Prezado Papa Luiz Berto:
Meu nome é Violante Pimentel, moro em Natal, mas nasci numa cidade por nome Nova-Cruz, no agreste do Estado, onde o progresso demorou muito a chegar.
Gosto muito de relembrar casos hilários que ocorreram na minha cidade, com pessoas ingênuas e cheias de boa-fé, numa época em que a maldade ainda não havia proliferado. É um caso verídico, semelhante aos “causos” contados pelo grande Jessier Quirino. Intitulei essa história de “A Máquina de Fabricar Dinheiro”.
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A MÁQUINA DE FAZER DINHEIRO
Seu Bajoso era um comerciante correto, já velho, incapaz de enganar alguém, desses homens direitos, que passam a vida toda atrás de um balcão, na sua própria mercearia, sem progredir nem fracassar. Não ficam ricos, nem ficam mais pobres do que são. Seu Bajoso, que mal assinava o nome, era respeitador, religioso, bom marido, bom pai, sabia ser amigo de quem era amigo, também não admitia falsidade.
Nessa época, década de 50, Nova-Cruz era um atraso geral. Não tinha água, não tinha energia elétrica, não tinha agência bancária, e a passagem do trem de Recife pra Natal, ou de Natal pra Recife, era uma festa. A estação ferroviária era cheia de gente, esperando o trem chegar. Pois bem, numa sexta-feira de manhã, estava Seu Bajoso no balcão de sua mercearia, quando chegou um homem alto, elegante, bem vestido, com uma conversa boa, que lhe ofereceu uma máquina pequena que fabricava dinheiro. O velho ficou abismado, sem acreditar que aquilo fosse verdade, mas o homem se propôs a fabricar dinheiro ali mesmo pra ele ver. Colocou a “máquina de fazer dinheiro “ em cima do balcão, rodou um cabo que ela tinha e, de repente, por um dispositivo tipo esses dos atuais caixas eletrônicos, começou a sair dinheiro da máquina, notas de cinco mil réis, dez mil réis e vinte mil réis, o que deixou Seu Bajoso de boca aberta.
Saíram umas dez notas, o suficiente para dar credibilidade ao viajante. Seu Bajoso não pensou duas vezes e comprou a tal máquina, entregando ao homem todo o dinheiro do seu apurado. Feito o negócio, o viajante foi direto pra estação ferroviária, tomou o trem e até hoje…O velho comerciante fechou as portas da mercearia, para que ninguém o visse fabricar dinheiro. Afinal, todo o dinheiro que ele dispunha na gaveta foi o preço que pagara pela máquina. Fez tudo conforme o viajante lhe ensinara, mas só conseguiu que saíssem da máquina duas notas de cinco mil réis. Tentou diversas vezes, até que a “ficha caiu”, e ele entendeu que o viajante era um vigarista e lhe aplicara um golpe! Ele caíra no “conto do vigário”. Indignado, Seu Bajoso dirigiu-se imediatamente à Delegacia de Polícia, para prestar queixa contra o viajante. Muito conhecido e respeitado na cidade, narrou o fato ao Delegado, que, perplexo diante do ocorrido e da ignorância do velho , disse-lhe:_
- Seu Bajoso, pelo amor de Deus, esqueça essa história, pois era pra o senhor ficar preso! O senhor, com essa idade, não sabe que ninguém pode fabricar dinheiro em casa! Só o governo!!! .O senhor quis comprar uma máquina de fazer dinheiro falso! O senhor é um homem direito, respeitado na cidade, e caiu nas mãos de um vigarista! Volte pra sua casa e não conte essa história a mais ninguém!!!
O velho voltou pra casa triste, acabrunhado, e nunca mais teve saúde. A história se espalhou na cidade, através de pessoas que se encontravam na Delegacia e ouviram tudo.
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