MEEEU GAROOOTO!
POR JOCA SOUZA LEÃO.
Lembra o personagem de Chico Anysio? “Meeeu garoooto!” E o filho, personagem de Castrinho, um menino abilolado, respondia: “Meu pai, pai.”
Pois bem, lembrei de Chico ao reler um texto de Hélio Fernandes. Pra quem não sabe, por ser jovem, Hélio, irmão de Millôr, era jornalista famoso, polêmico e dono de jornal.
Hoje, só dinheiro interessa. O cara chega puxando a cachorra, abre um bureauzinho qualquer, em pouco tempo fica bilionário e, pronto, ganha (ou compra) a admiração de todos. Ninguém questiona a origem da fortuna. Isso é que falta de curiosidade. Pra dizer o mínimo. O que não é o caso de Hélio Fernandes, repórter à moda antiga, curioso. Veja o que ele, com mais de 90 anos, escreveu o ano passado sobre Eliezer Batista, o “pai, pai”, e seu “garoooto”, Eike:
(Abro aspas; os grifos são do autor.) “Eike Batista: ‘Paguei meu imposto de renda com um cheque de 670 milhões de reais.’ Deve ser verdade. Mas de onde vem essa fortuna que, segundo ele, é a maior do Brasil?
(…) Ninguém tem uma trilha de irregularidades tão grande quanto Eliezer Batista (pai de Eike). E em toda a minha vida profissional, nunca escrevi tanto e tão vastamente sobre irregularidades, prejuízo ao Brasil, enriquecimento colossal, quanto sobre Eliezer. E logicamente nem uma vez de forma positiva, sempre negativa.
(…) O roubo das jazidas de manganês do Amapá, assunto exclusivo deste repórter, ninguém participava, Eliezer era tão generoso com os jornalões, como foi depois com o filho. O Brasil era o maior produtor de manganês do mundo. Como era de outros minérios, todos controlados por ele, presidente eterno da Vale (na época estatal).
Eliezer devastou o Amapá, entregou todo o manganês aos americanos, a ‘preços de banana’. (…) No Porto de Nova Iorque, os navios que vinham do Brasil atracavam lá longe para não provocar comentários. E este repórter dava o número dos navios, os nomes, o total da carga e o miserável preço da venda, empobrecendo o Brasil e enriquecendo o grande vendedor Eliezer. Está tudo no arquivo da Tribuna da Imprensa, fechada por necessidade de silenciar o jornal que contava tudo.
(…) Eliezer foi sempre muito previdente, controlou todos os minérios, que deixou para o filho, de ‘papel passado’, ou então em indicações debaixo da terra. Mas com os mapas atualizados e do conhecimento apenas do filho, a maior riqueza do Brasil, antes mesmo de nascer. (O Brasil tem quase a totalidade da produção desses minérios, como tinha do manganês, raríssimos. E como tem do nióbio, ainda mais raro e imprescindível, 98% de tudo o que existe no mundo.)
Afinal onde termina Eliezer e começa o Eike? O pai, presidente da Vale, ‘dono’, embora já proprietário da Icomi, fundada para concorrer com a própria Vale, utilizou a estatal para produzir lucros particulares. (…)
P.S.1 – O filho Eike se descuidou, foi preso pela Polícia Federal. Seguiu a receita de Daniel Dantas, ‘só tenho medo da Polícia, lá em cima, eu resolvo.’ Resolveu.
P.S.2 – Para o homem mais rico ser preso, é necessário que a acusação esteja fundamentada. Estava. Mas as providências lá de cima também estavam.
(…) P.S.5 – É preciso que alguém obrigue Eike Batista a explicar como se tornou o homem mais rico do Brasil. Acho que quem pode fazer isso é a Receita Federal.” (Fecho aspas.)
– Meeeu garoooto! – Meu pai, pai…
Nota: semana passada, li numa coluna política que a Lukoil, russa, e a Petronas, da Malásia, negaram participação na “quase falida OGX”, de Eike. Disse uma secretária que o viu choramingando: “Eu quero meu pai,pai.”
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