segunda-feira, 29 de outubro de 2012

GRANDE DEPOIMENTO SOBRE A MÚSICA POPULAR BRASILEIRA...


UMA PESQUISA DE RAIMUNDO FLORIANAO...PE.
PEDRO CAETANO – É COM ESSE QUE EU VOU

Pedro Caetano: bico-de-pena de Miécio Café
Pedro Walde Caetano, compositor, figura de destaque na chamada Época de Ouro da Música Popular Brasileira, nasceu numa fazenda do Município de Bananal (SP), a 01.02.1911, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), a 27.07.1992, aos 81 anos de idade. Era filho do agricultor Durval Mendo Caetano e da professora Zelpha Schotts Caetano.
Aos três anos de idade, os pais levaram-no para outra fazenda, em Maricá (RJ), de onde, aos doze anos, se mandou para o Rio de Janeiro, que era a Capital Federal, empregando-se numa sapataria, à Rua Uruguaiana, Nº 11, da qual viria, no futuro, a ser sócio e, mais tarde, proprietário, com a morte do sócio, o espanhol Constantino Esteves Cid, em 1951, mantendo-se no negócio até 1965, quando encerrou suas atividades.
Por essa época, já estudava piano e começou, também com a mania de fazer música. Sempre que saía do trabalho, ia encontrar-se com os companheiros na Ponte do Maracanã, que ficava na altura da Rua Senador Furtado, onde morava. Sempre trazendo um sambinha ou uma marchinha para ensaiar com a turma, surgiu, em 1933, aos 22 anos de idade, com algo diferente, metade samba, metade choro, a que deu o titulo de Foi Uma Pedra Que Rolou. Voltarei a falar dessa composição mais adiante.
Pedro Caetano e com Claudionor Cruz, seu parceiro mais constante
Em 1935, teve sua primeira composição gravada, o samba-canção O Tocador de Violão, em parceria com o músico Claudionor Cruz, pela Odeon, na voz de Augusto Calheiros, também conhecido como a Patativa do Norte. Claudionor foi seu primeiro parceiro e o mais constante, com quem produziu mais de 300 títulos.
O primeiro sucesso da dupla aconteceu em julho de 1937, com a valsa Caprichos do Destino – Se Deus um dia, olhasse a Terra e visse o meu estado… –, na voz de Orlando Silva.
Em 1941, lançou, com Claudionor Cruz, o samba-canção Nova Ilusão – É dos teus olhos a luz que ilumina e conduz… – gravação de Renato Braga, que mais tarde viria a tornar-se grande sucesso na voz de Paulinho de Viola.
Em 1942, Ciro Monteiro, um de seus melhores intérpretes, gravou o que seria um de seus maiores sucessos, o choro Botões de Laranjeira – Maria Madalena dos Anzóis Pereira… – e, no mesmo ano, Francisco Alves lançaria o samba-exaltação Sandália de Prata, de Pedro Caetano e Alcyr Pires Vermelho, que também foi um de seus grandes parceiros. Com o retumbante sucesso dessas duas músicas, o nome de Pedro Caetano estava definitivamente consagrado no Mercado Fonográfico Brasileiro.
A seguir, em traço do caricaturista Adail, vemos Pedro Caetano, Manuel Baña, espanhol, dono do Café Nice e seu parceiro eventual, e Alcyr Pires Vermelho.
Pedro Caetano, Manuel Baña e Alcyr
Em 1944, Francisco Alves lançou a marchinha Eu Brinco – Com pandeiro ou sem pandeiro… –, de Pedro Caetano e Claudionor, que obteve grande êxito no Carnaval daquele ano. Ainda em 1944, a parceria lançou o samba de meio de ano Disse Me Disse – Chega, eu já sei o que vens me dizer… –, na voz de Carlos Galhardo.
Em março de 1946, Pedro lançou o choro O Que se Leva Desta Vida – O que se leva desta vida é o que se come, o que se bebe… –, gravação de Ciro Monteiro, que se tornaria um dos clássicos do repertório do cantor.
Em 1947, lançou, em parceria com Alcyr Pires Vermelho e Silvino Neto, o samba-canção Cinco Letras Que Choram – Adeus, adeus, adeus, cinco letras que choram… – em magistral interpretação de Francisco Alves.
No Carnaval de 1947, estourou com o samba Onde Estão os Tamborins? – Mangueira, onde é que estão os tamborins, ó nêga?… –, gravado pelo conjunto Quatro Ases e Um Curinga. No Carnaval de 1948, dominou com o samba É Com Esse Que Eu Vou – É com esse que eu vou sambar até cair no chão… – também com os Quatro Ases e Um Curinga. No Carnaval de 1949, fez grande sucesso com o samba Mangueira em Férias – Quem foi que disse que eu não brigo mais… –, dele e de Alcyr Pires Vermelho, gravado por Nuno Roland. Para o Carnaval de 1952, lançou a marchinha Quem Tem Amor, Não Dorme – Passo a noite contemplando a lua… –, gravada pelos Vocalistas Tropicais.
Desde então, Pedro Caetano afastou-se um pouco do ambiente musical do Rio, dedicando-se mais ao cenário capixaba. Mesmo assim, em 1954, quando a brasileira Martha Rocha acabava de ser desclassificada no concurso de Miss Universo, porque tinha duas polegadas a mais nos quadris, ele, Carlos Renato e Alcyr Pires Vermelho compuseram a marchinha Duas Polegadas – Por duas polegadas a mais, passaram a baiana pra trás… –, que a própria Martha gravou e foi muito cantada durante o ano e no Carnaval de 1955. Do outro lado do disco, Martha gravou o baião Rio, Meu Querido – Rio, meu querido, é o meu coração que te diz… –, dos mesmos autores da marchinha.
Pedro Caetano era casado com Rosa Provedel Caetano, a Rosário, italiana criada no Espírito Santo, que conhecera em Minas Gerais. Em 1951, influenciado por ela, foi passear em Guarapari, famoso balneário capixada, onde, após assistir, à noite, a um show da lua nas pedras da arrebentação marinha, e ver nascer, no dia seguinte, uma linda manhã de sol, compôs a valsa Guarapari – Quer viver o sonho lindo que eu já vivi… –, que Nuno Roland Gravou e se tornou praticamente no hino daquela cidade.
No rastro de Guarapari, outras cidades do Espírito Santo foram homenageadas, o que valeu a Pedro Caetano, no decorrer do tempo, vários Títulos de Cidadão, placas de rua com seu nome, ainda em vida, e gravação de um LP, financiado pelo Governo do Estado, com as respectivas composições.
Pedro Caetano recebendo o título de Cidadão Cachoeirense, em 1969, e capa do LP oficial
Mesmo afastado do ambiente carnavalesco, Pedro Caetano, inspirado no drama do operário que vê os sambistas do morro faturando alto no Carnaval, compôs um samba mirando o infeliz que esquece sua condição de trabalhador que tem de acordar de madrugada para pegar no batente e vai pela noite adentro em busca de um tema. Assim, nasceu o samba Olha o Leite das Crianças – É madrugada, o morro está descansando, mas o sambista vai bolando uma ideia genial… –, que a cantora Marlene defendeu no Concurso Oficial do Carnaval Carioca de 1969, obtendo o honroso 4º Lugar dentre mais de 3.000 músicas inscritas. A foto a seguir registra o momento da premiação.
Pedro Caetano com Marlene e Luiz Reis
Sendo somente compositor, Pedro Caetano teve oportunidade de gravar apenas um LP, ele mesmo interpretando seus maiores sucesso, pela gravadora RCA Camden, lançado em 1975, com o título É Com Esse Que Eu Vou:
 
Em 1976, a Editora Abril lançou a série Nova História da Música Popular Brasileira, vendida nas Bancas de Revistas, com 75 volumes, cujo Número 66 focalizou o trabalho de Pedro Caetano e Claudionor Cruz:
 
No começo da Década de 1980, Pedro Caetano recebeu, das mãos de Abelardo Barbosa, o Chacrinha, o troféu Velho Guerreiro, do qual muito ele se orgulhava:
 
Em 1984, foi homenageado com o primeiro show montado de sua obra, o espetáculo É Com Esse Que Eu Vou, realizado na Sala Sidney Miller da Funarte, na série Projeto Carnavalesco, com roteiro e direção de Ricardo Cravo Albin, que fez de seu repertório uma autêntica Revista Musical. Teatralizando as marchinhas de atualidade política e social, Albin produziu um espetáculo alegre e muito bem-humorado, que contou com as participações de Marlene e o grupo Céu da Boca, além do próprio compositor, incluindo peças carnavalescas recentes, como a marchinha Cineangiocoronariografia – Cineangiocoronariografia, o moderno exame de cardiologia –, feita em parceria com Alcyr Pires Vermelho e Manuel Baña, sátira aos problemas de que era vítima o então Presidente da República João Batista Figueiredo, já gravada por Nara Leão.
Pedro Caetano, e Marlene e o grupo Céu da Boca
Ainda em 1984, Pedro Caetano lançou um livro em comemoração a seus 50 anos de carreira, relançado em 1988 com o título 54 Anos de Música Popular Brasileira – O Que Fiz e o Que Vi, edição que me foi autografada por ele em 24.10.1991, nove meses antes de seu falecimento. No prefácio, José Ramos Tinhorão, jornalista, pesquisador e crítico musical, declara que, diante da memória curta da Música Popular, o ideal seria que cada artista, ao julgar cumprida sua trajetória, se debruçasse sobre seu álbum de recortes e, pessoalmente, escrevesse sua biografia. E lamenta que, salvo honrosas exceções, os compositores e cantores são os primeiros a não saber nada de suas próprias carreiras.
O exemplar cuja capa vocês veem logo abaixo serviu-me por demais na redação desta matéria, revelando-me fatos desconhecido, mas peca muito ao não os amarrar às datas em que ocorreram. Em determinados trechos, há lapsos de memória, quando o próprio autor declara não se lembrar de partes da composição que está mencionando. Mas, repito, mesmo com essa falha, orientou-me bastante e é leitura a indispensável a qualquer pesquisador.
 
Isso estabelecido, passemos ao samba-choro Foi Uma Pedra Que Rolou. Jô Soares, em seu magnífico best-sellerO Homem Que Matou Getúlio Vargas, criou um personagem fictício, o bósnio Dimitri Borja Korozec, sobrinho bastardo de Getúlio Vargas. Dimitri, sujeito desastrado além da conta, vem ao Brasil para assassinar o tio, mas todas as tentativas são malogradas, devido a sua “propensão natural para a catástrofe”. Jô coloca o terrorista atrapalhado em perigosas situações verídicas, das quais Getúlio saiu ileso, mas deixou passar uma, que ficou fartamente documentada nos anais de nossa história: a pedra que rolou!
Em 1933, Getúlio seguia de automóvel pela Estrada Rio–Petrópolis quando, no Quilômetro 53, enorme bloco de pedra se desprendeu duma encosta de granito à beira da estrada, amassando a capota do carro, matando seu Ajudante de Ordens Coronel Celso Pestana, e ferindo, além do próprio presidente, sua mulher, Dona Darcy Vargas.
Se Jô Soares deixou passar esse episódio em branco, tal não aconteceu com Pedro Caetano, que soube glosá-lo muito bem. Mas, em seu livro, se esqueceu de mencionar a inspiração, contando apenas os fatos que antecederam gravação daquela que foi a primeira composição de sua vida.
Entre seus companheiros da Ponte do Maracanã, havia um, conhecido como Torrinhos, primo de Sílvio Caldas, que se prontificou a apresentá-lo ao cantor. O encontro se deu quando Sílvio jogava bilhar no Salão Trianon, que ficava em frente ao Café Nice.
Silvio os recebeu muito bem mas, naturalmente, porque já andava saturado de ouvir tantos chatos com mania e fazer música, não acreditou muito. Entretanto, quando os dois começaram a cantar o samba-choro bem próximo à mesa em que ele jogava, foi-se chegando, passou a interessar-se, chamou-os, aprendeu o samba e, assim, aconteceu o lançamento de mais um “careta” na Musica Popular Brasileira, ocorrido no início de 1934, no Programa do Casé, da Rádio Philips. Lançado o samba-choro, Sílvio Caldas prometeu gravá-lo na semana seguinte, mas o tempo foi-se passando, e a promessa só se fez cumprir 20 anos depois, quando a música já havia sido gravada, em 1940, pela dupla Joel e Gaúcho.
Esta matéria ficou muito longa, e acho que isso aconteceu pela admiração que nutro por Pedro Caetano desde meus tempos de criança, quando aprendi a gostar da Música Popular Brasileira, e suas composições ajudaram a construir meu repertório de marchinhas e sambas, tanto os carnavalescos como os de meio de ano.
Possuo em meu acervo 136 títulos de Pedro Caetano, quer dele individualmente ou com parceiros. Escolhi duas faixas como amostra de seu trabalho, uma por ter sido sua primeira composição, e a outra por ser um samba-exaltação, gênero que aprendi a curtir desde quando o Brasil mandou seus pracinha para o front na Europa, na Segunda Guerra Mundial:
Foi Uma Pedra Que Rolou, samba-choro, na voz de Silvio Caldas, gravado em 1954.

Um comentário:

  1. Sr. Padre!Tenho uma foto-relíquia boa, pra melhor ilustrares essas lembranças sobre Pedro Caetano, Marlene, Ceu da Boca e Coisas Nossas na Serie Carnavalesca da Sala Funarte...faz contato no meu mail que te envio...0k?

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