CARDEAL JESSIER QUIRINO – ITABAIANA-PB
Meu cumpade e Papa Berto I
O tempo aqui em Itabaiana é de voto vendido e o povo em formato de cadeado, pensando: fui enrabado.
Como sabem, sou de Campina Grande, mas vivo aqui há 29 anos ouvindo histórias mofadas, mas cheias de matutices. Segundo os mais velhos, a feira de Itabaiana era de dar engarrafamento de balaio e fruta no mei da canela. A música Feira de Mangaio do mestre Sivuca (1930-2006) trata do assunto com traquejo e gosto. Os últimos versos são:
“Mas é que tem um Sanfoneiro no canto da rua
Fazendo floreio pra gente dançar
Tem Zefa de Porcina fazendo renda
E o ronco do fole sem parar.”
Fazendo floreio pra gente dançar
Tem Zefa de Porcina fazendo renda
E o ronco do fole sem parar.”
Pois bem, segue abaixo o instantâneo de uma das personagens dessa música:
É Dona Zefa de Porcina, rendeira de fama bem aquilatada dentro e fora de Itabaiana, moradora do distrito de Campo Grande (margem direita do Rio Paraíba), território dos Dias de Oliveira, onde o menino Sivuca, bem dizer no leme da chupeta deu os primeiros acordes.
Numa cena bonita feito um sorvete de cinco bolas, da esquerda pra direita: Dona Babí, com um par de sandálias pedindo marcha; Dona Zefa de Porcina, de preto, bilros na almofada e as sandálias aliviadas; e depois o trio: Zezé, Corina e Rosa de Seu Eufrásio.
Tirante Dona Porcina, as outras tem o penteado bandé, característico das rendeiras e já imagino o som percussivo dos bilros batendo um no outro com a destreza de um Naná Vasconcelos.
Hoje, pouco se renda, pouco se abóia e é matuto acometido de música ruim e cartão de celular.
R. Meu Poeta, agora você conseguiu balançar o coração desse nostálgico das coisas encantadas daqueles tempos idos. E você fica nos devendo o ano em que esta fotografia foi tirada.
Fiquei maravilhado quando olhei esta foto que você nos mandou e me veio à lembrança Dona Ricardina (madrinha de minha mãe, Quiterinha), fazendo a mágica de confecionar renda em sua almofada, enquanto os bilros dançavam em suas mãos enrugadas, produzindo um som, um estalido seco que continua retinindo até hoje nos meus ouvidos.
E eu, menino bem pequeno, ficava embevecido com aquele espetáculo de ver a renda nascendo em cima de uma tira de papelão sobre a almofada, dando volteados e formando desenhos, sem que eu conseguisse atinar como é que aquelas rudes mãos, manejando alfinetes e bilros, conseguiam fazer uma criação tão bonita, tão simétrica e tão enfeitada de encantação.
Tenho certeza que é neste senso de resgate e de observação das miudezas da paisagem interiorana que reside a genialidade e o talento de Poetas como Sivuca e como Jessier Quirino, ligados pelo amor comum a Itabaiana, terra de ambos, um por nascença e outro por coração.
São Poetas feito vocês dois, Sivuca e Jessier, uma parelha de malassombrados da gôta serena, que dão dimensão lírica e planetária a figuras anônimas dos chãos deste recanto encantado de mundo. Figuras que são partes integrantes e indissociáveis da “Paisagem de Interior” e das “feiras de mangaio“ de todas as Itabaianas existentes na Nação Nordestina.
O saudoso Mestre Sivuca eternizou Dona Zefa de Porcina em “Feira de Mangaio” e a rendeira será pra sempre uma estrela brilhando na constelação da nossa admiração e do nosso carinho. A mesma Zefa que está eternizada na fotografia que Jessier nos mandou.
Das muitas e várias gravações que foram feitas desta música, inclusive uma belíssima de Clara Nunes, escolhi, pra ilustrar esta postagem, uma interpretação feita pelo grupo Clã Brasil, este simpático e talentoso magote de moças paraibanas que encantam e enternecem em qualquer lugar onde se apresentam. E com um detalhe: Sivuca participa da gravação. Atenção leitores do JBF: prestem atenção na letra e vejam que a rendeira Zefa de Porcina, aquela da foto aí de cima, está nela.
Brigadão mesmo, Jessier, você me fez ganhar o dia e o final de semana!
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