
Quando casei, descobri que estava sendo enganado. Era 48-C. Pra mim, acabou. E
vou lutar pela anulação com todas as minhas forças e recursos.”
Os dois se conheceram pela internet. E,
pelo que entendi, moravam em cidades distantes; outro estado, talvez. “Passamos
um ano e meio namorando pelo Orkut, trocando fotos e carícias. Levei seis meses
para convencê-la a me mostrar os seios. Depois, ensinei a medir. E ela jurou que
era 46-B. Meu presente de noivado foi um sutiã importado, francês, meia-taça de
renda branca, lindo!”
Em matéria de peito, justiça se faça, o
cara era craque. Boa parte da entrevista aconteceu numa loja de lingerie. Diante
de manequins, desses de vitrine, fita métrica em punho, ele ensinou aos
telespectadores e à repórter como medir os peitos com precisão.
“Uma coisa é busto; outra, taça. Os
sutiãs são numerados: 36, 38, 40, de dois em dois, até 52. As taças, letras: A,
B, C, D etc.” E começou a medir os peitos dos manequins.
“Para saber o busto, passe a fita métrica
bem justa por baixo dos braços e sobre os seios, contornando o tórax. Esse aqui
deu 85 cm. Sutiã 40. É só olhar nessa tabelinha aqui, ó, toda loja tem. Agora,
vamos à taça. Passe a fita por baixo dos braços e por baixo dos seios, sempre
justinha. Se o tórax for proporcional aos seios, dará sempre B. Esse aqui deu 72
cm. Proporcionalmente menor. Portanto, A.” E assim foi, medindo os manequins,
três ao todo.
“E você?”, perguntou ele, surpreendendo a
repórter. “Qual seu número e taça?” “48-B”, respondeu a moça sem graça. “Vamos
ver!” E mediu. “Desculpe, mas você deve viver com falta de ar. Porque seu
número, na verdade, é 50-C. Aliás, belas tetas!”
A repórter perdeu o rebolado. Mas logo
retomou o controle da entrevista, partindo pra ofensiva. “O senhor diz que vai
recorrer da sentença. Mas, o que tem de novo para acrescentar ao processo, além
do argumento machista de que a moça tinha os peitos maiores do que dizia?”
“Agora, vou provar! Tá tudo no Orkut. Fui enganado. Ela mentiu reiteradas vezes.
Precisamente, 22 vezes. Eu mandava os presentes e perguntava: ‘Que tal? É 46-B,
mesmo?’ E ela confirmava, ao vivo e em cores, diante da webcam: ‘Veja! Na
medida!’ A questão não é o tamanho. Mas a mentira.”
Pra encerrar, a repórter apelou: “Para o
senhor, que se julga o bambambã no assunto, qual o seio ideal?”
- Um de cada lado.
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